Vivência ecumênica
“Importa evitar o fanatismo religioso.” (Juvenal Arduini, sociólogo)
Vivemos instante humano perturbador. Sedento de amor, de compreensão, tolerância. Em momento assim, posturas ecumênicas ganham especial significado, por remeterem a questões essenciais, a nobres aspirações humanas.
O ecumenismo tem tudo a ver com humanismo, que é a nossa própria razão de viver. Responde com vigor escorraçante às propostas radicais dos fundamentalismos de todos os matizes. Setores que se prevalecem de rançosos (pré)conceitos, com conotações invariavelmente racistas, pra baixar regras de comportamento em estridente dissonância com a dignidade humana. O espírito ecumênico torna explícito que religião não pode significar obstáculo à liberdade. A fé há que ser encarada, dentro de perspectiva religiosa autêntica, como “um pássaro que pousa no alto da folhagem e canta nas horas em que Deus escuta”, conforme lírica observação de Joaquim Nabuco.
Do ponto de vista ecumênico, as religiões mostram pontos consideravelmente mais numerosos de convergência, do que de divergências. Equivalem-se em mérito na busca do diálogo sincero com Deus. Com doses mais maciças de boa vontade, desarmamento de ânimos, respeito, zelo pela primazia dos valores fundamentais das diferentes crenças, reconhecendo que no fundo todos são valores extremamente parecidos, as religiões estarão capacitadas a oferecer valiosíssima contribuição na construção de um mundo melhor. Na retomada, digamos assim, do mundo pela humanidade.
Empolga-me a fala ecumênica. Todas as vezes em que a percebo enunciada nalgum ambiente cercado ou não por ritualística religiosa imagino a presença ali de criaturas inspiradas, propensas a deixarem de lado as diferenças na forma, para se fixarem, em junção fraternal, no conteúdo do culto aos valores transcendentes da vida.
Na voz sábia de João XXIII, o ecumenismo ganhou, pelo lado cristão, sonoridade e intensidade nunca registradas dantes. João Paulo II estimulou ações extremamente positivas no tocante à aproximação das religiões. O magnífico Francisco, por muitos considerado o maior estadista dos tempos de hoje, vem dando mostras seguidas, em pronunciamentos, nas viagens a locais em que predomina sentimento religioso diferenciado da crença de que é porta-voz, de assimilação plena do sentido ecumênico da mensagem vinda do fundo e do alto dos tempos para todos os homens e mulheres de boa vontade. Das demais grandes correntes religiosas pouco se sabe quanto à real disposição de suas lideranças qualificadas em se associarem em práticas ecumênicas. O Dalai Lama, dignitário de facção budista de forte expressão, é delas todas a liderança que melhor assume publicamente atitude propositiva com relação ao tema.
Os meios de comunicação social podem contribuir de maneira efetiva para a propagação do ideal ecumênico, com isso amortecendo tensões resultantes das dificuldades que se antepõem, em tantas partes, ao exercício da liberdade de expressão religiosa. É certo que a tevê e o rádio, reservam espaço considerável para divulgação religiosa. Nos casos específicos das emissoras vinculadas a correntes ideológicas bem configuradas os temas focalizados atendem naturalmente às conveniências do proselitismo. Mas, de qualquer maneira, as mensagens são irradiadas para plateias imensas. Pena que uma tribuna com tamanha magnitude não dedique boa fatia de tempo para a fala ecumênica.
Apraz-me concluir estas considerações com trecho de um pronunciamento de dileto amigo, mestre de muitas gerações, meu compadre o grande e saudoso sociólogo padre Juvenal Arduini, relativo à convivência inter-religiosa: “Importa evitar o fanatismo e o sectarismo religiosos. Estas são atitudes passionais que cegam as pessoas”.
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