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Especialistas defendem equilíbrio fiscal como base para crescimento duradouro

Cenário exige um ambiente de negócios mais dinâmico, investimentos em educação de qualidade e políticas públicas voltadas à inovação
Especialistas defendem equilíbrio fiscal como base para crescimento duradouro
Foto: Reprodução Adobe Stock

Se, no curto prazo, juros altos e incertezas externas reduzem o ritmo da economia, no longo prazo o desafio é outro: construir um modelo de desenvolvimento capaz de garantir estabilidade, inovação e inclusão. E, neste cenário, políticas monetária e fiscal e crescimento sustentável são complementares e precisam ser articulados a uma estratégia de futuro.

É nessa direção que caminha o Parceiros do Futuro, iniciativa do Diário do Comércio que busca pensar cenários para Minas Gerais e o Brasil até 2040. Minas tem mostrado resiliência, mas ainda depende das commodities, o que não garante prosperidade duradoura.

A pergunta que se impõe, então, é: como transformar os setores já fortes em motores de transição para uma economia mais inovadora e menos vulnerável a choques externos?

Cenários elaborados pelo projeto mostram que Minas pode avançar em áreas como biotecnologia, energias renováveis, indústria criativa e economia digital. Para isso, serão necessários um ambiente de negócios mais dinâmico, investimentos em educação de qualidade e políticas públicas voltadas à inovação.

Curto prazo x longo prazo

Especialistas explicam que a urgência de planejar o futuro não é incompatível com as pressões imediatas da conjuntura. Pelo contrário: quanto mais difícil o presente, mais necessário é projetar o longo prazo. E essa é a lógica do Parceiros do Futuro, que une empresários, especialistas e sociedade civil em busca de respostas para o próximo ciclo de prosperidade.

O mestre em administração e professor de administração e ciências econômicas da Newton Paiva Wyden, Franz Petrucelli, defende que o equilíbrio fiscal é um pré-requisito para o desenvolvimento sustentável. Segundo ele, ambos devem caminhar como partes de uma solução, pois a credibilidade cria um ambiente favorável a investimentos de longo prazo em projetos sustentáveis. “Se eu quiser ter desenvolvimento sustentável, tenho que ter equilíbrio fiscal nas contas públicas”, diz.

Na prática, a política monetária brasileira, ao dialogar com investimentos de longo prazo, seja em inovação ou infraestrutura, pode tornar-se uma poderosa ferramenta para o desenvolvimento sustentável. O desafio, porém, está na conciliação entre o combate à inflação no curto prazo e a necessidade de estimular economicamente setores estratégicos para o futuro. A taxa de juros surge, então, como principal motor para isso.

“Uma política monetária mais flexível, que permita a queda gradual dos juros, torna o crédito para investimento de longo prazo mais acessível e mais barato. Esse crédito é fundamental para os projetos de infraestrutura, inovação, pesquisa e desenvolvimento. É preciso estabelecer uma política monetária que, ao mesmo tempo, estimule o consumo e atraia investimentos, promovendo o desenvolvimento”, avalia o especialista.

Por outro lado, também existem oportunidades, já que, segundo Petrucelli, juros baixos possibilitam maior acesso ao crédito e também uma diversificação do financiamento, gerando desenvolvimento em diferentes áreas.

Já o gestor de recursos CGA do Grupo Fractal, Vinicius Rodrigues, chama atenção para os efeitos da taxa básica de juros em patamares considerados restritivos. Segundo ele, além de frear o consumo e reduzir o crédito e, consequentemente, os investimentos, afeta o crescimento do PIB no médio prazo, assim como a valorização cambial. Isso porque a Selic elevada favorece a entrada de capital estrangeiro no País, em busca de melhores rentabilidades.

Mas Rodrigues pondera que, apesar de uma política monetária restritiva poder parecer caminhar em uma direção oposta aos investimentos, isso acontece, de fato, no que se refere a aportes de curto prazo.

“Investimentos de longo prazo, como os de infraestrutura e inovação, são beneficiados em cenários de estabilidade econômica, com menos incertezas e volatilidade. Com instabilidade econômica, essas projeções ficam menos assertivas, o que exige um prêmio de risco maior para atrair investidores. Assim, um movimento de política monetária restritivo, que traz a inflação para o controle, excluindo outras variáveis, oferece mais estabilidade econômica ao País, favorecendo esse tipo de investimento”, explica.

Ao mesmo tempo, o gestor do Grupo Fractal alerta que uma política fiscal desequilibrada provoca ainda mais incertezas nas expectativas futuras do Brasil e, com isso, os investidores exigem um maior prêmio de risco para investimentos, encarecendo os financiamentos.

“No caso específico do Brasil, temos muito espaço para desenvolvimento, uma vez que somos grandes produtores de commodities. Com mais investimento nesse setor, é possível a exportação de bens manufaturados, elevando o valor agregado do produto. Mas, para atrair esses investimentos, o País precisa mostrar mais segurança e estabilidade, principalmente do lado fiscal, que é onde há o maior desequilíbrio atual”, afirma.

Economia mais inovadora e resiliente

Franz Petrucelli argumenta que, para uma transformação dos setores atualmente fortes em motores de transição, as políticas monetárias e fiscais precisam ir além do momento presente e se articular em uma estratégia de futuro com o objetivo de construir uma economia mais inovadora e resiliente. O desafio é usar a força desses setores para financiar e impulsionar a diversificação econômica, reduzindo a dependência de produtos básicos e abrindo caminhos para novas tecnologias e novos mercados.

E, tratando-se especificamente de Minas Gerais, ele lembra que o Estado enfrenta uma combinação de desafios estruturais e oportunidades estratégicas. “O Estado tem uma das maiores dívidas públicas do País, que consome parte significativa do orçamento em juros e amortizações. Além disso, é notável que a economia mineira é fortemente dependente de alguns setores tradicionais, como a mineração e a agricultura. Mas existem inúmeras oportunidades, como a própria diversificação econômica, uma vez que o Estado tem um ecossistema de inovação em crescimento, com várias universidades e centros de pesquisa de excelência, ideais para a transição para uma economia de base tecnológica, que pode ser acelerada com políticas fiscais. Além disso, há o potencial natural enorme em energias renováveis, podendo se tornar um líder na transição energética do Brasil”.

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