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Impactos e caminhos para cada setor em Minas Gerais com ofensiva de Trump

Impactos e caminhos para cada setor em Minas Gerais com ofensiva de Trump
Crédito: Carlos Barria / Reuters

Governo, especialistas em comércio exterior, economistas e entidades representativas das mais diversas atividades ainda analisam os impactos das mudanças impostas pelos EUA para o Brasil e Minas Gerais. Todos afirmam ser cedo para qualquer projeção, mas alertam para as turbulências que já surgem nas negociações internacionais e os riscos impostos ao crescimento econômico mundial.

Nas últimas semanas, o Diário do Comércio ouviu alguns dos principais setores que compõem a balança comercial mineira. Confira, a seguir, como cada atividade recebeu as barreiras impostas por Trump no início de abril.

O minério de ferro, por exemplo, lidera a pauta econômica de Minas Gerais, respondendo, historicamente, por mais de 30% dos embarques totais do Estado. Apenas em 2024, as receitas com o insumo siderúrgico somaram mais de US$ 12,5 bilhões, a partir de um total de quase 172 milhões de toneladas comercializadas.

  • Na reportagem “Guerra comercial pode impactar minério de ferro, mas mercado deve se adaptar”, publicada no dia 9 de abril, especialistas do setor apontaram que a guerra comercial iniciada pelo governo dos Estados Unidos deve pressionar para baixo o preço internacional do produto no curto prazo.

    A expectativa é que o insumo, com preço de referência em torno de US$ 100 por tonelada naquela data, caia para patamares próximos a US$ 95, impactando os planos de investimentos e estratégias das mineradoras, inclusive gigantes como a Vale.

    Apesar do cenário incerto, analistas como Pedro Galdi, da Plataforma AGF, e Samuel Chagas, da 3A RIVA Investimentos, disseram que os preços devem se recuperar no médio e longo prazos. Fatores como a valorização cambial, principalmente do dólar, e os estímulos artificiais do governo chinês à sua economia podem sustentar a retomada. Ainda assim, o setor deverá buscar ganhos de eficiência para manter a lucratividade, mesmo em um cenário de retração temporária nas cotações.

    Para os economistas, o movimento de Trump visa pressionar a China – principal cliente do minério de ferro brasileiro – e forçar uma renegociação do comércio global. No curto prazo, o impacto direto será sentido na revisão de estratégias das mineradoras e na desaceleração temporária do comércio internacional, com efeitos mais intensos nas economias exportadoras como Minas Gerais.

  • Já o conteúdo “Setor de autopeças pode rever investimentos com guerra comercial”, do mesmo dia, trouxe a percepção da atividade, que alega que as medidas de Donald Trump podem adiar ou até suspender os investimentos previstos pelo setor em Minas Gerais neste ano. O alerta é do diretor regional do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças), Fábio Sacioto, que apontou o impacto das tarifas sobre o comércio com o segundo principal mercado para as exportações brasileiras de componentes automotivos.

    A estimativa do setor é investir cerca de R$ 700 milhões no Estado em 2025, acima dos R$ 650 milhões do ano anterior, mas ainda insuficiente para reverter o déficit comercial da atividade — que, com os Estados Unidos, chegou a US$ 872 milhões em 2024. Mas, com o novo cenário de incerteza global, os empresários estudam postergar aportes até que se definam os rumos da disputa entre as potências.

    Segundo estimativas do Sindipeças e da Sindipeças e da Associação Brasileira da Indústria de Autopeças (Abipeças), a tarifa adicional de 25% para importação de veículos e componentes pode gerar um aumento de US$ 275 milhões em impostos pagos por empresas norte-americanas, o que tende a reduzir a competitividade das exportações brasileiras e pressionar a cadeia produtiva.

    A elevação das tarifas e a possível desaceleração do comércio global geram preocupações com a inflação mundial e podem comprometer os ciclos de redução de juros, tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil. Além disso, com a Selic ainda em patamar elevado, muitos empresários optam por investimentos financeiros em vez de produtivos.

    Outro ponto de atenção é a possibilidade de redirecionamento da produção excedente da China e da Índia para mercados com menor proteção tarifária, como o Brasil. Com as novas barreiras nos Estados Unidos, os veículos e autopeças chineses podem inundar o mercado brasileiro, acirrando a concorrência e gerando novos desafios para a indústria local.
  • Já o segmento de fundição avalia as tarifas como positivas do ponto de vista do mercado externo, mas segue apreensivo em relação ao consumo nacional. É o que apontou a reportagem “Tarifaço de Donald Trump pode beneficiar fundição mineira”, do dia 12 de abril. 

    É que o setor em Minas Gerais pode ganhar competitividade no mercado internacional com a imposição de tarifas mais altas dos Estados Unidos sobre produtos importados da Índia, segundo o presidente do Sindicato da Indústria de Fundição no Estado (Sifumg), Bráulio Campos. Caso a tarifa para as peças indianas suba para 26% e a dos produtos brasileiros se mantenha em 10%, empresas mineiras devem conquistar espaço junto aos clientes norte-americanos. Mas vale lembrar que o país asiático está em negociação com o norte-americano e as medidas seguem suspensas.

    Enquanto aguarda os desdobramentos da guerra comercial, o setor enfrenta dificuldades no mercado interno. A queda na demanda no último trimestre e o alto nível de ociosidade preocupam o sindicato, que vê pouca disposição para novos investimentos em 2025, sobretudo diante da taxa Selic elevada. 

    Com juros atualmente em 14,25% ao ano e previsão de encerrar o ano em 15%, Campos alertou para o risco de recessão. “Com taxa de juros alta, nada vai para frente”, afirmou, destacando que o ambiente econômico nacional desestimula o avanço da indústria.

  • Ainda sem impacto, setor de ferro-gusa em Minas Gerais está apreensivo com tarifaço” foi a reportagem sobre o setor de ferro-gusa, no dia 19 de abril, falando que as siderúrgicas independentes acompanham o cenário com apreensão. O presidente do Sindicato da Indústria do Ferro de Minas Gerais (Sindifer-MG), Fausto Varela, explicou que a tarifa de 10% aplicada ao ferro-gusa – inferior aos 25% do aço – permite certa margem para negociação com os clientes norte-americanos, que seguem demandando o produto mineiro.

    Atualmente, cerca de 70% da produção de ferro-gusa do Estado é destinada ao mercado externo, sendo os Estados Unidos responsáveis por 85% desse total. Diante dessa dependência, tanto das usinas mineiras quanto da própria indústria norte-americana, Varela acredita que ainda há espaço para reverter ou amenizar a alíquota imposta, o que tem sustentado a expectativa de estabilidade no setor.

    Apesar do otimismo cauteloso, a situação é delicada. O setor já vinha tentando se recuperar de dois anos consecutivos de queda na produção – a retração em 2024 foi de 3,2% – e ainda enfrenta entraves logísticos com a paralisação do terminal multimodal de Aroaba, no Espírito Santo, fundamental para o escoamento do ferro-gusa produzido em Minas. Sem o terminal, os custos operacionais aumentaram, afetando a competitividade e produtividade das usinas.
  • Por fim, a reportagem “Exportação do agronegócio tem trimestre histórico em Minas Gerais”, abordou as expectativas do setor quanto as medidas de Trump, numa perspectiva positiva.

    “Para os próximos meses, talvez tenhamos mais notícias boas com a oportunidade de fazer transações com novos mercados, tendo em vista que o tarifaço aplicado pelos Estados Unidos pode fazer com que outros países busquem novas rotas para adquirir produtos agropecuários”, disse a assessora técnica da Secretaria de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), Manoela Teixeira.

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