Da sucata ao desenvolvimento humano: o novo foco da ArcelorMittal para a economia do futuro
A Fundação ArcelorMittal decidiu colocar o fator humano no centro de sua nova frente de atuação: a economia circular. Após revisar seu planejamento de longo prazo, que busca aplicar as melhores práticas de gestão na área social e se dedica a criar oportunidades nos eixos de educação, cultura e esporte, agora a instituição busca integrar circularidade, desenvolvimento social e transição justa, movimento que a coloca entre os principais cases corporativos de nova economia no País.
A iniciativa nasce da constatação de que embora o Brasil tenha avançado na Agenda ESG, o componente social da economia circular permanece fragmentado e pouco compreendido. Por isso, o foco, conforme a diretora-executiva da Fundação, Camila Valverde, será atuar no desenvolvimento social das pessoas que trabalham com esse tipo de iniciativa, já que o tema ainda é majoritariamente tratado sob a ótica produtiva, considerando resíduos, processos e eficiência, enquanto a dimensão humana segue pouco explorada.
“A economia circular ainda é compreendida mais pelo viés de processos e materiais; falta um olhar para as pessoas. E é um tema atual e demandante por parte do setor privado, um modelo de economia diferente da economia que a gente está acostumado, na qual se extrai matéria-prima, produz, consome-se o produto e o descarta no final. Especialmente o aço tem uma conexão intimamente ligada à economia circular, já que é um produto infinitamente reciclável. Tanto que hoje, 70% da nossa produção já vem da sucata ferrosa”, afirma.

O novo pilar foi fundamentado por uma pesquisa da Ago Social, encomendada pela Fundação ArcelorMittal. O estudo mapeou como o investimento social privado (ISP) brasileiro – que movimentou R$ 5,4 bilhões em 2022 e R$ 4,41 bilhões em 2023 – se conecta à economia circular. A conclusão revela um grande que apenas 5% a 10% desse volume se relaciona a práticas circulares. Outros indicadores reforçam o diagnóstico, como a baixa formalização de catadores e cooperativas, presente em apenas 6,5% dos municípios brasileiros, segundo o Atlas Brasileiro da Reciclagem, uma das fontes de consultas do levantamento.
A pesquisa ainda indica que a economia circular pode gerar até US$ 4,5 trilhões anuais em oportunidades econômicas até 2030, além de 7 a 8 milhões de empregos no mundo, segundo estimativas internacionais. Para Camila Valverde, esses números reforçam a necessidade de incorporar a justiça social à transição. “A oportunidade de investir em projetos sociais focados nas pessoas que trabalham na economia circular é enorme. Essa pesquisa pode ajudar a fomentar todo o terceiro setor e clarear o potencial que temos pela frente”, resume.
Para a executiva, internamente, as conclusões ampliaram os horizontes da Fundação e reforçaram a importância de estruturar um investimento social voltado explicitamente à nova economia. Ela argumenta que o compilado mostra caminhos concretos para ampliar a associação entre investimento social privado e circularidade, fortalecendo a transição justa para uma economia de baixo carbono.
Economia circular como vetor estratégico de desenvolvimento
Com a nova frente, a Fundação ArcelorMittal se posiciona como um dos atores que tratam a circularidade não apenas como uma agenda técnica, mas como um vetor estratégico de desenvolvimento humano, uma conexão cada vez mais necessária para transformar a economia do futuro em realidade.
Para isso, a instituição dividiu a estratégia em três blocos, todos centrados nas pessoas. O primeiro foca na cidadania, dignidade e fortalecimento dos trabalhadores da circularidade, especialmente por meio de grupos historicamente invisibilizados, como catadores, sucateiros e costureiras organizadas em cooperativas. “O primeiro bloco promove cidadania, dignidade e fortalecimento das pessoas”, explica.
O segundo eixo aborda as condições de trabalho e o amadurecimento de processos, com atenção à regularização, formalização, saúde, segurança e capacitação. E o terceiro busca estimular novos negócios e ampliar a inclusão produtiva na cadeia da circularidade. “Queremos ampliar o número de pessoas inseridas nessa cadeia, estimulando negócios capazes de gerar emprego, renda e impacto positivo”, completa Camila Valverde.
Economia circular dentro e fora do negócio
Vale destacar que a indústria nacional do aço é um dos principais motores da economia circular no País, com a utilização de 9,2 milhões de toneladas de sucata ferrosa em 2023, segundo a pesquisa realizada pela Fundação ArcelorMittal.
Além disso, a nova frente dialoga diretamente com a operação da companhia, cuja cadeia produtiva já integra práticas avançadas de circularidade. Nos últimos três anos, a ArcelorMittal Brasil adquiriu cerca de 8,5 milhões de toneladas de sucata, material retirado de aterros e reintegrado ao ciclo produtivo. Isso porque, no País, 70% do aço da empresa é produzido a partir de sucata ferrosa, e a empresa opera 20 pontos de recepção e 25 prensas móveis, trabalhando com mais de 2 mil fornecedores. Para se ter uma ideia, apenas no segmento de aços longos, 54% da produção deriva da reciclagem.
Globalmente, são 30 milhões de toneladas de sucata processadas ao ano, sendo cerca de 3 milhões no Brasil. Em unidades como Pecém (CE) e Tubarão (ES), quase todo o volume de resíduos industriais já é transformado em coprodutos usados na construção civil, na agricultura e em tecnologias de reaproveitamento que tornaram a companhia referência no setor.
Para a Fundação, porém, a economia circular não se limita ao aço ou aos resíduos industriais. “Não estamos falando apenas da recircularidade da matéria-prima, mas de tudo que se relaciona com a cadeia produtiva e com as comunidades onde atuamos. O alcance territorial da iniciativa será nacional, com prioridade para regiões onde a empresa está presente, mas sem restringir a atuação a elas”, reforça.
Por fim, a executiva revela que o modelo foi estruturado para ser implementado gradualmente a partir de 2026, com análise de projetos já existentes nas leis de incentivo e iniciativas alinhadas à estratégia. E que a Fundação também pretende estimular parcerias com institutos e fundações, além de empresas da cadeia do aço.
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