Uma conta que está explodindo
O presidente Michel Temer deixa no ar a impressão de que o buraco ainda não é fundo o bastante e sempre se pode cavar um pouco mais. Estamos falando da decisão de incluir na proposta orçamentária para o próximo ano – e um novo governo – o reajuste de 16,38% proposto pelos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Conforme tenta fazer crer o Planalto, uma barganha, já que os ministros aceitaram abrir mão do auxílio-moradia, o que anularia o impacto do reajuste negociado. Está claro, claríssimo, que não é tão simples e nem tão fácil.
Os salários dos senhores ministros, em tese os maiores para o funcionalismo público, representam uma espécie de teto, avidamente acompanhado na esfera pública, a começar do próprio Judiciário e afetando também, e pesadamente, o Legislativo. A corrida na realidade já começou, outros cuidaram de seguir a trilha aberta pelo STF e o tal efeito dominó já pode ser percebido, com consequência evidentemente trágicas para os cofres da União, esvaziados e ainda assim responsáveis por uma conta que continua crescendo, apesar de tudo o que foi dito em contrário. Tudo isso e, pelo menos, mais R$ 6,9 bilhões, conta relativa ao reajuste dos servidores da União no próximo ano que, também por decisão presidencial, acaba de ser descongelado.
Cabe recordar, especialmente para aqueles que pretendem estar sentados na cadeira presidencial a partir do próximo dia 1º de janeiro, que a equipe econômica trabalha, ou trabalhava, com a expectativa de um déficit entre R$ 150 bilhões e R$ 160 bilhões no próximo exercício. Este número já está defasado, apenas consideradas as liberalidades agora anunciadas. E, tudo indica, será muito pior. A ameaça vem também do Congresso Nacional, cujos membros, aparentemente impulsionados pela aproximação das eleições, se movimentam em torno dos chamados projetos-bomba, uma conta que poderá chegar, conforme as estimativas mais recentes, aos R$ 90 bilhões.
Simplesmente não existe espaço, nas contas públicas, para tantas e tamanhas liberalidades, para o virtual abandono da necessária contenção de gastos, para o ajuste fiscal que o presidente da República prometeu realizar e transformar numa das mais importantes marcas de sua gestão. A marcha foi na direção contrária, e isto significa dizer, em termos claros, que o próximo governo estará diante de uma herança maldita, pior, de uma situação que não se poderá sustentar, conforme aliás já foi assinalado por alguns importantes observadores tanto no País quanto no exterior.
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A estas alturas é preciso, pelo menos, ter bem clara a situação, ensejando uma reação que, se não encontra abrigo entre políticos, se transforme em causa dos empresários e da parcela mais esclarecida da sociedade. Porque reagir passa a ser questão de sobrevivência.
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