Opinião

Sustentabilidade pessoal

Sustentabilidade pessoal

A recompensa promete fortalecimento emocional, paz, liberdade e satisfação de existir, a despeito da certeza da finitude. Muitos optam por esquivar-se dessa árdua, mas rica expedição, buscando a anestesia da transcendência que não deixa de ser uma curiosa invenção de sentido existencial, através da crença na vida eterna, alardeada pelas religiões (dimensão Cultural). Muitas, inclusive, pagas por doações pontuais ou dízimos. São financiadas como a psicanálise. Como entrega religiosa, tem-se a salvação (só confirmada após a morte). Ou a fidelidade a si mesmo enquanto se vive – proposta da psicanálise. A diferença é que se pode parar de pagar a última em caso de propaganda enganosa ou insatisfação. Com o ‘passaporte para o paraíso’, porém, ninguém voltou para confirmar a eficácia do investimento.

As terapias não existem para resolver o post mortem, mas para que as pessoas não morram em vida por deixar de viver. Também porque há medo e culpa no caminho, balizando escolhas. Ou as impedindo! Entre o pouso e a decolagem, a plenitude parece estar na realização sexual e no desejo de ser grande. Mas, as decisões são pessoais. Há os que tentam o autoconhecimento em práticas meditativas, oferecidas por certas religiões e terapias alternativas. Bem da verdade, o autoconhecimento da dimensão Espiritual trata mesmo é da ‘vida concreta’. Os ideais da transcendência, se necessários, ficam como um bônus. Ou são traduzidos na sensação de bem estar e dever moral cumprido gerada pela compaixão (resgate das raízes emocionais da responsabilidade).

Por exemplo, com a prática deliberada da solidariedade pode-se ter sensações positivas. Antes disso, aprimoremos um ‘mandamento’: “ame a ti mesmo para poder amar ao próximo.” Por que toda essa reflexão no contexto do desenvolvimento sustentável? Porque alguém resolvido e equilibrado faz a diferença sob qualquer ideologia. Já cantava Charlie Brown Jr: “O homem quando está em paz não quer guerra com ninguém”. Nas instituições, acotovelam-se místicos belicosos, mentes justiceiras confundindo-se com a lei, beatos hábeis no tráfico de influências, papa-hóstias assediadores e carolas maledicentes; assim como evangélicos gananciosos, umbandistas delirantes, espíritas narcisistas e vingativos simpatizantes de credos orientais. Santos nos templos; infernais na rotina. E a melhor prova dessa incoerência começa na família.

Pior: quando há gestores assim, como se a espiritualidade só existisse a tempo dos ritos, transferindo suas dores emocionais às equipes. É possível ser religioso sem ser espiritual e vice-versa. A crença no divino pode colorir a realidade, mas o orgulho de Deus parece maior com atitudes autênticas no cotidiano. Nada é simples, mas errar é humano e o perdão possível – a depender do “pecado” e sua reincidência. A salvação – na Terra e no céu – residiria no honesto amadurecimento do senso moral com a lealdade a si mesmo? Sintonizando-se consigo, com o outro e o meio reduzem-se conflitos exteriores e interiores (nossos piores demônios).

Tendo a ética como guia e em mente a compaixão e o holismo – e, através do autoconhecimento, buscar saber, ao menos, “quem não somos” e “o que não queremos” – a autorresponsabilidade e o equilíbrio contribuirão para que nos tornemos elos funcionais em qualquer rede. Capazes de harmonizar lares, inspirar templos e encorajar, em qualquer ambiência, a busca de cada um em resolver-se, tornando-se responsável por sua própria sustentabilidade.

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