Impactos da tarifa e a urgência do planejamento empresarial

Na outra ponta, os reflexos da tarifa já começaram a aparecer. De acordo com o presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças de Minas Gerais (Ibef-MG), Julio Damião, áreas como madeira, café, suco de laranja e mineração já vêm sendo diretamente afetadas, mesmo antes da entrada em vigor das tarifas.
“Empresas estão colocando funcionários em férias coletivas. Não estamos esperando o dia 1º de agosto. O impacto já começou. Os Estados Unidos vão ficar mais caros para nós”, disse em vídeo publicado nas redes sociais.
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Damião destaca que a principal falha do Brasil está na ausência de canais institucionais de comunicação. “Não temos diálogo entre governos, nem entre empresas. E mesmo que houvesse, o que os EUA estão exigindo hoje é inegociável. A partir disso, não se trata mais de otimismo ou pessimismo. É agir”, alerta.
Segundo ele, o segundo semestre será especialmente duro. Muitas empresas não conseguirão manter a receita que tiveram no primeiro semestre e, ao contrário do que se diz, não será fácil substituir o mercado norte-americano. “Outros países não absorvem a demanda dos Estados Unidos. E muitos produtos são adaptados ao regulatório de lá. Por isso, é preciso rever as operações, travar o câmbio, preparar o caixa. O dólar ainda não reagiu, mas vai. O mercado é míope e bipolar”, resume.
Hora de escolher lados – e de mudar o jogo
Para o professor da Fundação Dom Cabral (FDC) Paulo Vicente, Paulo Vicente, o Brasil se colocou numa posição frágil ao tentar evitar escolhas por tempo demais. “Durante pelo menos uma década, nos recusamos a decidir com quem negociar prioritariamente. Foi assim que a gente foi protegendo parte da nossa indústria. Agora, o mundo exige que se escolha os lados”, afirma. E completa que o protecionismo está crescendo globalmente, inclusive como resposta à enxurrada de produtos chineses.
O professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Ricardo Machado Ruiz, concorda. “Estamos há quase quatro décadas ou mais, montando cadeias globais de valor. Aí vem o cidadão e desmonta tudo isso, de forma generalizada e indiscriminadamente. Por isso, agora, não basta mais proteger setores, é preciso construir alianças e demonstrar relevância”, conclui.
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