Todos têm razão

“Eu não conheço a fórmula do sucesso, a do fracasso é contentar a todos.” (John Kennedy)
Não se sabe precisar bem se a historieta, com seu saboroso acento folclórico, é real ou inventada. No ambiente empertigado da política, conferem-lhe status privilegiado. Garantem-lhe a veracidade com base em origem ilustre. O protagonista, assegura-se, é um dos grandes nomes da vida mineira. Em algumas rodas, o personagem é um. Em outras, é pessoa diferente. José Maria Alkimim, Olegário Maciel, Gustavo Capanema, Bias Fortes, todos frequentam a cena, como acontece em muitos casos, na condição de protagonista. A falta de definição do verdadeiro personagem em nada empobrece o relato. Aceita-se pacificamente que o episodio ocorreu ou deveria ter ocorrido com um político mineiro de expressão.
Atrás disso está o consagrador reconhecimento de que o centro do pensamento político brasileiro situa-se mesmo nas latitudes das Geraes. Onde as histórias, reais ou inventadas, gozam da mesma respeitabilidade dos ditados chineses. Reais ou inventados.
Caso é que correligionário do interior procurou nosso personagem no gabinete de trabalho, criticando ato considerado prejudicial às hostes partidárias e que provocou ambiente tenso e de visível mal-estar na comunidade. O visitante, ao final da exposição, atentamente acompanhada, arrancou do dirigente superior, à guisa de tácito pedido de desculpas, uma irretorquível manifestação: – Você tem razão!
Instantes depois, entra no gabinete outro prócer do interior, adversário do primeiro, que a propósito do mesmíssimo fato, ao final de espumante peroração, extrai conclusão diametralmente oposta: o que transcorreu foi de molde a prejudicar gravemente o grupo sob sua chefia. A informação era completada com uma pequena intriga. O ocorrido deixava o dirigente maior em situação incômoda, já que indisfarçável o caráter de perseguição política aos adversários. O que vinha contrariar sua alegada condição de imparcialidade, de magistrado impoluto à frente dos negócios da administração. O dirigente nem titubeou: – Você está com a razão!
Depois que os visitantes partiram, um assessor, intrigado com o que acabara de presenciar, resolveu colocar tudo em pratos limpos. Fez ver ao líder maior que sua reação diante dos dois relatos tinha sido contraditória. Arrematou a avaliação indagando qual, afinal de contas, o seu pensamento a respeito do controvertido assunto. O dirigente libertou-se de um pigarro, fixou impávido, colosso, o olhar do colaborador e deixou cair:
– E não é que você está coberto de razão?
Nada mais disse, nem foi perguntado.
• Jô Soares
Gênio da raça. Poucos como eles, entre as celebridades do mundo cultural. Artista completo, Jô Soares reunia um conjunto de dons impressionante. Cada um desses predicados, isoladamente, revelava-se suficiente para assegurar-lhe notoriedade e aplausos. O simpático “Gordo” da televisão, do teatro, do cinema, da literatura, da pintura era de uma inteligência e talento faiscantes. Não causa surpresa alguma, diante dessa constatação, avassaladora a comoção que percorreu todo o País em razão de sua morte. A sensação de perda alcançou todas as camadas da população, dos mais eruditos aos mais simples. O Brasil inteiro percebeu-se, de repente, desfalcado de uma de suas lideranças mais cintilantes, comprometida com valores humanísticos que enfeixam no dito brejeiro (tão Jô Soares), “faça Humor, não faça guerra” um lema esperançoso de características bem brasileiras.
“Cartinha”
O presidente Bolsonaro encontrou-se com dirigentes banqueiros da Febraban, para uma troca de ideias sobre a conjuntura brasileira. Pra variar, criticou os anfitriões por figurarem entre os signatários do manifesto em defesa da Democracia elaborado pela Fiesp. A propósito, Bolsonaro escusou-se de participar da série de encontros dos presidenciáveis com empresários na Fiesp.
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