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Investimentos privados e o futuro de Minas Gerais

Saber que Minas é competitiva na atração de investimentos é motivo de comemoração, mas é preciso entender para onde irão esses recursos e se vão, de fato, mudar para melhor a economia mineira, produzindo riquezas de forma mais equilibrada e sem causar prejuízos ao meio ambiente
Investimentos privados e o futuro de Minas Gerais
Crédito: Victor Fagundes / Sede

O que queremos para o futuro de Minas? O que pode ser feito para que o Estado possa se desenvolver mais, de forma mais equilibrada num contexto de crise climática e de nova economia? Para buscar respostas para essas e outras perguntas iniciamos com o Diário do Comércio o projeto “Parceiros do Futuro”, que vai ouvir a sociedade e debater soluções para o futuro de Minas.

Este artigo vai na intenção de continuar a debater, começando por analisar os investimentos anunciados pelo governo do Estado. A capacidade de investimento é um elemento central para o processo de desenvolvimento econômico ao gerar novos empregos e aumentar a renda, gerando um ciclo positivo ao demandar mais produtos e serviços de outros setores.

Minas Gerais tem atraído grande fluxo de investimentos nos últimos anos. Os últimos dados, inclusive noticiado pelo Diário do Comércio, apontam uma intenção de investimento de R$ 460 bilhões entre 2019 e 2025, com a ressalva que a intenção não significa necessariamente que o investimento foi de fato realizado.

A partir de um pedido formal no portal da transparência do governo estadual, obtido no dia 2 de janeiro de 2025, foi possível analisar a distribuição de R$ 403,5 bilhões de intenção de investimentos por setor e região de Minas entre os anos de 2019 e 2024. Os demais aportes, que totalizam R$ 460 bilhões, estão sob sigilo e não foram disponibilizados para análise.

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Investimentos por setores em Minas Gerias (2019 a 2024) – Fonte Portal da Transparência

Um primeiro ponto que chama atenção é a concentração dos investimentos em setores específicos, já que sete de um total de 43 respondem por 80% dos recursos. São eles: mineração (25% – R$ 99,9 bilhões), infraestrutura (21% – R$ 85,9 bilhões), energia solar (15% – R$ 62 bilhões), ferroviária (8% – R$ 33,9 bilhões), sucroenergético (4% – R$ 16,5 bilhões), automotivo e peças (4% – R$15,3 bilhões) e minerais críticos (3% – R$ 10,1 bilhões).

A mineração ainda reflete o perfil extrativista de Minas Gerais, cabendo uma reflexão sobre o perfil de tal investimento e o questionamento da agregação de valor, como o exemplo da empresa RHI Magnesita.

Os demais setores no topo da lista, se integrados a partir de uma visão de longo prazo, podem contribuir ativamente para a evolução da estrutura produtiva do Estado.

Outro ponto é o crescimento dos investimentos no Norte de Minas, em especial para os setores de energia solar e farmacêutico. A região recebeu 19% do volume de investimentos anunciados entre 2019 e 2024, totalizando R$ 78 bilhões, ficando atrás somente da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBGH), com 43% do total. Já o Noroeste de Minas e o Vale do Jequitinhonha possuem baixa participação com 4% e 1% do volume de investimentos anunciados nesse período.

Um terceiro ponto para ter atenção: setores tradicionais para a economia mineira como siderurgia e metalurgia representaram apenas 3% do volume de investimentos anunciados. Minas é grande produtora de minérios, possui conhecimento instalado e exemplos de sucesso para verticalizar cadeias produtivas integrando mineração, siderurgia e metalmecânico.

Além dos investimentos, o que mais é necessário para caminharmos em direção ao Cenário de Prosperidade Real

  1. A manifestação de investimento precisa ser traduzida em realidade, com acompanhamento pela sociedade mineira. Isso permitirá compreender quais produtos e serviços serão mais demandados pelas novas empresas que estão se instalando e qual a curva de contratação e o perfil de emprego serão gerados nas regiões de Minas. Preparar mão de obra leva tempo e exige planejamento de médio e longo prazo;
  2. Ainda há grande diferença de desenvolvimento entre as regiões e baixa integração entre elas. É necessário criar uma agenda de desenvolvimento regional integrado de forma que uma região possa gerar demanda para as outras, fazendo com que o Estado cresça de forma mais equilibrada;
  3. Novos investimentos alteram a configuração do perfil econômico do Estado e, por isso, precisam ter uma intenção por trás deles. O que queremos para Minas? Queremos um Estado com diversificação econômica ou orientado para commodities? Os investimentos anunciados vão reduzir o impacto ambiental ou vão produzir novos efeitos indesejáveis como desastres ecológicos e sociais? Vão gerar empregos de melhor qualidade com salários elevados ou só vão criar vagas de baixa qualificação e salários baixos?

Saber que Minas é competitiva na atração de investimentos é motivo de comemoração, mas é preciso entender para onde irão esses recursos e se vão, de fato, mudar para melhor a economia mineira, produzindo riquezas de forma mais equilibrada e sem causar prejuízos ao meio ambiente. Não se trata de uma agenda simples. É fundamental que o planejamento do Estado tenha participação da população sobre os rumos que estão sendo construídos e dê clareza sobre as oportunidades que estão sendo geradas.

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