Opinião

Recuperação econômica de 2022: expectativa versus realizado

Recuperação econômica de 2022: expectativa versus realizado
Crédito: Marcello Casal Jr/ABr

Uma forma interessante de observar o comportamento da economia é observar a formação de expectativas. A medida em que o tempo passa, elas naturalmente convergem para o que acontece no mundo real. É possível acompanhar essa construção mediante consulta ao Relatório Focus, do Banco Central.

O Focus, divulgado toda segunda-feira, apresenta um resumo das expectativas de mercado coletadas junto a cerca de 140 instituições para variáveis macroeconômicas, tais como crescimento da economia, inflação, taxa de câmbio, entre outros. São consultados bancos, gestores de recursos, corretoras e consultorias.

Por exemplo, o relatório de 31/12/21 mostra um ajuste muito próximo entre expectativa e realização para as variáveis econômicas de 2021, uma vez que só falta o mês de dezembro para fechar o ano. Por outro lado, este relatório é o mais distante para a realização de 2022, e nele constava uma expectativa para a inflação pelo IPCA em 2022 de 5,03%, crescimento do PIB de 0,36% a.a. e taxa Selic em 11,5% a.a..

Com o passar do tempo, há revisão das estimativas e estas são incorporadas nos relatórios subsequentes. Neste sentido, a expectativa para inflação cresceu até o relatório de junho, atingindo o patamar de 8,89% esperado para o ano de 2022. Essa alta se deveu aos preços de commodities, combustíveis e energia, influência direta do conflito internacional entre Rússia e Ucrânia, diante do risco de uma crise de abastecimento. Soma-se a isto os problemas na desorganização de cadeias logísticas de suprimento no comércio internacional ainda derivados das políticas de isolamento.

Contudo, fatos recentes de menor expectativa de crescimento para os países desenvolvidos culminaram no que parece ser uma reversão da tendência de aumento de preços de commodities, que, somada a aprovação de lei que impõe um teto para o ICMS nos Estados, contribuíram para redução dos preços dos combustíveis e todos os impactos derivados, levando a uma deflação em julho, o que deve se repetir em agosto. Veja que o patamar de inflação acumulado nos últimos 12 meses (set/21 a ago/22) medido pelo IPCA-15 é de 9,6%, com um acumulado no ano (jan/22 a ago/22) de 5,02%. Naturalmente o que se espera é uma inflação bem menor nos últimos quatro meses do ano em comparação com os mesmos meses de 2021.

Por sua vez, a expectativa para crescimento vem se elevando durante o ano e passou de 0,36% para 2,1% a.a. entre os relatórios Focus de dezembro de 2021 e agosto de 2022. Os últimos dados oficiais apontam um crescimento do PIB de 1,2% no 2º trimestre de 2022 frente ao trimestre anterior, quarto resultado positivo seguido e acima das expectativas (o mercado apontava para uma alta trimestral de 0,9%). O aquecimento de serviços e indústria ficaram acima do esperado e estão contribuindo para a reversão das expectativas para cima.

A taxa Selic prevista para o fechamento do ano de 2022 está agora em 13,75% a.a., frente aos 11,5% do relatório do final de 2021. Vejam que Selic a 13,75% coincide com a realização atual desde a última reunião do Copom em agosto, o que significa que se espera que a tendência de alta se esgotou. Contudo, não há expectativa para redução ainda este ano.

Por fim, um bom resumo para o primeiro semestre de 2022 foi uma melhora nas expectativas durante os relatórios Focus frente ao observado até o meio do ano. O segundo semestre é ainda abalado por ser ano eleitoral e um cenário de juros elevados irá complicar o encaminhamento da dívida pública para 2023, seja quem for o escolhido no pleito. Por certo, os temas para 2023 irão mudar de inflação e desemprego para ajuste fiscal e estratégias de crescimento sustentáveis.

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