Educação é pilar essencial para o futuro de Minas Gerais e do Brasil

Minas Gerais, assim como o Brasil, enfrenta desafios significativos de longo prazo para o seu desenvolvimento sustentável. O maior obstáculo para esse crescimento duradouro continua sendo a educação. A produtividade futura do País, e, consequentemente, do Estado, depende primordialmente da evolução da educação, crucial para formar novas mentes capazes de desenvolver e manter novos negócios. Embora tenha havido melhorias no acesso à universidade desde o início dos anos 2000, a qualidade do ensino primário, fundamental e médio ainda é uma preocupação.
A análise é do economista do Instituto de Pesquisas Econômicas, Administrativas e Contábeis da Universidade Federal de Minas Gerais (Ipead), ligado à Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Paulo Casaca. Segundo ele, essa evolução é essencial para a busca de novas atividades econômicas e para a diversificação, que muitas vezes aparece como ponto central dos desafios de Minas Gerais. “É por meio de um capital humano qualificado e de um nível educacional elevado que novas mentes serão formadas, capazes de descobrir novos negócios e impulsionar a economia”, diz.
Casaca lembra que há muito capital humano e espaço no Estado para buscar novos negócios, especialmente quando o setor de mineração não puder mais desempenhar o mesmo papel diretivo que exerce há centenas de anos na economia mineira. Mas reforça: a educação é chave para aproveitar essa oportunidade. Para ele, é necessário lembrar que o recurso é finito e que buscar alternativas também é essencial, ao mesmo tempo em que se deve atuar da forma mais responsável possível para continuar extraindo minerais enquanto for viável. Ele ressalta ainda que isso depende de como a sociedade, representada por governos e instituições, atua e cobra das empresas.
“Buscar alternativas econômicas em nossas vocações vai depender muito da evolução da educação. Só conseguimos saltar para novas atividades a partir de novas cabeças pensantes acerca dos potenciais já existentes. Mas eu não apostaria nisso como um mote de desenvolvimento. É como quando, no passado, inventamos de desenvolver o setor de construção de navios. Não há por quê. Gasta-se muita energia e não se chega a lugar nenhum”, explica.
O especialista acredita mais na exploração das vocações já existentes, inclusive nas áreas mineral e agropecuária. “É pensar na margem e explorar o desenvolvimento industrial. Com políticas de curto, médio e longo prazo, mas que sejam rigorosas na hora da entrega das soluções. Como na Coreia do Sul, onde há incentivos e métodos claros, mas que, quando não cumpridos, banem o interlocutor do mercado, de forma que a excelência e a competitividade estejam acima de qualquer tipo de interesse”, sugere.
Assim como a própria Coreia, outros países têm muito a nos ensinar. Para isso, é cada vez maior o intercâmbio de informações, tecnologias e expertises entre instituições e nações. Nesse contexto, Casaca cita missões realizadas constantemente pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) como forma de aproximação e atração de investimentos, além do relacionamento institucional da academia, por meio de instituições como a Fundação Dom Cabral (FDC) e a UFMG.
Além disso, segundo o economista, na própria guerra comercial recentemente estabelecida por Donald Trump com diversos países, inclusive com o Brasil, há sinais de oportunidades que precisam ser identificados e trabalhados pelas instituições e setores produtivos.
“‘Make America Great Again’ para eles, não para nós. O Brasil precisa buscar o seu espaço para ser grande também. As tarifas impostas pelos Estados Unidos são péssimas para nossa economia, mas temos condições não apenas de estabelecer novos termos de negociação com eles, como também de buscar outros mercados e, a partir dessa situação adversa, gerar novas oportunidades de negócio. É hora de priorizarmos projetos que estavam em segundo plano com nações que também enfrentam dificuldades com os americanos”, sugere.
A educação e as vocações de Minas Gerais
Não por acaso, Minas é a síntese do Brasil. Nos recursos naturais, na cultura, na própria economia e na extensão territorial, o Estado combina, como nenhum outro, as muitas diversidades brasileiras. E, se essa diversidade conseguiu produzir tantas obras-primas na literatura, na música, na dança, no teatro, na ciência e na cultura em geral, também pode ser de extraordinário valor para construir um projeto de futuro diferenciado e inovador.
É o que muitas vezes defendem historiadores, economistas, estudiosos e líderes setoriais. Não é de hoje que o Estado bate recordes na atração de investimentos, que startups mineiras ganham reconhecimento mundial e que a economia criativa reluz no brilho de grupos que conquistam o planeta com o seu talento. É também nesse contexto que o Parceiros do Futuro, idealizado pelo Diário do Comércio, busca mobilizar lideranças e discutir caminhos para Minas Gerais.
Casaca lembra que, apesar da necessidade de discutir a redução da dependência da mineração para o futuro do Estado, o setor é parte intrínseca da economia de Minas Gerais e tem investido em inovação e desenvolvimento, como a extração a seco e o descomissionamento de barragens. O economista cita ainda a nova fronteira minerária, com o surgimento de novos minerais, como os usados em baterias e terras-raras, como oportunidade para agregar valor e não apenas exportar commodities.
“Precisamos descobrir formas alternativas de usar essa importância e peso do setor mineral em prol do desenvolvimento do Estado, seja na distribuição de riquezas entre as comunidades ou na agregação de valor dos produtos. E, obviamente, atuar da forma mais responsável possível para minimizar os prejuízos ao meio ambiente e à população”, reitera, em menção às tragédias ocorridas em Minas Gerais em 2015 (Mariana) e 2019 (Brumadinho), cujos rejeitos devastaram cidades, poluíram rios e mares e ceifaram centenas de vidas.
Ancorado nesses episódios, o especialista sugere um passo atrás nas discussões quando o assunto é a preservação do meio ambiente por parte das diferentes atividades produtivas. “Talvez devêssemos retomar um pouco a discussão sobre meio ambiente e voltar com temas que possamos ter perdido, incluindo a conscientização da população e de empresários sobre a importância de fortalecermos e apoiarmos a conservação ambiental. E isso não significa necessariamente gerar burocracia e ineficiência, mas evitar, por exemplo, grandes desastres como os que tivemos em Minas Gerais”, explica.
De acordo com ele, o empresário brasileiro ainda não consegue vislumbrar a importância de conservar o meio ambiente em ganhos e lucros. “É preciso que o empresário entenda que esse processo se torna, de fato, lucrativo e produtivo. Somente com esse entendimento evitaremos atitudes que poderão causar prejuízos que demoraremos décadas para recuperar. Mais do que isso, o setor produtivo também precisa compreender que os ganhos acontecem no curto prazo, por meio do fortalecimento de seus negócios. E, mais uma vez, essa conscientização parte da educação”, conclui.
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