Opinião

Razão & sustentabilidade

Razão & sustentabilidade

Sidemberg Rodrigues*

Proposto para substituir o antigo modelo mental de desenvolvimento sustentável conhecido como o Triple Bottom Line (tripés econômico, ambiental e social) a Sustentabilidade em Seis Dimensões inspirou inegáveis ganhos em termos de expansão de consciência nas instituições, propondo uma visão tão filosófica quanto pragmática para os três setores da sociedade.

Se alguns vieses da vida ficavam invisíveis no antigo modelo, com as dimensões Econômica, Ambiental, Social, Política, Cultural e Espiritual interagindo – e se afetando – a subjetividade ganhou maior concretude, afinal, a vida tem muito mais ângulos que a restritiva visão do antigo modelo sugeria. Isso facilitou intervenções mais efetivas dentro e fora das empresas e a mensuração dos resultados das ações empreendidas. Na esfera Comercial e Social, com a decantação de diversas abordagens para algo que parecia um todo indivisível e impenetrável, houve ganhos com avanços impagáveis na derivação de métodos eficazes da gestão das relações com o ‘cliente’ até na responsabilidade corporativa (interna e externa).

Na dimensão Econômica, não apenas a parte da viabilidade financeira evidenciou sua importância para a qualidade de vida, já que tudo precisa de investimento, como também se explicitou a necessidade de metodologias, hierarquias e tecnologias para o desenvolvimento econômico funcionar a contento. Na dimensão Ambiental, além de desmatamento, equacionamento do lixo e resíduos em geral, questões da água e de emissões atmosféricas, entre outros, incluiu-se a noção de ‘espacialidade urbana’, economia circular e tecnologias limpas. Com isso, a perspectiva logística passou a figurar nas análises, assim como a ideia de ‘território geográfico e social’ para se gerir as atuações.

 Isso também arrefeceu extremismos no debate entre as duas grandes ‘Ecos’: a ecologia e a economia. A dimensão Cultural expandiu a importância antropológica das tradições, referências, identidade e raízes, incluindo o ‘pertencimento’ dos empregados (clima organizacional) e dos povos. A dimensão Espiritual resgatou o foco no sujeito, na integridade  e no autoconhecimento para o bem estar do ‘uno’ diante do ‘múltiplo’ e da ‘totalidade’ (volume x dinamismo x imediatismo x diversidade contemporâneos). Esta dimensão também destacou a integridade, o holismo, o autoconhecimento e a compaixão para o equilíbrio de qualquer visão que se pretenda sustentável, preconizando o aprimoramento – contínuo – do ‘senso moral’.

A dimensão Política, muito mais que focar em aspectos político-partidários que influenciam a vida em sociedade e que por vezes a destroem em nome do individualismo, da corrupção e da ganância, passou a sublinhar a força das relações e representações em geral (líderes sindicais, setoriais, comunitários, etc). Expandiu-se o conceito de política para acepções mais amplas, até porque ela também existe em todas as instituições, influenciando ações, positiva e negativamente.

Assim, ficou mais nítido que tudo pode ter um viés de ‘influência relacional’ determinante e imprescindível para que exista maior equilíbrio de forças entre os fluxos decisórios. Afinal, tudo merece existir. Todos são importantes e algo só será realmente bom quando for bom para todos. O pensar coletivo continua a mola mestra do desenvolvimento sustentável, até porque não se enxerga fronteiras nas novas visões de negócio e de mundo. A força da razão, da inteligência e da sensibilidade regendo as gestões parece ter sido o melhor resgate do modelo 6D. Se é que ainda há espaço para uma  nova ‘fórmula civilizatória’, esta deve começar pelo melhor da sustentabilidade: sua sensibilidade com racionalidade.

*Conferencista, articulista e professor de Sustentabilidade, Gestão e Integridade em cursos MBA. Autor dos livros: Espiritual & Sustentável (sustentabilidade em 6 dimensões); Complementaridade (gestão sustentável) e Miséria Móvel (crítica social). Contato: [email protected]

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