Opinião

Tragédia brasileira

Tragédia brasileira
Comunidade Yanomami em Roraima | Crédito: REUTERS/Bruno Kelly

A recente visita do presidente Lula a Boa Vista, com o objetivo de conhecer mais de perto a situação da população Yanomami, lançou alguma luz sobre a tragédia enfrentada pelos indígenas, numa marcha que, se não for rapidamente contida, pode significar seu extermínio. Imagens largamente exibidas no País e no mundo dão as dimensões da questão, associada a ações deliberadas do governo anterior, no sentido de estimular, dissimuladamente, garimpos e extração ilegal de madeira. Para muitos, não existem dúvidas de que o País está diante de um processo de genocídio na reserva Yanomami, a maior no País, com população estimada em 20 mil indivíduos.

As ações em andamento são de socorro e atendimento imediato, nas áreas de saúde e de alimentação. A mobilização rapidamente desencadeada impressiona e, de alguma forma, representa nova chance para os indígenas, povos originários, além de evidenciar que temos, sim, capacidade de socorrê-los, de reparar erros – e crimes – escancaradamente cometidos. É o necessário, é o começo, mas não é o suficiente. Mudar, de verdade, significa em primeiro lugar entender o que está acontecendo para assim chegar às causas do problema. E deter, com a força e determinação necessárias, a atuação de madeireiros, garimpeiros e até pescadores clandestinos, as saúvas modernas que vão tomando conta da região, com evidências fortes de que em conluio com o crime organizado, que teria despertado para o seu potencial.

Sem que esta frente seja atacada, sem que os invasores da reserva – seriam também 20 mil, conforme contagem agora apresentada – sejam expulsos um a um, a chama que agora arde adiante inevitavelmente se apagará. Pior, sem deixar resultados, nem mesmo esperança para os yanomami, lembrando que eles são hoje apenas uma pequena parcela de sobreviventes. Socorrer, como felizmente está sendo feito, é obrigação, mas ainda falta entender que o mesmo pode ser dito acerca da proteção a estes que são também cidadãos brasileiros.

Definitivamente não se está falando de pouca coisa quando considerados os interesses envolvidos ou as agora fartas evidências de que eles se confundem, se misturam, com o governo passado. Possivelmente presentes, inclusive no financiamento e participação nos distúrbios em Brasília, e movimentações anteriores, na tentativa de alterar o curso da vida política brasileira e com processos tão rasteiros quanto sórdidos. São mesmo fortes as evidências que sugerem este caminho enviesado, possivelmente também nas tentativas de envolver, confundindo, o agronegócio, sua parcela séria e bem-sucedida, diferentemente dos verdadeiros responsáveis pelo horror que assistimos.

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