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Minas Gerais busca altos investimentos para romper dependência de commodities

Avançar nas cadeias produtivas para não vender apenas commodities é um desafio para Minas Gerais e para o Brasil como um todo
Minas Gerais busca altos investimentos para romper dependência de commodities
Foto: Reprodução Adobe Stock

“Não podemos ficar exportando montanhas e importando aço.” A frase do presidente da Associação Comercial e Empresarial de Minas (ACMinas), Cledorvino Belini, resume o desafio: Minas Gerais e o Brasil precisam atrair investimentos com valor agregado, que gerem tecnologia, empregos qualificados e riqueza, e não apenas vender commodities.

Segundo o executivo, é hora de avançar do extrativismo para a industrialização. Ele diz que o valor está na venda de bens e serviços completos, como exportar derivados da banana em vez da fruta in natura. “Mas, para isso, é necessário ter um tecido social estruturado e pessoas, técnicos e cientistas desenvolvendo produtos e processos”, afirma.

Belini destaca que não faltam oportunidades para o Estado e o País progredirem na atração de investimentos com maior valor agregado. Ele cita como exemplo os elementos de terras-raras (ETRs), abundantes no território nacional, sobretudo em áreas em Minas. “Temos a segunda maior reserva global e vamos entregar apenas os componentes? Precisamos processá-los e industrializá-los, com alta tecnologia, para capturar o valor agregado.”

Cledorvino Belini
Segundo Belini, não podemos ficar exportando montanhas e importando aço | Foto: Fábio Ortolan

Segundo o presidente da ACMinas, o mercado internacional visualiza com atenção os potenciais mineiro e brasileiro. Contudo, para transformar esse interesse em realidade, é preciso corrigir gargalos internos, como garantir segurança jurídica e infraestrutura adequada, além de ter políticas de Estado, e não apenas medidas de governo.

Soluções passam por enfrentar problemas de competitividade

No início deste mês, o governo de Minas Gerais anunciou uma marca significativa: mais de meio trilhão de reais em investimentos privados atraídos. O valor (R$ 506,5 bilhões) foi contabilizado desde 2019, início do primeiro mandato de Romeu Zema (Novo).

Dados da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico (Sede) indicam que a mineração respondeu pela maior parte dos aportes. Excluindo o setor mineral, foram atraídos mais de mil projetos em 320 municípios mineiros, com a geração de quase 270 mil empregos diretos. Confira a lista dos maiores valores por atividade:

  • Mineração (R$ 113 bilhões);
  • Infraestrutura (R$ 87 bilhões);
  • Energia solar (R$ 83 bilhões);
  • Automotivo e autopeças (R$ 41,1 bilhões);
  • Ferroviária (R$ 33,9 bilhões);
  • Sucroenergético (R$ 20,4 bilhões);
  • Minerais críticos (R$ 16,2 bilhões);
  • Siderurgia (R$ 12,7 bilhões);
  • Outras energias (R$ 12,4 bilhões);
  • Indústria química (R$ 10,8 bilhões);
  • Embalagens (R$ 9 bilhões);
  • Fertilizantes (R$ 8,8 bilhões).

O ex-secretário de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais e atual cônsul-geral honorário do Japão em Belo Horizonte, Wilson Brumer, elogia o esforço do Executivo estadual na atração de investimentos. Entretanto, ressalta que não se pode pensar no Estado isoladamente do Brasil quando se fala em agregação de valor. O País, de acordo com ele, enfrenta um problema de competitividade sistêmica que precisa ser solucionado.

“Pegue o agronegócio, setor reconhecido como uma das locomotivas de exportação do Brasil: ‘quanto ainda perdemos por falta de logística adequada, por exemplo?’ Então, o País tem que enfrentar seus problemas de competitividade”, afirma. “O custo de investimento no Brasil é três vezes maior do que em um país como a China, que, querendo ou não, é a fábrica do mundo atualmente. Como vamos competir?”, questiona.

Para Brumer, não existem empresas competitivas em um país que não é competitivo. Por isso, é preciso que o Brasil enfrente os entraves estruturais para atrair investimentos que realmente agreguem valor. Ele defende reformas estruturais, como a melhoria da infraestrutura, da segurança jurídica e a simplificação tributária. “Precisamos construir o Brasil que queremos. Hoje temos um projeto de poder, não de País.”

Os potenciais do Estado e do País para agregação de valor

Um Estado ou País nunca será competitivo em todos os setores, afirma o ex-secretário de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais. Segundo Brumer, é preciso identificar os potenciais de cada localidade – algo que pode ser desenvolvido com investimentos, políticas públicas e tempo, diferentemente da vocação, que está ligada a fatores naturais ou históricos, muitas vezes moldados por geografia, clima, cultura ou tradição produtiva.

Wilson Brumer
Brumer: não existem empresas competitivas em um país que não é competitivo | Foto: Fábio Ortolan

Nesse sentido, ele cita que o Sul de Minas, associado tradicionalmente à produção de café, também abriga, por exemplo, polos de tecnologia e de e-commerce, desenvolvidos após o reconhecimento dos potenciais. Também diz que, na região Norte, como na cidade de Montes Claros, o potencial para usinas solares se transformou em novo segmento produtivo.

A capacidade de atrair fábricas de baterias e o avanço na cadeia dos MCEs

Muito se fala que o Brasil precisa atrair fábricas de baterias para carros elétricos, visando agregação de valor. Brumer, contudo, não acredita que o País tenha esse potencial, já que, provavelmente, o mercado brasileiro deve consumir mais híbridos. Por outro lado, vê potencial para plantas de baterias voltadas ao armazenamento de energia, aproveitando a capacidade nacional de geração elétrica – e Minas poderia receber esses investimentos.

Também é recorrente o debate sobre o Brasil agregar valor à produção dos minerais críticos e estratégicos (MCEs). Porém, ele pondera que o País precisa, antes de tudo, conhecer seu subsolo – estima-se que apenas 30% do potencial geológico nacional já foi monitorado.

Nesse tema, vale destacar o lítio, considerado um mineral crítico, e citar novamente os elementos de terras-raras, classificados como minerais estratégicos – ambos são alvos de interesses globais em razão da transição energética. O Brasil concentra grandes reservas destes materiais, notadamente em Minas Gerais, mas é a China quem domina a tecnologia do refino. Conforme o ex-secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico, avançar na cadeia dessas substâncias significa competir com os chineses, algo que não é fácil.

Guia para fomentar negócios e o diálogo entre os setores público e privado

Com o objetivo de reforçar o papel de Minas Gerais como um dos principais destinos de investimentos no Brasil, a ACMinas lançou uma nova edição do Minas Gerais International Business Guide. O material apresenta um panorama das vocações regionais, cadeias produtivas, infraestrutura logística, ativos econômicos, polos de inovação, além de dados sobre o ambiente de negócios em Minas. A publicação está disponível no site da entidade.

De acordo com o presidente da associação, o documento tem potencial para auxiliar Minas Gerais na atração de investimentos com valor agregado. Belini salienta que o guia tem versões em idiomas além do português – italiano, espanhol, inglês, mandarim e francês – e expõe as possibilidades em solo mineiro para investidores.

Brumer destaca que é importante ter informações disponíveis de forma acessível como o Minas Guide propõe. Ele diz que também é fundamental haver diálogo constante entre os setores público e privado. Além disso, segundo o ex-secretário, os empresários precisam depender menos dos governos e buscar oportunidades por conta própria.

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