Refém do horror

“Dizei-me Vós, Senhor Deus, de é mentira ou verdade tanto horror perante os Céus?” (Interrogação de Castro Alves, ainda apropriada para os dias atuais)
A humanidade tornou-se refém do horror. Descrente, insensível, passiva, de certo modo conformada, contempla as calamidades engendradas pela ambição, injustiça, perversidade, egoísmo, corrupção, sem esboçar qualquer reação digna de nota às viciosas práticas iníquas, derivadas de políticas sociais e econômicas necessitadas de reformulações, causadoras de infortúnios e sofrimento em todo pedaço de chão deste formoso planeta azul. Tudo muito assustador. Silêncio sepulcral encobre hoje na mídia os sanguinolentos lances de crueldade da guerra na Síria. Amortecidos os impactos dos primeiros instantes do estúpido conflito na Ucrânia, que carrega no bojo potencialidades capazes de produzirem um armagedon. Os acontecimentos naquelas paragens sofridas assumiram ritmo quase banal, com dezenas de países direta ou indiretamente envolvidos e com a indústria de armamentos babando de contentamento com o sempre crescente volume de encomendas. Outras desancas bélicas de menor monta explodem aqui e ali sem atrair a atenção midiática.
Noutro front das batalhas pela sobrevivência, as desigualdades sociais crescem indecentemente, a pobreza extrema se alastra, o drama dos refugiados alveja milhões. Nas sarjetas das ruas proliferam “residências” abrigando famílias inteiras sem vestes, sem suprimentos, sem utensílios, sem esperanças, em caixas de papelão. Tem mais: milhões de seres humanos, além de não disporem de teto, não têm acesso a bens de consumo, a água potável, a rede de esgoto, a escolas. E por aí vai…
A degradação do meio ambiente é encarada como fato de somenos importância. Das grandes lideranças mundiais não se percebe nenhuma mobilização de forças capazes de acenar com uma reversão de tão funestas perspectivas, com o desfazimento de conjunturas tão aviltantes. As pandemias revelam carências, despreparos incompatíveis com pujança alcançada pelas realizações tecnológicas mais avançadas, estranhavelmente distanciadas da implantação de inciativas, projetos, empreendimentos voltados para o bem-estar humano em termos globais.
A ciência consegue colocar no espaço sideral veículos em condições de alcançar outros planetas, de lá trazendo informações consideradas importantes para definir a marcha futura da civilização, mas revela-se assustadoramente incapaz de implantar residências para quem não tem onde morar, distribuir alimentos para quem tem fome e garantir ensino e proteção sanitária para milhões de criaturas ao desabrigo desses bens essenciais. A indústria de armamentos acumula recordes de produção. O custo de porta-aviões bem equipados, dos muitos, de bandeiras diferentes, que singram initerruptamente os mares, preparados para intervenções em eventuais conflitos da conveniência geopolítica e econômica, é superior ao PIB (Produto Interno Bruto) da grande maioria das nações periféricas. O impacto dessas indesejáveis situações é de maneira a trazer a tempo presente uma exclamação famosa de Castro Alves, em outro contexto arrepiante do passado humano: “Dizei-me Vós, Senhor Deus, se é mentira ou verdade tanto horror perante os Céus?”.
Isso mesmo, a humanidade tornou-se refém do horror. A hora pede reflexão, meditação, preces, buscas que possam extrair das lições humanísticas e espirituais energias novas capazes de reconectarem o ser humano com sua essência. E lideranças mundiais aptas a conduzirem os habitantes deste planeta azul ao destino superior que lhes foi acenado no projeto da Criação.
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