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Minas Gerais como referência em inovação no Brasil

Os investimentos públicos voltados à inovação somaram R$ 1 bilhão no Estado
Minas Gerais como referência em inovação no Brasil
BH-Tec: espaço está 100% ocupado e busca ampliar conexões | Foto: Divulgação BH-Tec

Minas Gerais se consolida como um dos principais polos de inovação do Brasil, atraindo investidores, pesquisadores e empresas que buscam um ambiente favorável para o desenvolvimento tecnológico. Um conjunto robusto de políticas públicas e incentivos financeiros tem impulsionado o ecossistema de ciência, tecnologia e inovação, destacando o Estado entre os estados brasileiros no apoio ao empreendedorismo inovador.

Os investimentos públicos voltados à inovação somaram R$ 1 bilhão por meio da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico (Sede-MG) e de órgãos parceiros e entidades, como a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig). Mais R$ 1 bilhão está previsto para os próximos anos.

Esse recurso não é apenas uma injeção financeira, mas parte de uma estratégia ampla que engloba programas de incentivo à inovação em negócios de todos os portes, apoio a startups, centros de pesquisa e à inovação no setor público. O pacote inclui iniciativas que abrangem desde a formação de jovens talentos até o apoio à digitalização de pequenas e médias empresas.

Mas apenas isso não é suficiente. Apesar de reunir todos os ingredientes de um ecossistema de inovação – startups, incubadoras, aceleradoras, fundos de investimento, parques tecnológicos e universidades -, Minas ainda não conseguiu dar o salto necessário. Para o CEO do Parque Tecnológico de Belo Horizonte (BH-Tec), Marco Crocco, a razão é simples: falta coordenação.

“O setor público falhou. Pelo menos cinco ou seis governos seguidos não conseguiram articular uma estratégia de longo prazo. E, sem liderança, não há projeto coletivo que avance”, critica. Ele lembra que a nova política industrial nacional, estruturada em torno de “missões”, pode servir de inspiração. “Quando Kennedy disse que os Estados Unidos colocariam um homem na Lua antes da União Soviética, aquilo era uma missão. Minas também precisa de uma: um objetivo claro, que mobilize sociedade, governo e setor privado.”

E alerta para a necessidade de uma articulação conjunta e de um esforço de todos os agentes de forma a instituir uma política de inovação perene e atuante, que envolva setor privado, Estado e universidades e que cada setor seja capaz de entender o outro.

“Basta olharmos quantas reuniões as diferentes gestões da Fiemg fizeram em busca de redução de impostos e incentivos tributários e quantas em favor de uma política de inovação eficiente para o Estado. Falta conexão, falta entendimento. Além da submissão à lógica fiscal, que em Minas Gerais é realmente preocupante e urgente, o que o setor produtivo quer é que se resolva o problema dele: que se abaixe o custo de produção, que a universidade assuma a formação de mão de obra e ele mal paga por isso”, reclama.

Na avaliação do economista, o debate entre Estado e mercado é uma armadilha que paralisa o desenvolvimento. “Não existe experiência de sucesso baseada apenas no mercado ou apenas no planejamento estatal. O que funciona é o diálogo. Há momentos em que o Estado precisa entrar e outros em que o setor privado lidera. O que não dá é simplificar com ‘Estado é ruim, mercado é bom’, ou o contrário. Essa polarização não leva a lugar nenhum.”

O desafio, reforça Crocco, é transformar o conhecimento produzido em Minas em desenvolvimento econômico e social. Por enquanto, o que temos são ambientes de inovação fracassados. “Estão todos vazios. Por outro lado, o BH-Tec está cheio. Por quê? Porque temos a conexão com a universidade. Ligamos o setor produtivo à academia. Não somos um prédio imobiliário, somos um ambiente de inovação. Essa é a grande diferença. E isso não deixa de ser uma política que fortalece a interação”, diz.

BH-Tec é reconhecido nacionalmente como polo de inovação

Tamanho esforço e diferenciais não poderiam resultar em outro cenário senão em um ambiente altamente requisitado e reconhecido em diferentes esferas e por diferentes instituições.

No ano passado, por exemplo, o BH-Tec venceu o Prêmio Nacional Anprotec de Empreendedorismo Inovador, a principal premiação para ambientes de inovação no Brasil. Neste ano, o centro está disputando o mesmo prêmio, desta vez na categoria Aceleradora.

“O BH-Tec estava quebrado em 2019, quando a gente chegou e, com muita dedicação e apoio da UFMG e dos sócios-fundadores, conseguimos ressignificar o Parque. O BH-Tec está 100% ocupado e recuperamos a nossa imagem no ecossistema de inovação”, afirmou o CEO do Parque, Marco Crocco, ao receber o troféu.

Crocco reforçou que, há cinco anos, o Parque tinha 60% de ocupação e estava com “uma grave crise de imagem, com ausência de gestão de inovação e era visto pela sociedade como um condomínio de empresas.”

Já a chance de reconhecimento deste ano é um exemplo claro da união de esforços, na prática, por meio do Hub de Inovação Multifuncional do BH-Tec. A categoria “Aceleradora – Troféu Lynaldo Cavalcanti” reconhece iniciativas que não apenas aceleram startups, mas também criam pontes entre empreendedores, investidores e mercados, gerando impacto concreto para a sociedade.

O BH-Tec concorre com um projeto que tem um diferencial: o Prêmio Assembleia de Incentivo à Inovação – Crise Climática, fruto da parceria inédita entre o Parque e a Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).

Lançado em 2024, o edital mobilizou pesquisadores, empreendedores e agentes do ecossistema mineiro em busca de soluções para um dos maiores desafios do nosso tempo: as mudanças climáticas.

Dez propostas foram selecionadas e, desde janeiro deste ano, passaram por um programa estruturado e executado pelo BH-Tec, com acesso a capacitações, mentorias especializadas e validação técnica.

Mais do que um programa, o projeto mostra como a união de esforços pode gerar resultados concretos e abrir caminho para que outros estados também apostem nesse modelo colaborativo. Por fim, o Parque também é finalista do Prêmio Finep, na categoria ambiente de inovação.

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