Opinião

Voltando a falar de “arapongagem eletrônica”

Voltando a falar de  “arapongagem eletrônica”
Crédito: Divulgação

Cesar Vanucci *

“A realidade é mais assustadora do que se poderia supor.” (Aldo Novak, jornalista)

Como já antecipado, no artigo de hoje estamos dando sequência à reprodução de texto divulgado há duas décadas neste mesmo espaço. Conservando sabor atual, as considerações estampadas colocam em foco fabulosas e, até mesmo, inimagináveis recursos, criados pelo engenho humano, voltados para a assim chamada “arapongagem eletrônica” em escala mundial. O “Echelon”, ou que outro nome possa ser dado ao ciclópico sistema de coleta de informações, é fruto das conquistas tecnológicas eletrônicas destes tempos conturbados, conquistas não empregadas, por vezes, com fitos edificantes.

“Os riscos que a humanidade corre com o Echelon, sistema de arapongagem eletrônica mundial, vêm sendo avaliados, em acesos debates e em denúncias incandescentes, no Parlamento europeu, no próprio Congresso estadunidense e na imprensa internacional. No Brasil, o tema já trouxe inquietação a diferentes segmentos sociais e profissionais, com repercussão nos meios parlamentares e de comunicação.

O conceituado jornalista Aldo Novak revelou, recentemente, num palpitante trabalho, que por meio do Echelon, a Agência de Segurança Nacional (NSA) pode acessar todas as transmissões de televisão, emissões de rádio, inclusive portáteis e de curta distância, e informações veiculadas através de faxes e correio eletrônico.

Dois episódios, do recente noticiário (repita-se: este comentário foi divulgado há duas décadas), ilustram os perigos que o Sistema carrega. O Vaticano denunciou o que foi classificado por um porta-voz de violação da intimidade do Papa João Paulo II. Todos os indícios de inominável devassamento dos domínios domésticos pontifícios apontaram na direção do “Projeto Echelon”.

Num outro incidente, pacata família estadunidense teve a casa subitamente invadida por tropas de choque, à cata de terroristas e de bombas de alto poder destrutivo. Desfeito o mal-entendido, apurou-se que tudo brotara de inocente conversa telefônica, em que a palavra-chave “bomba” fora utilizada mais de uma vez. Decodificada pela parafernália eletrônica, a conversa de duas comadres soou, aos ouvidos de zelosos agentes, especializados no combate a práticas terroristas, como tenebrosa conspiração. Acionar a Swat foi a emergência recomendada, meu santo Euzébio!

O “Grande Irmão”, meus amigos, está aí, firme nos arreios, como se diz na saborosa linguagem roceira. Prontinho da silva para levar a cabo sua “sacrossanta missão”.

Governantes, humanistas, a sociedade, todos temos que nos pôr, também, atentos aos desdobramentos desse desconcertante esquema de espionagem. Dele podem nascer consequências inimagináveis em matéria de “arapongagem eletrônica”…

O Echelon está a exigir a criação de regras jurídicas poderosas, que coloquem ao abrigo de sinistras maquinações a dignidade do ser humano. Sem o que, estaremos todos contribuindo para que conquistas milenares, de conteúdo humanístico e espiritual, sejam arrastadas de roldão nas correntezas do obscurantismo e da insensatez, estimulados por uma ciência e por uma tecnologia que vêm sendo, volta e meia, flagradas em descompasso com os valores éticos”.

Reproduzido o sugestivo texto de duas dezenas de anos atrás, permitimo-nos recomendar ao distinto leitorado que procure se inteirar dos termos de instigante e polêmico livro, recentemente lançado, com título que lembra, curiosa e coincidentemente, sem que uma coisa nada tenha a ver com a outra, lema de uma agremiação política brasileira do passado. “Eterna Vigilância”, autobiografia de Edward Snowden, engenheiro e ex-agente de espionagem estadunidense, há seis anos exilado na Rússia, expõe com abundância de pormenores as engrenagens do fantástico sistema de vigilância mundial em massa instaurado pelo governo dos Estados Unidos.

*Jornalista ([email protected])

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