Opinião

Proposta de transformação: um capitalismo consciente (II)

Proposta de transformação: um capitalismo consciente (II)

Nair Costa Muls*

Voltando ao Encontro #JuntosPelasEmpresasdeMinas, promovido pelo DIÁRIO DO COMÉRCIO em parceria com organismos ligados ao Movimento Capitalismo Consciente, nos dias 19 e 20 de maio, queremos hoje destacar os caminhos apontados para a efetivação das transformações sugeridas.

Se realmente se efetivarem as ações conjuntas programadas, alcançaremos, em Minas, um novo patamar na forma de produção e de condução dos negócios. Vamos torcer!…
Segundo Francine Póvoa, o desafio maior para a implementação de mudanças para ajustar a relação entre o Capital e o Trabalho é o desenvolvimento não só da competência profissional, mas também da competência socioemocional de todos os envolvidos no processo produtivo e empresarial: desde os acionistas e dirigentes até os colaboradores e trabalhadores, passando pelos stakeholders e pelas comunidades onde os negócios estão inseridos.

Para isso, assegurar a ética, desenvolver empatias, respeito e compaixão, lideranças conscientes e firmes, criar um vínculo estreito entre todos esses agentes e assegurar, ao mesmo tempo, um pragmatismo eficiente, são propósitos essenciais.

Seis ações foram consideradas fundamentais pelos painelistas:

1. Estreitamento da relação entre a empresa e a comunidade onde está inserida; em primeiro lugar, porque a empresa, no desempenho de seu papel econômico e social, tem que conhecer a comunidade, se integrar a ela e respeitar e ajudar a desenvolver seu projeto de desenvolvimento local e ou regional, buscando sustentabilidade através da implantação integrada dos ODS propostos pelas Nações Unidas, na mais completa e eficiente parceria, em todas as etapas do processo;

2. Recuperação e preservação da natureza, através da implementação dos ODS em todo e qualquer setor da atividade econômica: produção de bens, agricultura, mineração, comércio e serviços, reconhecendo que o sucesso do negócio ─ dos próprios donos das empresas assim como de cada uma das pessoas, colaboradores e consumidores ─ depende da preservação da natureza;

3. Dar à educação o papel fundamental que ela tem no processo de construção de uma sociedade justa e desenvolvida;

4. Reconhecimento do papel da pesquisa e da produção de conhecimento científico para o crescimento e desenvolvimento da economia e da sociedade e, consequentemente, da articulação e integração necessárias entre universidade & empresa;

5. Reconhecimento do papel fundamental do Estado e do setor público, seja através dos organismos ligados ao desenvolvimento econômico, ao financiamento e planejamento da economia (BDMG, Indi, Prodemge e outros), seja através das universidades e instituições ligadas ao estudo e compreensão da realidade em suas diferentes áreas e processos, à formação profissional, à pesquisa e à produção de conhecimento, capacitados e preparados para levar o conhecimento científico ao mundo dos negócios, ao processo produtivo e aos seus produtos, ao comércio e ao setor de serviços, ou seja, contribuindo para o bem-estar da sociedade e o crescimento de uma economia, justa e soberana, juntamente com as grandes, médias e pequenas empresas;

6. Atenção especial a ser dada às micro, pequenas e médias empresas, responsáveis por grande parte dos negócios, mas sofrendo mais intensamente com a burocracia governamental, com as dificuldades de acesso ao crédito e, em grande parte, com baixo nível de qualificação, embora ocupe um lugar importante na geração de grande parte da mão de obra ocupada. Um caminho, entre outros: o Fundo de Ajuda às Micro e Pequenas Empresas, iniciativa do Movimento Capitalismo Consciente, o Brain (da Algar), que oferece modelos de negócios digitais para as pequenas e médias empresas, ou ainda os inúmeros programas da ArcelorMittal.

Para implementar essas ações, posicionamentos claros foram ajustados, visando uma mudança real no capitalismo de hoje: em primeiro lugar, torna-se imprescindível a necessidade de cooperação, articulação e aliança entre todos os setores, empresas, entidades de classe, universidade, Estado/governos; em segundo, o reconhecimento da importância do Estado como agente indutor e responsável pela orquestração dos propósitos estabelecidos e dos recursos necessários, inclusive pela melhor gerência do sistema estatal: desburocratização, sistema adequado de cobrança de taxas e impostos e estabelecimento do marco legal para essa articulação, aí se incluindo a defesa da propriedade intelectual dos produtos do conhecimento científico; em terceiro lugar, a urgência de um Plano Nacional de desenvolvimento e de um planejamento econômico para o Estado, atentando-se para investimentos na educação, na saúde, na segurança, na produção de conhecimento e na tecnologia.

Todas essas ações supõem uma mudança cultural, uma quebra de paradigmas e aí se destaca a importância das lideranças das empresas líderes da cadeia produtiva e de suas diferentes entidades de classe.

Reconhecendo-se o agravamento da crise com a pandemia instalada pelo Covid-19, que provocou uma total desorganização da vida social e da economia, reconhecendo-se ainda que esse desastre não foi por acaso, mas resultado de um modo de produção que não respeitou nem a vida nem a natureza, pois “somos aquilo que construímos”, como lembrou o dr. José Augusto, diretor da Unimed).

Concluiu-se que há algo a aprender e a mudar na nossa forma de explorar o mundo através do processo criador de bens e serviços e que certas mudanças já estão a caminho. Resta saber como bem aproveitá-las, tornando claros os legados conquistados nas ricas discussões do Encontro por um Capitalismo Consciente, que serão discutidos na III Parte desse artigo.

*Doutora em Sociologia, professora aposentada a UFMG/Fafich

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