Quando o ego atrapalha o empreender

Se o sonho de chegar ao topo dependesse somente do amor próprio de alguns empreendedores, certamente eles já teriam alcançado os patamares mais altos no mundo dos negócios. Mas felizmente (ou infelizmente, depende do ponto de vista) não é bem assim que tudo funciona: no empreendedorismo, para vencer, é preciso muito mais do que brilhar (ou queimar) na fogueira das vaidades.
Uma pesquisa realizada pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e pelo Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços em 2018 mostrou que cerca de 30% das startups fecharam as portas em um ano. O levantamento foi realizado com empresas participantes do programa Inovativa Brasil, do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, que promove ações de assistência e capacitação. Segundo elas, o motivo para o fechamento foram a dificuldade de acesso a capital (40%), obstáculos para entrar no mercado (16%) e divergências entre os sócios (12%).
Em minha trajetória como acelerador de novas empresas, já analisei mais de mil delas e cansei de ver negócios promissores morrendo na praia, antes mesmo de ter o primeiro resultado. Isso acontece por pura falta de entendimento entre os sócios, que chegam a disputar cargos que ainda não fazem sentido, como CEO, CFO, etc. São disputas que não levam ninguém a lugar nenhum, muito pelo contrário; demonstram a fragilidade emocional de pessoas que não tem preparo para tocar adiante um negócio, com todas as pressões que ele envolve.
Sem modelo de negócios estratégico, sem receita, sem valuation, mas com muita disposição para mandar imprimir em alto relevo um cartão de visitas com um cargo vazio.
Obviamente, isso tem um preço. Existem muitos fundos no Brasil dispostos a realizar aportes em empresas interessantes, mas eles desejam ver resultados, frutos concretos antes de dar um passo para investir. Ao se depararem com emprendedores imaturos, que nitidamente colocam seu orgulho e metas pessoais à frente do que realmente importa para o negócio, fica fácil escolher onde não colocar dinheiro. É por aí que a peneira começa.
Os investidores já perceberam a gravidade deste perfil e compreendem que muito deste comportamento acontece justamente para impressioná-los. Ocorre que o efeito é o contrário: a sensação de satisfação pessoal, de orgulho e ego inflados servem apenas para aliviar uma expectativa de curto prazo destes empresários que buscam um lugar ao sol, repelindo os fundos que poderiam fazer a diferença em uma aceleração.
Por mais criativo, versátil e flexível que seja o empreendedor, é fundamental que ele seja capaz de se ater ao planejamento da empresa, ter metas definidas, buscar um modelo de negócios que seja viável e, principalmente, extirpar a vaidade. Eu, particularmente, enxergo muito valor em histórias de empreendedores que tiveram insucessos, afinal isso representa uma casca grossa bem-vinda no enfrentamento às adversidades em novas oportunidades que se abrem.
Ideias todo mundo tem. O que diferencia um empreendedor do outro é sua capacidade de execução e sua maturidade para lidar com diferentes linhas de pensamentos. Vale lembrar ainda que uma ideia sem capacidade de execução é apenas um sonho, e não tem valor de mercado. Se a sua ideia ainda não saiu do papel, provavelmente você precisa da ajuda de outras mentes para fazê-la acontecer, e um ego inflado só vai atrapalhar o processo.
Digo sempre que é fundamental aos empreendedores manter o foco na empresa como um todo. Já vi muitas mentes brilhantes desistirem porque não conseguem se desprender de certas crenças, como a de achar que suas convicções são melhores que as dos outros sócios. É preciso ceder, ponderar e principalmente compreender o que é melhor para o negócio.
Ser empreendedor é deixar seu orgulho de lado, colocar a mão na massa, estudar e fazer o que precisa ser feito – não interessa qual é a tarefa. Sendo o CEO, o tio do cafezinho ou os dois, a empresa é sua e o sucesso também.
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