Tudo está relacionado com tudo

Cesar Vanucci*
“Pois a mulher é a grande educadora do homem.” (Anatole France)
Os registros estatísticos dão conta de que mesmo em países tidos como desenvolvidos, dando exemplo caso Japão, os salários mostram-se desiguais entre homem e mulher. A média da remuneração da mulher situa-se abaixo da metade da média da remuneração do homem.
As possibilidades de ingresso em empregos, nesse mesmo tipo de confronto, eram até recentemente de 61% no Japão, 58% na Holanda e 16% nos países árabes. Sabe-se, ainda, que de 1,2 bilhão de pessoas que viviam, no decênio passado, em estado de pobreza absoluta (renda inferior a 370 dólares), 70% eram constituídos de mulheres.
O conteúdo continua após o "Você pode gostar".
Outro levantamento revelador diz respeito às chances de participação feminina no poder das decisões. As mulheres ocupavam, no final do século passado, apenas 20% dos cargos administrativos, 6% dos cargos de direção, algo equivalente aos chamados postos ministeriais. Tem mais: meio milhão de mulheres (99% do chamado Terceiro Mundo) morria, anualmente, de acordo ainda com as estatísticas, vitimadas por patologias vinculadas à maternidade.
Vêm a calhar, a propósito dessa injusta política de remuneração desigual em detrimento da mulher, as informações transmitidas, indoutrodia, pela Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior).
Ficou ressaltado que, no Brasil, entre profissionais que atuam no ensino superior, o salário atribuído à mulher, considerando a média nacional, representa 67,92% do salário masculino. Nas dez carreiras que acusam maiores índices de contratação, a proporção percentual da remuneração feminina relativamente à remuneração masculina é a seguinte: analista de negócios, 80,67%; analista de pesquisa de mercado, 86,47%; analista de desenvolvimento de sistema, 89,39%; biomédica, 90,73%; preparadora física, 93,01%; enfermeira, 96,25%; nutricionista, 97,59%; farmacêutica, fisioterapeuta-geral e avaliadora física são, das dez carreiras apontadas, as únicas que proporcionam ganho proporcional ligeiramente mais elevado, pouco acima de 100%.
Não há como ignorar, por outro lado, o tratamento diferenciado, de modo geral desrespeitoso, com que a mídia, acionada por preconceitos milenares dominantes no inconsciente coletivo, se ocupa das coisas da mulher, em geral.
O fato trivial de uma mulher que, no exercício de função pública, resolva assumir ostensivamente um caso afetivo é de molde a suscitar um turbilhão noticioso que vou te contar…
Está na cara que os dados focalizados nesta sequência de comentários não esgotam o temário difícil e, sob incontáveis aspectos, doloroso da problemática enfrentada pela mulher na vida moderna. Mas dão conta de se poder calcular as perturbadoras circunstâncias que envolvem essa questão, prioritária no processo da promoção humana.
O Banco Mundial anota algo muito importante e que permanece no olvido da maior parte dos viventes, homens ou mulheres: “A desigualdade entre os sexos paralisa a produtividade e dificulta o crescimento econômico”.
É de toda oportunidade salientar, por último, que, antes de serem problemas da mulher, as questões que impedem ou dificultam a ascensão feminina na sociedade, em tantas partes do globo e em tantas esferas de atividade, são problemas do ser humano.
De todos os seres humanos, em todos os continentes, independentemente de sua nacionalidade, etnia, credo religioso, ideologia política ou formação cultural. Quanto mais convicções individuais de sentido renovador puderem se aglutinar à volta de constatações óbvias como essas, maiores se tornarão as possibilidades de podermos, algum dia, todos juntos, construir um mundo melhor.
Um mundo melhor para mulheres, homens, crianças, adultos, negros, brancos, amarelos, árabes, judeus, sãos, enfermos, cristãos, budistas, maometanos, pobres, ricos, remediados e excluídos. Tudo está relacionado com tudo.
*Jornalista ([email protected])
Ouça a rádio de Minas