Opinião

Walk the talk: faltou coerência na COP-27?

Walk the talk: faltou coerência na COP-27?
Crédito: REUTERS/Mohamed Abd El Ghany

Durante a manhã do “Dia das Soluções na COP-27”, uma data especialmente voltada para delinear, construir e compartilhar soluções efetivas em relação aos inúmeros desafios das mudanças climáticas, uma delegação formada por lideranças, ativistas e representantes dos governos subnacionais, ou seja, Estados e Municípios, realizava uma manifestação no trajeto entre o Pavilhão de Ação Multinível (Multilevel Action Pavilion) e a sala de reuniões onde ocorreria a primeira reunião ministerial sobre urbanização e mudanças climáticas. Eles entoavam o refrão “walk the talk”, uma expressão que resume a importância da coerência entre as palavras e as atitudes, as ações. Ou seja, “andar” de acordo com suas palavras. Afinal de contas, a COP-27 foi alardeada previamente como a conferência da (suposta) implementação. De acordo com Sameh Shoukry, ministro egípcio das Relações Exteriores e presidente da COP-27, é necessário agir, e agir agora, para salvar vidas e meios de subsistência.

A delegação participou da primeira reunião ministerial sobre urbanização e mudanças climáticas, cujo objetivo foi reforçar o compromisso com o Acordo de Paris para a ação climática multinível e transversal, já que as cidades estão na linha de frente das mudanças climáticas. Não custa lembrar que a maior parte da população mundial já vive nas cidades. No Brasil mais de 83% da população é urbana. E nas cidades brasileiras, especialmente a população de baixa renda, enfrenta as consequências de eventos climáticos cada vez mais frequentes e intensos, ocasionando inundações, deslizamentos de terra, incremento de vetores de doenças como dengue e Chikungunya, perdas de vida, dentre outros dramas urbanos. Por outro lado, a ciência já nos oferece um cardápio de soluções para a adaptação do tecido urbano: do planejamento participativo às soluções baseadas na natureza, projetos de drenagem compensatória, jardins de chuva, urbanização inclusiva, universalização do saneamento, recuperação dos recursos hídricos e utilização de fontes de energia limpas e renováveis.

Esta manifestação foi emblemática em relação ao tensionamento da COP-27 no Egito. De um lado a diplomacia internacional, cambaleando entre passos lentos e trôpegos em relação à urgência climática. De outro a agenda local, a sociedade civil e a iniciativa privada, correndo contra o tempo e buscando instrumentos para subsidiar a transição para um mundo de baixo carbono, com justiça climática e inúmeras oportunidades oriundas de uma novíssima economia verde, limpa e sustentável. Neste sentido, a 27ª Conferência das Partes lançou a “Iniciativa de Resiliência Urbana Sustentável para a Próxima Geração – SURGe”. O objetivo é oferecer suporte técnico e ferramentas para a implantação da agenda do clima pelos governos locais e sociedade civil, de forma que a política global possa orientar as ações efetivas em todos os territórios.

Mas será que as cidades já contam com os recursos necessários para assumir este protagonismo?

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