Recortes pós-eleição

“Ninguém sabe Minas” (Carlos Drummond de Andrade)
1) O resultado da eleição presidencial deste ano tornou mais arraigada a crença dominante no meio político de que um candidato só consegue alcançar a Presidência do País se obtiver vitória nas urnas em Minas Gerais. Contando, no 2° turno, com o apoio entusiástico do governador Romeu Zema, que havia declarado neutralidade na disputa do 1° turno, a campanha de Bolsonaro esperava reverter a vantagem alcançada pelo adversário por aqui. Afinal de contas, Zema reelegera-se com larga margem de votos já na primeira rodada da competição e se comprometeu a montar maciço apoio com arregimentação da maioria dos prefeitos. O esforço despendido resultou em alguma redução de sufrágios para o candidato da “Frente Ampla”, mas não foi de molde a garantir o almejado trinfo bolsonarista. Oportuno anotar, a propósito, circunstância que passou um tanto despercebida no noticiário sobre a campanha eleitoral. O atual vice-governador, Paulo Brant, ao contrário de Zema, hipotecou solidariedade a Lula. Considerado Estado-Sintaxe do Brasil, Minas Gerais guarda segredos de esfinge, desconcertando analistas que se propõem em decifrá-los. Carlos Drummond de Andrade disse, de certa feita, o seguinte: “ Ninguém sabe Minas. Só o mineiro sabe, mas não conta.” Isso aí…
2) A indicação feita pelo presidente Lula de seu vice, Geraldo Alckmin, para coordenar a equipe de transição de governo é reveladora do propósito do presidente eleito em compor um ministério com base nas forças políticas da chamada “Frente Ampla”. As especulações alusivas à escolha dos titulares das pastas ministeriais contemplam, da parte de diferentes observadores invariavelmente, a possibilidade da escolha de Simone Tebet para um dos cargos disponíveis. A senadora, sem sombra de dúvida, é estrela em ascensão, continua no firmamento político, desde memorável participação na CPI da Covid. O grupo de transição acha-se empenhado na tarefa de equacionar uma questão vital: encaixar no fluxo das despesas orçamentárias do exercício fiscal de 2023 recursos que cubram os dispêndios com bolsa família, salário mínimo, merenda escolar, farmácia popular e vacinas, entre outros benefícios sociais. No plano orçamentário elaborado pelo atual governo, nada consta a respeito desses itens, bem como de outras situações essenciais para que a economia volte a girar.
3) Designando o ministro Ciro Nogueira, Chefe da Casa Civil, para coordenar o grupo do atual governo no processo de transição administrativa e recepcionando o vice eleito Geraldo Alckmin, o presidente Jair Messias Bolsonaro ajudou a distencionar o ambiente político, de certo modo conturbada, fase pós-eleitoral. A opinião pública vê com alívio as articulações processadas, convencida da necessidade de que a paz e a harmonia prevaleçam de maneira a permitir o andamento normal das atividades comunitárias. A eleição apontou o rumo a seguir. Acatar o resultado é prova de bom senso, discernimento e maturidade democrática. A consciência cívica nacional e o exercício da cidadania repelem, com firmeza, as ações desagregadoras de grupelhos antidemocráticos que imaginam e possam, como já se disse, ganhar eleição em cabine de caminhão e não em cabine de votação.
4) A sociedade brasileira coloca-se na expectativa de que sejam devidamente identificados e punidos, com vigor da lei, os autores dos atentados perpetrados contra a democracia assim que anunciados os resultados do 2° turno. A orquestração dos atos ilegais ficou claramente evidenciada. O aparato logístico para que os perturbadores da ordem agissem estava montado desde a noite de domingo. As multas arbitradas para caminhoneiros que desafiaram a democracia não bastam. É imprescindível enquadrar também os autores atrás da boleia da criminosa operação.
Ouça a rádio de Minas