Sem conserto à vista
Cesar Vanucci*
“Tempos mais esquisitos, assim de propostas novidadeiras.” (Antônio Luiz da Costa, educador)
Com tanta coisa desconcertante, fora do esquadro, que anda pintando no pedaço, resolvi abrir nossa conversa de hoje resgatando expressão que esteve bastante em voga no passado. Era empregada amiúde como forma de expressar surpresa diante dos inesperados da vida: – Êta mundo velho de guerra sem porteira!
E, ao que parece, sem conserto à vista.
A marcha dos desesperados. Uai! O que aconteceu? No que acabou dando mesmo a tal “marcha dos desesperados centro-americanos”, apontada como séria “ameaça à paz estadunidense”, a ponto de o governo até mobilizar tropas para contê-la? Por que carga d’água, depois de tão estrondosa cobertura televisiva, não mais se ouve falar bulhufas a respeito? A explicação para esse silêncio de tumba etrusca que se abateu sobre a candente questão provavelmente esteja contida no singelo relato da sequência.
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No meio de papo descontraído com dileto amigo, residente nos Estados Unidos, pessoa com atilada percepção das coisas deste mundo de Deus onde o tinhoso costuma arrendar espaço pra malvadezas, deparo-me com estonteante revelação. A “marcha dos desesperados”, que teria, semanas atrás, arrebanhado legiões de salvadorenhos, hondurenhos e guatemaltecos na direção dos Estados Unidos, à cata de condições melhores de vida, não passou, com o perdão da má palavra, de uma tremenda (vá lá)… “fake news”. Baita invencionice, estimulada (por quem será mesmo?) pela Casa Branca com fitos claramente eleitoreiros. O “risco” de uma invasão maciça de gente sem eira nem beira, às vésperas do recente pleito realizado no país de Donald Trump, configurou, no duro da batatolina, uma aprontação retórica para atrair voto e reduzir impactos da presumível derrota republicana nas urnas.
Atônito com a inesperada informação que me foi passada, propagada vastamente, ao que fiquei sabendo, nos veículos de comunicação americanos não comprometidos com as amolecadas estratégias da propaganda oficial, indaguei de meu interlocutor como explicar, então, as profusas imagens dos caminhantes despejadas em fotos e vídeos pelas agências de notícias mundo afora. O esclarecimento foi dado de pronto: as cenas retratadas foram colhidas em outros diferentes momentos, pontuando situações que ocorrem, com certa frequência, nas imediações da fronteira dos Estados Unidos com o México. Por sinal, muitas autoridades americanas compareceram a público para denunciar o embuste. A farsa praticamente se desfez, assim que encerrada a campanha eleitoral. O bombardeio midiático – como acentua este meu amigo – praticamente cessou. “Êta nóis!”
O casamento de Konda. Akihiko Konda, 35 anos, professor, morador de Tóquio, montou dispendiosa cerimônia festiva, nos devidos trinques, mode que celebrar seu matrimônio. O lance inusitado na história correu por conta da esposa do dito cujo. Não se trata de uma parceira enquadrada nos padrões tradicionais. A “esposa” Hatsune Miku, por quem o cara confessa haver se apaixonado perdidamente ao primeiro olhar, há mais de uma década sua “verdadeira alma gêmea”, é uma cantora projetada a partir daquilo que se convencionou denominar “realidade virtual”. Não passa de um holograma. Noutras palavras, uma figura de desenho animado. Tem 16 anos, olhos arregalados e longo rabo de cavalo da cor azul. A “jovem” se movimenta e fala com a ajuda de um dispositivo de mesa adquirido por 11 mil e 200 reais. Konda considera-se o homem mais feliz do planeta, conforme depoimento aos jornalistas. A amada “companheira-holograma” acorda-o todas as manhãs, despedindo-se com carinhosas palavras quando ele sai de casa para trabalhar. De habitual alegre, na convivência com os amigos, o japonês fica, todavia, entristecido quando se reporta à formal recusa da mãe e de parentes chegados em compartilharem com ele as deleitosas emoções das badaladas núpcias matrimoniais.
Brasileiros divididos. E, no final do papo de hoje, aqui vem “mais uma prova”, documentada em interessantíssima charge do Adão Iturrusgnai, na “Folha”, da propalada e deplorada “divisão dos brasileiros”: “50% das pessoas usam calças jeans rasgadas pelo uso; os outros 50% compram jeans rasgados de fábrica.”.
* Jornalista ([email protected])
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