Opinião

Segredos para a longevidade

Segredos para a longevidade
Crédito: Freepik

O século XX foi considerado o centenário sem precedente do crescimento populacional. Propiciou a construção de cidades e o desenvolvimento de uma sociedade complexa, que é um marco da nossa civilização. Já no século XXI a população do planeta experimenta o fenômeno do envelhecimento. De 2000 a 2016 observou-se um aumento de 5,5 anos na expectativa de vida no mundo inteiro. Estima-se que essa tendência fará que em 2030 seja 1,4 bilhão, e em 2050 no mínimo dois bilhões de pessoas acima de sessenta anos de idade.

Mas o que é o envelhecimento? Por que envelhecemos? Quais os segredos para se manter saudável e longevo? Essas perguntas inquietam nossa mente, principalmente quando ficamos doentes ou tememos deixar sem nossa proteção aqueles que amamos.

Nós envelhecemos principalmente porque nossas células vão perdendo as habilidades de se livrar do lixo biológico acumulado em seu interior. Também, certos componentes das células que funcionam como sua usina geradora de energia e vida (as mitocôndrias)passam a não funcionar direito. Assim, o corpo não consegue produzir componentes novos com quantidade, qualidade e função como antes. Esse processo de renovação conduzido pelo corpo é chamado de autofagia. Como ela funciona pode trazer tantas consequências para o entendimento do processo de

senescência, que valeu ao cientista Yoshinori Ohsumi o prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina em 2016. Como tudo que ocorre no metabolismo é regulado por genes, sabemos que eles podem estar mais ou menos ativos e serem influenciados. Conhecer estes vários condicionantes pode ser um segredo valioso. Alguns fatores sabidamente estimulam a renovação celular pelo método da autofagia. Eles são: o jejum intermitente, a restrição calórica, a atividade física e o número de horas adequado de sono reparador. Assim, sabiamente, podemos sim ajudar nosso corpo a prolongar sua existência saudável.

As doenças que mais sofrerão impacto com as novas descobertas são o câncer, a obesidade, o tratamento das infecções, as doenças inflamatórias, neurodegenerativas, metabólicas e cardiovasculares. Justamente neste grupo estão as que mais matam: cardiovasculares e o câncer.

É interessante notar o assunto jejum e seus benefícios aparecerem de volta em pesquisas recentes sobre a longevidade. A descoberta de sinalizadores silenciosos da longevidade chamados sirtuínas (do inglês silent information regulator) despertou a esperança de ter sido encontrado o elo perdido que controla o envelhecimento. ´Pois ela age em todos os órgãos. Assim, faz sim sentido seguir a bíblica, ou toraica, ou alcorânica, ou agora atual científica recomendação de jejuar para otimizar o estado de Saúde. Há evidência científica suficiente para dizer que o jejum ajuda a controlar o peso corporal, os níveis e a sensibilidade à insulina, a pressão arterial, as inflamações, a domar o apetite, e a diminuir o colesterol. É importante salientar que jejuar não é passar fome, a hidratação é preservada, há diversas técnicas que precisam ser bem conhecidas, e que precisa seguir também recomendações médicas específicas. Por exemplo, ainda não está recomendado de forma inequívoca para pacientes diabéticos dependentes de insulina ou não, que perfazem 10% da população. Eles só podem realizá-lo se indicado ou sob supervisão de seus médicos, pois não faz parte do protocolo habitual de recomendações. Em relação à restrição calórica, isto é, à dieta, é comum ver que as pessoas não conseguem alimentar o seu corpo com as necessidades alimentares pertinentes. O consumo além do que se precisa, sem os nutrientes adequados, em uma frequência e horários errados contribuem para o surgimento da obesidade. Ela por sua vez está ligada ao surgimento do diabetes, doenças cardíacas, acidente vascular encefálico (derrame) e alguns tipos de câncer.

Por sua vez, a atividade física queima a gordura do músculo esquelético e promove uma miríade de adaptações metabólicas que resultam em benefícios para todos os sistemas corporais, seja cardiovascular, neurológico e outros. A recomendação é que se deve caminhar no mínimo um quilômetro diariamente. Pessoas que têm vida ativa apresentam um risco 22% diminuído de mortalidade em comparação aos sedentários. Quem se exercita tem ainda melhor qualidade de sono, menor ritmo de perda dos neurônios em decorrência da idade, e por isso melhor performance cognitiva. Após a atividade física, o corpo deve receber imediatamente de recompensa a ingestão de proteínas. Elas serão usadas para nutrir suas necessidades dos gastos efetuados, e melhor ainda, ter os elementos para construir um pouco mais de músculo, em preparo para a próxima demanda, pois ele age inteligentemente. Para cada idade as escolhas certas devem ser feitas e orientadas pelo seu médico ou nutricionista.

Já o contexto do sono é uma interação que envolve múltiplos fatores. Depressão, autoconhecimento, otimismo e interação social contribuem para sua boa ou má qualidade. Há também fatores como genética, uso de medicamentos, comportamentais como uso de drogas, ou outros que são difíceis de controlar. Cultivar pensamentos positivos, fazer dieta mental, semear a paz e vinculações positivas ajudam muito. A recomendação para um adulto saudável é dormir entre 7 e 9 horas por noite, e oferecer 8 horas para os acima de 65 anos, conforme o corpo pedir.

Os laços emocionais possuem um diálogo íntimo com cada uma de nossas células. Estar conectado com outras pessoas é uma experiência humana imprescindível. Além disso, os sentimentos e pensamentos que nutrimos contribuem para a vontade de viver de nossas células! Isto faz toda diferença. Um estudo retrospectivo da vida de quase uma centena de famosos psicólogos conhecidos, já falecidos, demonstrou que aqueles que se expressavam com palavras de positividade viveram mais tempo. Estar infeliz é uma ameaça à vida. A migração forçada de milhões de pessoas devido a uma guerra ou viver em campos de refugiados faz a prevalência de doenças físicas, mentais e morte neste grupo serem mais elevadas. Homens e mulheres casados entre 65 e 85 anos vivem cerca de 2,2 anos e 1,5 ano a mais, em comparação aos solteiros. Trabalhar muito não afeta a longevidade se há amor e satisfação imediata pelo que se faz. Por sua vez, o trabalho forçado, sem prazer conduz ao adoecimento e morte precoce.

Toda a sociedade se beneficia de um indivíduo saudável e feliz, pois é um cidadão mais produtivo, capaz de participar da sociedade com equilíbrio e satisfação. O valor da felicidade e sua conectividade com a longevidade é bem íntimo de todos nós. Mantenhamos acesos nosso entusiasmo, nossa vocação, nosso “ikigai” (missão) para ao menos nos igualarmos aos milhares de centenários da ilha de Okinawa (no Japão) que assim vivem e ensinam. Não é sem causa o grande sucesso musical “Longevidade” de Felipe Araújo que canta “pra gente viver se amando em paz”.

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