Estratégia Brasil 2050: desafios e oportunidades para transformar o País

Dobrar o Produto Interno Bruto (PIB) per capita do Brasil até 2050 é uma das metas que poderá integrar o plano estratégico de longo prazo que está sendo elaborado pelo governo federal, com o objetivo de orientar o desenvolvimento do País pelos próximos 25 anos.
Com uma proposta de construção coletiva que envolve especialistas, lideranças estaduais e municipais e representantes do setor produtivo, da academia e da sociedade civil, membros da Secretaria Nacional de Planejamento (Seplan) e a própria ministra do Planejamento e Orçamento (MPO), Simone Tebet (MDB), têm percorrido as capitais brasileiras para estabelecer as prioridades estratégicas que vão nortear as ações nas próximas décadas.

Belo Horizonte recebeu o encontro regional no último dia 21 de março. Na ocasião, o PIB foi apenas uma das sugestões da ministra para o planejamento de longo prazo, como caminho para reduzir a pobreza, a miséria e a desigualdade no País. Pensar no futuro, conforme Simone Tebet, significa antecipar desafios e desenhar respostas eficazes para evitá-los. “Essa estratégia de 2025 a 2050 foi construída exatamente com base na pergunta: que Brasil queremos para os próximos 25 anos?”, resumiu.
A ministra também fez um diagnóstico do Brasil atual. Na sua fala, destaque para a riqueza natural e a biodiversidade brasileira, o agronegócio altamente produtivo, o grande mercado consumidor interno, o Sistema Único de Saúde (SUS), a estabilidade macroeconômica e a matriz energética majoritariamente limpa.
Por outro lado, ela também citou desafios como a alta desigualdade de renda, a pobreza persistente, o desmatamento elevado, o déficit de infraestrutura, a educação básica com desempenho abaixo do esperado em avaliações internacionais, a informalidade elevada e a desindustrialização precoce.
Segundo a Pasta, a Estratégia Brasil 2050 está ancorada em quatro grandes pilares:
- Prosperidade;
- Justiça social;
- Inclusão;
- Sustentabilidade.
Cada um deles está associado a metas mensuráveis e diretrizes que buscam enfrentar os principais desafios estruturais do País.
É no eixo da prosperidade que está a meta de dobrar o PIB per capita até 2050, hoje em R$ 55.247,45. Para alcançar o marco é necessário ampliar investimentos em áreas estratégicas como infraestrutura, logística, Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), educação e produtividade.
Saiba quais são os objetivos da Estratégia Brasil 2050:
- Reduzir desigualdades sociais e regionais (combate à fome e à pobreza);
- Enfrentar as mudanças climáticas;
- Preparar o País para a transição demográfica;
- Promover a sustentabilidade macroeconômica;
- Promover o aumento dos investimentos (infraestrutura, agricultura familiar, agronegócio, indústria, comércio e serviços) e garantir crescimento econômico (inclusão, produtividade, emprego e educação profissional.
Aos moldes que o Diário do Comércio e a Spine almejam com o Parceiros do Futuro para Minas Gerais, a proposta do governo federal funciona como uma resposta coerente e articulada para questões como: Que País somos hoje? Que País queremos ser em 2050? E como vamos chegar lá?
“O Parceiros do Futuro tem uma metodologia alinhada à que o governo federal está propondo para construir o projeto Brasil 2050. Os cenários Minas 2040 já foram construídos a partir de uma escuta ampla realizada com lideranças do Estado e a ideia agora é promover discussões e reflexões que conectem passado, presente e futuro em uma articulação entre o setor produtivo, o poder público e a sociedade civil”, afirma a sócia-fundadora da Spine, Paula Laudares.
Lideranças mineiras opinam sobre a Estratégia Brasil 2050
Presente na reunião, o presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de Minas Gerais (Fecomércio MG), Nadim Donato, diz que a iniciativa do governo federal de conclamar o setor produtivo e a sociedade para uma construção conjunta é excepcional. E o resultado foi uma convergência de pensamentos a respeito do que será necessário para tirar o planejamento do papel.

Segundo ele, primeiramente, a educação é fundamental e para em 2050 o Brasil ter uma educação de qualidade, é preciso começar a trabalhá-la agora. “Acho, inclusive, que ela deveria ser gratuita”, opina.
Outro ponto citado pelo dirigente diz respeito à logística. “Precisamos melhorar nossas malhas rodoviárias estaduais e federais, porque a produção de todo o País é sumariamente transportada por estradas. O trem, o navio, o avião também integram esse sistema e precisam de atenção, mas o principal foco precisa ser o rodoviário, já que o grosso do transporte é feito pelas rodovias”, explica.
Já quanto à empregabilidade, Donato pondera que embora o País neste momento se encontre com taxas de desocupação em níveis históricos, ainda existe falta de mão de obra qualificada em todos os setores e lembra que a solução para este quesito também passa pela educação.
“Tudo isso e os demais pontos abordados pela Estratégia Brasil 2050 depende, sobretudo, de vontade política, independentemente de partido. Caso contrário, não conseguiremos avançar com nossa economia e estaremos fadados à estabilidade dos setores, ou seja, perdendo mercado e competitividade ao longo do tempo. E nós do setor produtivo podemos auxiliar nessa construção de forma ativa. No Sistema Fecomércio, através do Sesc e Senac, por exemplo, oferecemos cursos gratuitos, já atuando em um desses pilares pelos quais passa esse desenvolvimento”, afirma.
O presidente executivo da Fundação Dom Cabral (FDC), Antonio Batista da Silva Junior, defende que o planejamento a longo prazo é essencial para o desenvolvimento do País. E ressalta que a instituição que representa sempre alertou para essa necessidade e que esse movimento de escuta da sociedade por parte do governo federal é fundamental para consolidar um modelo de planejamento participativo e colaborativo.

“Mesmo em um momento de polarização, essa escuta demonstrou convergência de opiniões quanto à necessidade de crescimento e desenvolvimento do Brasil, especialmente para a construção de futuros positivos para os próximos 25 anos. Almejamos um Brasil mais justo, sustentável e inovador, com oportunidades acessíveis a todos e a preservação da riqueza natural e cultural que nos define”, avalia.
Para Antonio Batista, os três principais problemas ou fragilidades do Brasil são: no curto prazo, a estabilidade fiscal e orçamentária; a qualificação do capital humano; e a falta de transparência na definição de políticas públicas, bem como na alocação de recursos, além do desequilíbrio na representação dos diversos segmentos da sociedade nessas decisões.
O presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Flávio Roscoe, avalia que a iniciativa de criar um planejamento estratégico para o Brasil é fundamental porque representa uma visão que vai além de governo e se torna uma visão de Estado.

“Apoiamos firmemente essa proposta. O que diferencia hoje, por exemplo, o crescimento de países com a China, é justamente essa visão de longo prazo. A discussão é que ela não pode estar contaminada ideologicamente com o propósito do governo de plantão. Esse é o grande desafio. Para ser uma discussão efetivamente de Estado, ela tem que contar com uma participação preeminente da sociedade como um todo. Espero que haja espaço e abertura suficiente para que a sociedade civil organizada possa contribuir com a elaboração dessas propostas”, declara.
A coordenadora da Assessoria Técnica da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Sistema Faemg), Aline Veloso, por sua vez, cita a importância dos encontros regionais promovidos pelo Ministério de Planejamento e Orçamento, justamente para que se debata o planejamento e a Pasta não empenhe seus esforços apenas no que tange ao orçamento.

Entre os itens destacados por Aline Veloso, estão a falta de segurança jurídica e regularização fundiária para que o produtor rural consiga produzir com qualidade; a necessidade de uma infraestrutura mínima de logística para viabilizar o escoamento da produção e o desenvolvimento das cadeias produtivas e o desafio do suprimento energético no campo.
“Temos um potencial muito grande no quesito energia, uma vez que temos uma matriz muito bem posicionada em termos de sustentabilidade. Mas precisamos também investir nas redes de suprimento para que a transmissão chegue onde está a produção”, argumenta.
A representante da Faemg frisa que para que tudo isso saia do papel, é necessário que o governo dê atenção ao hoje, por meio de ações de curto e médio prazo também. “É preciso um desenvolvimento de curto prazo e médio prazo para termos fôlego para chegar ao futuro. É preciso ajustar o agora para que tenhamos a continuidade da nossa produção e um 2050 mais promissor para nosso Estado e nosso País”, completa.
O assessor institucional do Sistema Ocemg, Geraldo Magela, ressalta o alinhamento das lideranças mineiras presentes no evento do governo federal. Segundo ele, todos apontaram uma direção comum de base, como a necessidade de melhoria do sistema educacional, a qualificação da mão de obra e maiores investimentos em pesquisa, desenvolvimento e inovação, tanto no setor público quanto no privado.

“Para construir um projeto para o País que queremos, que esteja em plena sintonia com as necessidades e aspirações do povo brasileiro, é preciso trabalhar de forma cooperativa para construir um planejamento de longo prazo que atenda aos anseios dos diferentes setores da economia e da sociedade”, diz.
Magela também defende que o cooperativismo esteja no centro das discussões. “Nosso modelo de negócios já se provou eficaz na geração de trabalho e na distribuição de riqueza. A Estratégia Brasil 2050 nos dá a oportunidade de consolidar esse caminho e de mostrar que, com planejamento e cooperação, o País pode alcançar um desenvolvimento sólido e inclusivo”.
Por fim, o vice-presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logística do Estado (Setecemg), Adalcir Lopes, afirma o que Brasil é um país que transporta com segurança, eficiência e respeito ao meio ambiente, promovendo desenvolvimento sustentável e oportunidades para todos. Mas que ainda existem obstáculos a serem superados até se atingir o desenvolvimento sustentável almejado para 2050.

Nesse sentido, ele destaca a obsolescência da frota nacional de caminhões, que compromete a segurança nas estradas, aumenta as emissões de poluentes e eleva o custo logístico do País; a falta de integração entre os modais de transporte, que impõe limites à competitividade brasileira e pressiona a infraestrutura existente; e o aumento do percentual de biodiesel na mistura com o diesel fóssil, que levanta a necessidade de se aprofundar o entendimento técnico sobre os impactos dessa medida.
“Nossa capacidade logística e localização estratégica nos permitem ser protagonistas no comércio internacional e integrar cadeias globais de valor, desde que invistamos corretamente em infraestrutura. A nossa matriz energética limpa e renovável é uma vantagem competitiva global que deve ser utilizada com sabedoria e rigor técnico. E o espírito resiliente e empreendedor dos transportadores brasileiros garantem o abastecimento e o funcionamento da economia nacional. Todos esses são ativos que podem alavancar o desenvolvimento do Brasil”, conclui.
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