Opinião

Uma guerra nos estertores da pandemia?

Uma guerra nos estertores da pandemia?
Crédito: REUTERS/Umit Bektas

Em 1990, com 12 anos, passei um bom tempo na frente da televisão assistindo os desdobramentos da Guerra do Golfo. Com o Atlas Geográfico à mão, fiz traços com o lápis visando entender a geopolítica do momento. Claro que entendi muito pouco.

Agora, em 2022, aos 44 anos, deparo-me numa situação de – com aflição – acompanhar a invasão da Ucrânia pelo exército russo a mando de Vladimir Putin. Não buscarei, neste breve escrito, aprofundar a complexidade que o conflito traz em seu bojo, mas impossível não condenar a sanha autocrática de Putin e o ataque a um país soberano, cujo presidente, Volodymyr Zelensky, ganha dimensão política internacional e apequena o presidente russo.

O quadro em tela me trouxe à memória o filme/documentário “Nós que aqui estamos, por vós esperamos”, do diretor Marcelo Masagão, de 1999; bem como a obra de Eric Hobsbawm, “A era dos extremos: o breve século XX 1914-1991”. Recomendo, fortemente, ao leitor e leitora, que, se possível, conheçam ambos.

Nas palavras de Hobsbawm, o século XX foi: “[…] o século mais assassino que temos registro, tanto na escala, frequência e extensão da guerra que o preencheu, mal cessando por um momento na década de 1920, como também pelo volume único das catástrofes humanas que produziu, desde as maiores fomes da história até o genocídio sistemático”. O século foi, portanto, dialeticamente, tratado pelo historiador inglês como “era dos extremos” já que o avanço econômico, político e social jamais visto em tão curto espaço de tempo trouxe, no seu bojo, as guerras e a morte de milhões de seres humanos.

Nas guerras e conflitos regionais os mais atingidos foram civis que estavam desarmados. Não é diferente, hoje, na Ucrânia. Ainda que as informações sejam pouco confiáveis até o momento, estima-se que morreram cerca de 2.000 civis ucranianos e em relação às baixas no exército russo, estima-se, segundo o governo Putin, cerca 500 soldados ao passo que os ucranianos afirmam que foram quase 7.000 russos mortos nos oito dias de conflito. Um parêntesis: no Brasil, chegamos a mais de 650 mil mortos por Covid e tivemos dias com cerca de 3 mil óbitos…

É possível imaginar uma guerra ainda num cenário pandêmico? Embora a pandemia tenha arrefecido e, para os cientistas, talvez estejamos vivenciando o início de seu fim, milhares de pessoas que, durante meses, ficaram em suas casas para evitar a propagação do coronavírus, agora, foram expulsas tornando-se refugiados, com medo, deixando seus familiares, seus bens, a história de uma vida. Conceitos clássicos da teoria política em desuso voltaram à tona: Estado-Nação, soberania e poder de fato e poder de direito; bem como novas modalidades de conflito conjugando ataques já conhecidos (invasão por terra e bombardeios) com a chamada guerra cibernética ampliada por fake news de todos os tipos.

O poderio bélico russo — uma potência com 6.255 ogivas nucleares — fez com que muitos acreditassem que a ofensiva seria um passeio até a tomada de Kiev. Contudo, as forças armadas ucranianas e sua população impõem resistência e os russos, no plano internacional, sofrem e sofrerão sanções econômicas dos EUA e dos países europeus.

Apoio de muitos países, especialmente europeus, aos ucranianos com armamentos também ocorrem e isso fez com que Putin colocasse sua força nuclear em alerta máximo. Até a China, que havia indicado amizade quase irrestrita com os russos, já se coloca como interlocutora na busca da solução do conflito.

 A sociedade hiperconectada do século XXI apresenta a possibilidade de se acompanhar a guerra como nunca na história. O medo permanece. Sai a pandemia e entra em cena a possibilidade de uma guerra mundial e nuclear. Tempos difíceis.

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