Opinião

Universidade pública como geradora de inovação e tecnologia

Universidade pública como geradora de inovação e tecnologia
Crédito: Georgez

Adelaide Coelho Baeta / Nair Costa Muls*

A universidade pública tem sido alvo de uma crítica descabida e sem fundamento. Fala-se inclusive de uma “privatização político-ideológica da universidade pública”. Por que essa hostilidade? Vem no lastro das posições que visam fortalecer a iniciativa privada e o grande capital, na defesa das universidades privadas ─ nacionais e estrangeiras ou revela um total desconhecimento do que realmente é uma universidade pública?

Poucos sabem que o esforço pela competência e qualidade nas universidades públicas se inicia com a escolha de seu corpo docente, mediante concursos públicos, instaurados nos diferentes departamentos e conduzidos por banca examinadora composta por professores devidamente preparados para tal escolha. Os critérios são rigorosos e levam em conta, em primeiro lugar, o conteúdo teórico próprio da área e a avaliação das linhas mestras da formação do candidato, suas experiências em magistério, em pesquisa e em produção científica. Analisa-se ainda a sua percepção do papel e do lugar de um professor na formação do sujeito histórico que vai passar por sua responsabilidade, levando em consideração, não só a questão ética como o papel de vanguarda que a universidade tem na formação profissional do sujeito histórico e na sua formação como cidadão.

Por outro lado, é preciso reconhecer o esforço das universidades não só num ensino de qualidade quanto na pesquisa e na extensão. E é bom lembrar que não existe universidade de qualidade sem pesquisa. No quesito da pesquisa e da produção científica, as universidades públicas brasileiras, em sua maioria, estão entre as melhores do mundo. Em estudo recentemente divulgado, o Brasil está entre os 15 países com o maior número de estudos científicos publicados no mundo; e ainda, 90% do conhecimento científico produzido no País vem das universidades públicas…

Tomemos, por exemplo, a UFMG: está entre as maiores universidades públicas brasileiras (ao lado da USP, Unesp, Unicamp, UFRJ e UFRGS). E, considerando apenas a importância da educação para a economia ─ tema de seminário recente “Indústria 4.0 começa com Educação de qualidade” DC, 13/06/19) ─ análises recentes têm mostrado como a Universidade Federal de Minas Gerais, assim como várias outras universidades públicas brasileiras, tem se destacado como protagonista no papel de agente do desenvolvimento econômico de empresas e de regiões, ampliando suas atividades tradicionais de ensino, pesquisa e extensão e adotando uma postura inovadora, empreendedora e uma nova atitude na articulação com a sociedade. Respondendo ao crescimento da Economia do Conhecimento e ao surgimento de novos paradigmas econômicos e produtivos, em cujo contexto um dos fatores cruciais de competitividade é o conhecimento e o uso intensivo da informação e da tecnologia, a UFMG vem intensificando a interação com o setor empresarial mediante iniciativas e procedimentos voltados para o empreendedorismo acadêmico e a transferência de conhecimento e tecnologia para sociedade. Para isso, se construiu uma cultura, uma liderança, uma melhor compreensão do empreendedorismo e criaram-se estruturas que possibilitam não só pesquisas inovadoras quanto a disponibilização de conhecimentos e novas tecnologias para as empresas.

A criação do CTIT- Coordenadoria de Inovação Tecnológica em 1997 ─ mesmo ano em que foi sancionada a lei que regula direitos e obrigações relativas à propriedade intelectual ─ estimulou novas pesquisas e maior aproximação com o setor produtivo; e estabelece o compromisso e a responsabilidade de permitir que os esforços realizados por intermédio de pesquisas na universidade cheguem à sociedade na forma de novos produtos, processos e serviços. Entre 1997 e 2017 contam-se 857 depósitos de patentes no Inpi, sem se esquecer da criação de startups acadêmicas tanto no mercado nacional como internacional e a transferência de tecnologia em diferentes áreas, além da informática, como, por exemplo, na Biotecnologia e na Saúde.

No estudo em questão, os dados estatísticos apresentados mostram, com clareza, a importância da UFMG nesse quesito de parceria com o setor produtivo e com a sociedade em geral. Em primeiro lugar, o número de patentes depositadas pela UFMG cresceu: em 1996 foram registradas 5 patentes; em 1997 esse número pulou para 29; em 2006 para 32; em 2007 para 41; em 2010 para 63, alcançando nos anos seguintes uma média de 76.57 (em 2017 foram registradas 90 patentes).

Analisando-se as áreas que se destacam nas pesquisas de inovação e de geração de produtos e processos para o setor industrial, consolidando o processo de transferência de Tecnologia Universidade-Empresa verifica-se a importância dessa contribuição. São: Biotecnologia, com 265 patentes; Engenharia, com 243; Farmácia, com 164 e Química, com 140.

É bem verdade que essa parceria é ainda tímida em relação ao potencial da universidade, o que se deve em parte ao grande desconhecimento desse trabalho, tanto pelas empresas como pela sociedade. Faz-se relevante um esforço recíproco voltado para o avanço do conhecimento científico e sua aplicação nos diferentes setores produtivos e, desse modo, ampliar e consolidar o lugar de destaque que cabe às universidades públicas no Brasil e no mundo. E é indubitável que o avanço da ciência se dá nas universidades graças à pesquisa e aos investimentos públicos. E universidade de qualidade não existe sem pesquisa…

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*Doutora em Engenharia da Produção pela Coppe/UFRJ, Professora aposentada da UFMG/Face e coordenadora do mestrado em Biotecnologia e Gestão da Inovação do Centro Universitário de Sete Lagoas-Unifemm / Doutora em Sociologia pela PUC/SP e professora aposentada da UFMG/Fafich

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