Opinião

Vácuo de poder

Vácuo de poder
Crédito: REUTERS/Adriano Machado e Ueslei Marcelino

Aqueles que passarem por Brasília nestes dias pós-eleitorais terão uma certeza: o País que possui dois presidentes, não possui mais governo. O núcleo de poder se transferiu para a transição na mesma medida que a apatia tomou conta daqueles que estão para entregar o bastão e deixar o Planalto Central. Os debates ocorrem no Congresso Nacional e no Centro Cultural do Banco do Brasil, deixando o Planalto e os ministérios como meros espectadores de um enredo do qual não farão parte.

O fato é que uma transição representa um dos momentos mais importantes de um calendário político de uma nação. É neste período que existe espaço para serem traçados planos e também para que o governo que chega consiga entender projetos, financiamentos, finalidades de ações de programas que precisam de continuidade na virada de administração, afinal de contas, a população segue com sua vida mesmo com as mudanças políticas.

Neste momento é que reconhecemos o verniz de verdadeiros líderes, assim como fez Fernando Henrique, que mesmo após ver seu candidato derrotado para Lula, realizou uma transição republicana para o governo petista que chegava, ou mesmo Michel Temer, que organizou um processo transparente e amplo para Bolsonaro e os nomes que passariam a comandar o País em 2019.

Infelizmente, desta vez parece que o País pode estar quebrando uma tradição. Mesmo sob a coordenação de equipes de transição em cada uma das pastas, a postura de Bolsonaro permanece complicando o processo, ao mesmo tempo que emite sinais dúbios sobre a lisura de um pleito já encerrado, um movimento que mantém apoiadores sob chuva em acampamentos pelo País esperando por um sinal que jamais chegará.

A postura correta de Bolsonaro seria reconhecer a derrota, organizar e liderar a oposição, ao mesmo tempo em que franqueava aos vencedores pleno acesso aos dados e políticas que vinha executando. Uma transição transparente, republicana e digna. Nada menos do que o povo brasileiro merece depois de uma eleição tão disputada e polarizada que dividiu o Brasil.

O País somente teria como se beneficiar deste processo, uma vez que os dois presidentes, aquele que sai e o que chega, podem estabelecer pontes com ganhos reais para a população. Foi assim no passado e deveria ser assim também no presente. Ao manter-se em negação, Bolsonaro causa prejuízos diretos para a população que jurou defender ao tomar posse. É preciso aceitar o resultado e seguir adiante.

A democracia é feita de vitórias e derrotas. É o ciclo natural do processo político. Aceitar as derrotas e saber vencer é a essência de um bom político, daquele que entende o fato de que uma eventual derrota jamais é o fim de uma carreira. Não existe sequer um nome neste meio que não tenha enfrentado revezes e depois tenha ressurgido mais forte. Recuar no momento certo é parte importante da estratégia política.

Sabemos que não existe vácuo de poder e ao ignorar a derrota, abatido e encerrado em sua solidão, Bolsonaro antecipou a posse de Lula, que transita desenvolto em Brasília como presidente de fato. Em uma terra sem governo, as estruturas de poder se movem com facilidade e velocidade. O abatimento de Bolsonaro torna Lula apenas mais forte.

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