Problemas e soluções para criação de DIs

José Eloy dos Santos Cardoso*
A descoberta de áreas adequadas para a construção de distritos industriais (DIs) aptos a receber empresas não é uma tarefa tão fácil como possa parecer. Designado para essa importante missão, decidimos de comum acordo começar o trabalho de criação de distritos industriais pelo Sul do Estado.
As razões eram que, muito antes de São Paulo desenvolver muito as cidades do interior e de criar nelas condições de receber empresas novas ou antigas ou expansões daquelas situadas no ABC paulista, a escolha do Sul mineiro para começar nosso primeiro grande trabalho foi simplesmente estratégica para aquele momento. Minas estava saindo na frente.
Decidimos começar por Itajubá. Ela é uma importante cidade do Sul de Minas e junto com o Indi, em regime de “joint ventures”, estava já implantando a Helibrás, que, entretanto, só existia no papel e ainda não tinha um lugar certo onde implantaria a primeira indústria de helicópteros da América Latina.
A outra empresa associada a esse programa mineiro era a francesa Aerospatiale, do brigadeiro Jacques Miterrand e equipe. Depois de implantada e já funcionando, a Helibrás possuía no ano de 2009, 300 empregados diretos e 3.000 indiretos. Mas construir a empresa foi uma autêntica novela.
Para construir um distrito industrial, depois de se estudar a cidade onde a gente visitaria para esse fim, primeiramente, obtinha-se um mapa com curvas de nível necessárias para se ter noção da altimetria municipal. Essa providência era para evitar perder tempo procurando e verificando uma região inapropriada.
Em Itajubá, depois de examinar várias áreas, o grupo técnico decidiu que a melhor opção seria justamente onde existia o chamado aeroporto local. Chamar essa área ou campo de pouso de aeroporto era simplesmente inapropriado. O problema era que o aeroporto pertencia ao Ministério da Aeronáutica. Bem público nenhum pode ser utilizado ou modificado sem o consentimento de seu dono que são os governos da União, do Estado ou dos municípios.
Em todos os estudos de localização, produzia-se uma pasta com as diversas alternativas e a alternativa mais indicada seria onde, possivelmente, poderia ser erguido o distrito industrial. O prefeito de Itajubá da época era o médico Rosemburgo Romano. Ele, no entendimento dos ex-técnicos que trabalharam na implantação de distritos industriais, foi um dos mais importantes trabalhadores incansáveis pelo desenvolvimento econômico do município.
Entretanto, sem maiores preocupações, ele recebeu o trabalho da equipe da CDI e, imediatamente, já colocou as máquinas da prefeitura para fazer a preparação do terreno. Com as denúncias de pessoas bem intencionadas ou não, o ministro da Aeronáutica da época mandou alguns oficiais a Itajubá para prender o prefeito. A razão era que ele mandou iniciar obras em terrenos pertencentes ao Ministério da Aeronáutica. Depois dos transtornos que ficaram até famosos, a prefeitura resolveu de comum acordo com o ministro, construir nas imediações do município outro campo de pouso, ou aeroporto, em substituição ao local onde a Helibrás construiria sua fábrica.
A construção da Helibrás também contou com a participação da CDI. Como sócia participante, foram feitas as licitações de praxe e, além da terraplanagem necessária, a CDI também participou das montagens das estruturas que abrigariam os galpões. O que serviu na época até de piadas entre os técnicos foi o fato da ameaça de prisão do prefeito.
Além de Itajubá, a equipe técnica do governo também visitou e produziu as mesmas documentações para Extrema, Pouso Alegre, Santa Rita do Sapucaí, Eloi Mendes e Três Pontas. Paulo Haddad, economista, ex-ministro e professor fala sempre que, para um município mais facilmente crescer e se desenvolver a população tem que ter dentro de si um firme desejo de ir para a frente em termos econômicos. É o que ele chama de “endogenia”. Seguindo esses conselhos, os municípios mineiros do Sul escolhidos para se implantar um DI tinham justamente esses predicados.
No governo Rondon Pacheco a CDI inaugurou os distritos industriais novos ou expansões em Uberaba, Uberlândia, Montes Claros, Pirapora, Sete Lagoas e Betim, onde hoje está situada a Fiat Automóveis e sua fábrica de motores, a FMB. As áreas industriais construídas ou equipadas pela CDI eram, de certo modo, até fáceis de serem comercializadas porque possuíam infraestruturas completas.
Entretanto, mesmo nesses municípios polo, a CDI teve que executar algumas obras complementares como serviços de água e esgotos, colocação de meio-fio, aprimoramentos no sistema de energia elétrica, etc. No governo Rondon foram implantados 479 projetos industriais de médio e grande portes no Estado. Realmente, nas décadas 70/80 o Produto Interno Bruto (PIB) mineiro teve uma taxa de crescimento médio da ordem de 16,4% que perduraria até 1977.
Foi uma pena que Silviano Cançado Azevedo, antes de sua morte, não tivesse produzido uma história do crescimento mineiro durante sua gestão na presidência da CDI. O governador Aureliano Chaves não parava de dizer que os três órgãos formados pelo Indi, o BDMG e a CDI eram o “tripé do desenvolvimento de Minas”.
Ele foi uma das mais importantes lideranças pelo desenvolvimento mineiro e, pelo seu profícuo trabalho, foi alguém que seguiu fielmente um dos conselhos de seu pai: “Servir à coletividade é mais importante do que servir a uma empresa só’. Foi incansável defensor da engenharia, mas, mais do que tudo isso, um lutador durante toda sua vida pelo crescimento e desenvolvimento da economia mineira. Minas Gerais vai ficar devendo para sempre a ele todo seu trabalho à frente da extinta Companhia de Distritos Industriais de Minas Gerais – CDI-MG. Que Deus tome conta de sua alma.
*Economista, professor titular da PUC-Minas e jornalista
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