De commodity a bioproduto, madeira vira caminho estratégico

A agregação de valor ainda é um desafio tanto para Minas Gerais quanto para o Brasil. Neste sentido, o Parceiros do Futuro tem se proposto a discutir o futuro e elaborar uma proposta da sociedade para o desenvolvimento do Estado. E os três pilares nos quais o projeto se organiza, envolvem:
- a diversificação da economia, reduzindo a dependência das commodities de baixo valor agregado, buscando atividades de maior complexidade para aumentar a retenção de valor nas localidades;
- a busca por tecnologias verdes e processos de produção regenerativos, aproveitando a disponibilidade de energia limpa e os recursos naturais para ganhar competitividade no mercado externo e a urgência de enfrentar o desequilíbrio climático; e
- a geração de riqueza de forma mais equilibrada, reduzindo a desigualdade entre regiões e pessoas com o objetivo de promover mais desenvolvimento e ativar o imenso potencial do capital humano e da diversidade cultural
O setor florestal parece se encaixar nos três pilares. “Se fosse para Minas Gerais fazer apostas e investimentos em agregação de valor, eu, com certeza, investiria no plantio florestal porque pode integrar as diferentes frentes em um mesmo projeto, rumo à economia verde”, diz a presidente da Associação Mineira da Indústria Florestal (Amif), Adriana Maugeri.

Mas, para isso, a indústria precisa participar do processo de ponta a ponta e não apenas em etapas das cadeias. “Isso é um desafio para o Brasil, porque a gente tem baixa produtividade, baixa oferta de mão de obra qualificada e especializada, um custo maior que muitos países. Mas, apesar disso, temos agora o grande apelo pela madeira como fonte de matéria-prima limpa”, admite.
E o setor florestal pode ser fundamental para este processo, já que a estimativa é que haja mais de 5 mil bioprodutos nos segmentos de alimentação, medicamentos, cosméticos, biocombustíveis e até tecidos, que podem ser fabricados a partir das florestas plantadas.
“Quase tudo o que se faz com petróleo pode ser feito com madeira, por processos físico-químicos distintos. São mais de 5 mil bioprodutos, alguns que nem foram descobertos ainda, por isso, a inovação precisa ser retroalimentada, o que nos promete revolução verde e um caminho sem volta nos próximos anos. Não tem como fugir desse potencial de agregar valor em áreas que incluam o uso de combustíveis a partir da madeira, usos na medicina, na carenagem de avião – um universo de produtos que a sociedade, cada vez mais, vai demandar. Não tem mais como a gente continuar se não pensarmos em proteção ambiental concomitante com a produção econômica e as florestas plantadas são um grande instrumento para esse processo”, explica.
Conheça os potenciais dentro de cada setor
- Papel e celulose: Todos os papéis (sanitário, de secar mãos, higiênico, lenços umedecidos, fraldas, papel de parede, de imprimir e escrever, cadernos) são 100% feitos com madeira de florestas plantadas, passando por um ciclo renovável. Papel e celulose, especialmente de eucalipto e pinus, são o produto da indústria florestal que mais contribui para a balança comercial do agronegócio mineiro;
- Carvão vegetal: Utilizado como biocombustível e biorredutor para descarbonizar a siderurgia. Em Minas Gerais, 100% do carvão vegetal consumido pela indústria deve ser de floresta plantada por legislação.
- Biomassa para produção de energia: O cavaco de madeira está crescendo muito em Minas Gerais como substituição para termoelétricas a óleo, atuando como uma fonte de energia renovável de biomassa. A biomassa também é usada na entressafra da cana para abastecer a geração de energia.
- Outros produtos: Forração para avicultura, estruturas de curral para pecuária, cercas, móveis, janelas, esquadrias, pisos e painéis; e até mesmo lápis para colorir.
Inovação como motor
Para viabilizar tudo isso, é preciso investimento em inovação. A presidente da Amif explica que o grande boom vivido pelo setor florestal neste quesito está dentro das empresas que, por meio de parcerias e com capital intensivo, têm investido fortemente em pesquisa e desenvolvimento. Desta maneira, seja com o apoio e financiamento da academia na inovação direcionada para as necessidades do setor ou com a contratação de profissionais para esse desenvolvimento, o resultado é um só: coloca o Brasil à frente do restante do mundo quando o assunto é o desenvolvimento de produtos a partir da madeira.
- Leia também: Setor é estratégico para a economia verde
“No Brasil, de uma forma geral, o ecossistema de inovação tem as grandes empresas ou parcerias estabelecidas entre empresas como impulsionador. Isso mostra a importância da cooperação. No setor florestal, já vemos esse tipo de iniciativa no desenvolvimento de soluções. As indústrias automobilística, de construção, cosméticos e alimentos são algumas delas”, enumera.
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