Parceiros do Futuro

Celeiro do agronegócio, Minas Gerais pode ter papel fundamental para futuro do planeta

Diversidade produtiva e investimento em tecnologia podem ajudar a reduzir a dependência de commodities de baixo valor agregado
Celeiro do agronegócio, Minas Gerais pode ter papel fundamental para futuro do planeta
Crédito: Reprodução Adobe Stock

Respondendo por mais de 20% do Produto Interno Bruto (PIB) de Minas Gerais, desde sempre o agronegócio se apresenta como um dos pilares econômicos do Estado, mas o setor pode desempenhar um papel ainda mais estratégico na construção de um futuro socioeconômico mais equilibrado não apenas para os mineiros e brasileiros, mas para a população de um modo geral.

Essa é a visão do presidente do Sistema Faemg Senar, Antônio Pitangui de Salvo, que enxerga na diversidade produtiva e no investimento em tecnologia os caminhos para reduzir a dependência de commodities de baixo valor agregado e fortalecer um modelo de crescimento sustentável e inovador no agronegócio de Minas Gerais. Especialmente no momento em que o setor desponta como oportunidade em meio às turbulências comerciais causadas pelo presidente dos Estados Unidos Donald Trump com as tarifas impostas a 185 países há pouco mais de um mês.

O muro tarifário para produtos estrangeiros – com destaque para os chineses – repercutiu menos em terras tupiniquins, já que o Brasil acabou ficando com uma das menores alíquotas: 10%. E como especialistas apontam a competitividade já observada no agronegócio como o diferencial que poderá fazer com que o País se beneficie de mercados antes ocupados pelos taxados, Minas, que detém o segundo maior PIB agropecuário do Brasil, com estimados R$ 70 bilhões em 2024, atrás apenas de São Paulo, segundo dados do IBGE, poderá se beneficiar ainda mais.

O Estado lidera a produção leiteira nacional, com 26% do total do País. Na pecuária de corte aparece com o quarto maior rebanho. É também o maior produtor de café do Brasil e do mundo e somou 30,5 milhões de sacas apenas na safra 2024.

Na avaliação do dirigente, com geografia variada e condições climáticas apropriadas para diferentes tipos de culturas, o Estado se destaca no cenário nacional como um verdadeiro resumo do agronegócio brasileiro. Segundo ele, regiões como o Alto Paranaíba e o Triângulo Mineiro, por exemplo, possuem características semelhantes às do Brasil Central, com extensas áreas dedicadas à produção de grãos.

“No Sul de Minas, a cafeicultura deu origem a um setor agrícola diversificado e altamente produtivo, enquanto as Matas de Minas, historicamente favorecidas pela proximidade com o Rio de Janeiro, enfrentam hoje desafios estruturais que dificultam o desenvolvimento. Outras regiões também se destacam: o Centro e o Noroeste de Minas Gerais apresentam grande potencial de crescimento, enquanto o Norte e o Vale do Jequitinhonha enfrentam as adversidades do semiárido”, detalha.

Apesar das diferenças, um fator comum une todas essas áreas: a necessidade de investir em tecnologia e inovação para aumentar a produtividade e melhorar a qualidade da vida no campo. Garantir a sucessão nas propriedades rurais é outro desafio, conforme Antônio de Salvo. Num cenário de grande competitividade das empresas, muitas delas já com forte presença internacional, o que também favorece a posição de Minas na reorganização comercial que se impõe mundo afora, o planejamento sucessório emerge como um componente essencial para garantir a perenidade dos negócios no campo.

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“O que segura o homem no campo é agregar valor (à produção) e dar uma vida digna a ele. Não dá para segurá-lo com uma vida não digna. Ele vai embora e o filho também. Você só sucede o sucesso. Mas a rapaziada está entendendo que a vida no campo mudou. Trabalhar no campo não é mais sinônimo de segurar uma enxada, mas sim um joystick de drone para acompanhar a lavoura”, afirma.

Outro ponto em que a tecnologia será de suma importância para o agronegócio, diz respeito à produção de alimentos em larga escala para atender a demanda mundial, já que caminhamos para um contexto de necessidade de alimentos baratos em abundância. E na avaliação do presidente do Sistema Faemg Senar, até 2050, apenas Brasil poderá produzir o que o mundo deseja, sem ter de abrir novas áreas de pasto, mantendo a Amazônia no patamar atual. “Isso vai ser possível apenas trazendo a tecnologia. A comida mais barata que tem no mundo é a brasileira”, diz.

A análise do presidente do Sistema Faemg Senar posiciona o agronegócio mineiro nos três pilares que norteiam o Parceiros do Futuro, uma vez que possibilita a diversificação da economia mineira, por meio da agregação de valor das commodities em vistas de aumentar a retenção de valor nas localidades; atende a busca por tecnologias verdes e processos de produção regenerativos, aproveitando os recursos naturais de Minas Gerais para ganhar competitividade no mercado externo e a urgência de enfrentar o desequilíbrio climático; e permite a geração de riqueza de forma mais equilibrada, reduzindo a desigualdade entre as regiões do Estado e entre as pessoas.

Da commodity ao valor agregado: a diversificação do agronegócio mineiro

Minas Gerais é um dos maiores produtores nacionais de café, leite, batata-inglesa, cenoura e florestas plantadas. O Estado também se destaca na produção de queijo, cachaça, azeites, mel e frutas tropicais e vermelhas, produtos de alto valor agregado que podem impulsionar o reconhecimento internacional da agroindústria mineira. Conforme o presidente do Sistema Faemg Senar, Antônio Pitangui de Salvo, a valorização desses produtos é essencial para fortalecer a economia local e reduzir a dependência de commodities tradicionais, como o minério de ferro, que é um recurso finito.

Um exemplo claro, segundo ele, é o próprio café, cuja importância para a economia mineira se aproxima da mineração. Em 2024, por exemplo, as exportações mineiras somaram US$ 41,9 bilhões. O minério e seus concentrados responderam por 30% deste total, mas o destaque do ano foi o café não torrado – que elevou a participação de 14% para 19%.

Diferentemente dos minérios, porém, o café é um recurso renovável e pode ser explorado de forma sustentável e contínua. Mas, na avaliação de Antônio de Salvo, falta valorização. “Isso é algo que o mineiro não sabe fazer. Você não bebe café bom em Minas. Você vai ao Porto e bebe vinho ruim? Aqui nós bebemos café que gasta duas colheres de açúcar ou cinco gotas de adoçante. Isso mostra como o mineiro trabalha mal seus produtos e se comunica mal. Precisamos valorizar a mineiridade e o que se produz aqui”, alerta.

O mesmo vale para outras iguarias, conforme o dirigente. “Os queijos mineiros já são reconhecidos internacionalmente, mas deveriam receber maior proteção e incentivo para se consolidarem como referências globais, assim como ocorre em outros países. São mais de 50 tipos e 11 com certificado de origem. Sabores e métodos de produção interessantíssimos e desenvolvidos graças a tecnologias criadas por nós. E não para por aí. Temos as melhores cachaças de alambique do Brasil, méis e agora também vinhos e azeites”, destaca.

Sustentabilidade e o papel do agronegócio de Minas na segurança alimentar global

Para o dirigente, Minas Gerais tem um papel fundamental na produção de alimentos e pode ser protagonista na adoção de práticas sustentáveis. A pecuária brasileira e mineira, por exemplo, avança no uso de carne verde, produzida com responsabilidade ambiental, em contraste com sistemas intensivos adotados em outros países.

“Não nos tornamos os maiores exportadores de carne bovina porque Pedro Álvares chegou e encontrou belíssimos bois. Mas graças ao trabalho e muita tecnologia dentro do que fazemos para ter, por exemplo, uma carne que ninguém tem no mundo. Se o animal manda metano para fora, os capins sequestram de novo o C02 e equilibra esse CH4 que é emitido. Por isso a nossa pecuária é positiva em termos de carbono. Ao contrário de outros países como a Alemanha, que tem gado confinado em jaulas comendo proteína que concorre com o ser humano. Por isso, precisamos ter orgulho do que fazemos”, diz.

Outro ponto destacado por ele diz respeito à preservação ambiental, que no Brasil é uma das mais rigorosas do mundo, com 66% da vegetação nativa protegida, enquanto na Europa esse índice não passa de 5%. Ele frisa: “Ninguém protege mais o meio ambiente do que o produtor rural”.

Além disso, Salvo lembra que o mundo precisa de alimentos acessíveis e sustentáveis, e o Brasil tem capacidade de atender essa demanda sem expandir áreas de cultivo, apenas incorporando mais tecnologia. Para o presidente do Sistema Faemg Senar, com um agronegócio fortalecido e inovador, Minas Gerais pode não apenas impulsionar sua economia, mas também contribuir para a segurança alimentar global e para um crescimento econômico mais equilibrado entre suas diferentes regiões.

“A diversificação produtiva, o investimento em tecnologia e a valorização dos produtos mineiros são caminhos essenciais para um futuro mais sustentável e promissor. A tecnologia empregada pelo agronegócio no Brasil é imbatível. Ninguém faz e ninguém fará como nós. Teremos mais uma revolução na agricultura com essa capilarização tecnológica. Já temos feito transformações e o aumento de produção e pode fazer ainda mais”, conclui.

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