Opinião

Variações em torno da peste

Variações em torno da peste
Crédito: REUTERS/Diego Vara

Amante apaixonado da vida de seus semelhantes e de si mesmo, esse escriba, apesar de ser alguém com 80 outonos e vários outros altos riscos, se pergunta como a sabedoria medieval e o bom senso, de então, souberam conviver com a perspectiva de um genocídio da humanidade por um vírus.

Outras perguntas me atormentam além desta, sendo as interrogações, ao mesmo tempo, uma força motriz ajudando a sobreviver.

A primeira é uma questão colocada aos donos do poder e aos cientistas: se é possível aproveitar a pandemia para cada regime existente na terra, o capitalista e o socialista, fazer sua autocrítica de seu funcionamento e proporcionar a seus filhos e filhas, um avanço na defesa e na qualidade da vida.

Essa questão diz respeito a muitos aspectos da vida humana. Em se tratando de vírus, a saúde chega na frente. No Brasil, temos que reconhecer o avanço salutar, que experimentou nosso povo com o SUS. Mas a profunda desigualdade histórica, que parece não ter fim, com a chegada da Covid-19, ficou mais visível e cruel. Se mais visível e evidenciada nas estatísticas, certamente é uma boa chance para mudar daqui pra frente.

Em cada país, o processo de mudança da sociedade terá a marca da história econômica e política de seu povo. Já durante a luta antivírus, podemos perceber que a Escandinávia mostrou ao mundo o vigor de uma realidade, que absorveu, historicamente, valores incontestáveis do socialismo do Leste, sem endossar suas incongruências e defeitos. Os EUA, a Europa e o Japão têm o desafio urgente de corrigir o modo de produção, que, graças à acumulação de Capital e à propriedade privada dos meios de produção, ao colonialismo/neocolonialismo, e ao liberalismo, significou um intenso desenvolvimento econômico e tecnológico, provocando o atraso e a miséria de amplas faixas humanas da África, da Ásia e da América Latina – grandes fontes de matéria-prima.

Difícil, excetuando Cuba, falar de processo de mudança em país com regime socialista, a partir da pandemia. O exemplo mais curioso é a China, que após a grande marcha de Mao Tse-tung e a revolução de 1949, durante a Segunda Grande Guerra, soube liderar o campo socialista, sobrepujando a União Soviética e construindo uma nação sui generis, mais populosa da terra, uma sociedade surpreendente e grandiosa, que apesar se sua gênese, soube penetrar no jogo capitalista global e disputar, hoje, com os norte-americanos e a Europa, um lugar de força excepcional dominante. Os chineses, além de seu pragmatismo reconhecido, souberam impulsionar os grandes valores de uma sabedoria e civilização milenar, penetrando no universo capitalista.

Pouco importa as respostas que a história dará àquela primeira questão. O certo é que Cuba e Israel têm mostrado altivez inédita no combate ao coronavírus. São dois povos pequenos. Cuba, defensora heroica dos valores socialistas, resistente ao embargo econômico, num contexto predominantemente liberal. E Israel, o conhecido braço armado dos EUA no Oriente Médio. Exemplar na luta contra o coronavírus, a garra das duas pequenas nações.

Vivi quatro anos na Ilha caribenha e três anos com israelenses, palestinos e jordanianos na juventude. Sou testemunha das duas razões que explicam o destemor e o heroísmo de cubanos e israelenses nessa luta: primeira razão – são povos que contam com lideranças políticas determinadas, decididas e amantes da ciência. A segunda razão é a facilidade dos dois povos de se organizarem e de formar um só bloco na luta antivírus. (Darei sequência ao tema no próximo artigo esclarecendo melhor fatores negativos da parte de Israel no trato com árabes – cidadãos israelenses).

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