Reforma ou primeiro ato?

Embora ainda falte o aval do Senado, a aprovação, depois de uma espera de pelo menos 30 anos, de uma proposta robusta de reforma tributária, está sendo festejada em Brasília, inclusive com um encontro de improváveis aliados no Palácio da Alvorada, todos anfitrionados pelo presidente Lula. Faz sentido e não cabem dúvidas a respeito, inclusive tendo em conta a fracassada mobilização nos últimos dias da oposição mais radical que, ao fim e ao cabo, conseguiu apenas explicitar sua própria fragilidade. Do ponto de vista prático, um dos sinais mais positivos veio das afirmações de que não se tratava de um voto político, destinado a um ou outro bloco, mas sim de tomar uma decisão, o que foi feito, que interessa a todo o País, independentemente de cores partidárias.
Do ponto de vista prático, ou técnico, será melhor, no entanto, jogar um pouco de água na fogueira. No entendimento elementar que de, apesar do longo tempo decorrido, estamos apenas no início de uma jornada que promete ser longa e fatalmente estará sujeita a tropeços. Ou a arranjos de conveniência, tão próprios dos círculos políticos e palacianos, que bem podem no final das contas produzir mais do mesmo. Tudo isso e mais o fato de já estar acertado que o prazo de transição para as mudanças mais importantes será longo, demasiadamente longo na avaliação de alguns analistas, o que quer dizer em linguagem de mais fácil compreensão que nada, ou muito pouco, acontecerá da noite para o dia.
Poderia ter sido melhor, deveria ser melhor, mais efetiva, a resposta aos desafios que estão colocados e que são conhecidos de longa data. Prevaleceu, pelo menos em parte, parece, o velho costume dos arranjos e da acomodação, como se ainda acreditassem ser possível fazer omelete sem quebrar os ovos.
Ou alguém pode acreditar, tranquilo, que as propostas agora apresentadas mereçam ser vistas como respostas robustas, definitivas, ao monstrengo em que se transformou o sistema tributário brasileiro, que consegue ser ao mesmo tempo um dos mais complexos e menos eficiente de todo o mundo?
Voltando às primeiras linhas desse comentário, vale acrescentar que os festejos em Brasília ficarão mais compreensíveis se creditados à vitória política, demonstração prática de que o Brasil pode não estar tão dividido como indicam, ou indicavam, as aparências. A vitória da quinta-feira significa também acrescentar uma pitada de racionalidade ao ambiente político, o que é muito bom. Inclusive para abrir espaços em que questões como a reforma tributária e, na sequência, a política e a do Estado possam ser conduzidas não pela vontade de grupos e sim para atender ao conjunto dos brasileiros.
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