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Brasil lidera produção mineral, mas ainda falha na transformação industrial

Setor já tem protagonismo na produção, mas precisa vencer entraves e desenvolver cadeias completas para gerar empregos e diversificação
Brasil lidera produção mineral, mas ainda falha na transformação industrial
Área de mineração de areia no Brasil | Foto: Reprodução Adobe Stock

A mineração brasileira se aproxima de um ponto de inflexão. A exigência por uma atividade mais sustentável, inovadora e socialmente integrada já não parte apenas de reguladores ou da sociedade civil, mas do próprio mercado – nacional e internacional. Por isso, o diretor de Comunicação e Projetos do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), Paulo Henrique Soares, vê na transformação tecnológica e nas mudanças sociais uma oportunidade para reposicionar a mineração brasileira.

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Para ele, as empresas precisam abandonar a postura de isolamento e assumir um papel ativo na construção dos desenvolvimentos locais. “A mineração do futuro precisa de uma nova mentalidade. Não somos mais o centro dos territórios – somos parte deles. E isso exige escuta, diálogo, corresponsabilidade”, admite.

Essa mudança de perspectiva envolve, antes de tudo, a qualificação da mão de obra. O setor mineral, tradicionalmente intensivo em capital, agora se vê diante da necessidade de incorporar profissionais com novos perfis, preparados para lidar com automação, análise de dados, sustentabilidade e relacionamento comunitário. Especialistas apostam que muitas dessas profissões ainda nem existem e que isso demanda investimentos urgentes em formação técnica e superior, em diálogo com universidades e centros de pesquisa.

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Outra frente de debate relevante está na agregação de valor. Neste quesito, Soares reconhece que ainda há muito a avançar, mas destaca que cada cadeia mineral possui características específicas, o que exige políticas diferenciadas. Enquanto o ferro enfrenta desafios ligados à siderurgia e à logística global, minérios como o nióbio, o lítio e o alumínio oferecem oportunidades mais imediatas para a formação de cadeias completas no País. O caso do lítio, por exemplo, exige atrair para o País os players responsáveis pela produção de baterias – e isso depende de estratégia governamental e ambiente de negócios favorável.

O executivo do Ibram reforça que o setor mineral está disposto a ser parte dessa transformação, mas que há entraves estruturais a serem superados:

  • a fragilidade institucional da Agência Nacional de Mineração (ANM);
  • a carência de investimentos em mapeamento geológico;
  • e a falta de linhas de crédito específicas para pequenas e médias mineradoras.

“Sem segurança jurídica, conhecimento do subsolo e fomento à inovação, fica difícil sair do lugar”, alerta.

Na visão de Soares, o País já é protagonista na produção mineral, mas ainda é coadjuvante na transformação industrial dos seus próprios recursos. Para ele, essa assimetria pode ser corrigida com um plano de Estado, e não apenas de governo, que articule infraestrutura, inovação, educação e política industrial.

“A mineração precisa continuar sendo uma base sólida da economia brasileira – mas ela pode ser também o trampolim para novos setores, para novos empregos e para um desenvolvimento mais duradouro”, conclui.

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