Parceiros do Futuro

Lideranças mineiras defendem planejamento de longo prazo para uma nova economia

Empresários e dirigentes defendem cooperação e continuidade por um futuro sustentável em Minas Gerais
Lideranças mineiras defendem planejamento de longo prazo para uma nova economia
Debatedores do 1º Fórum de Lideranças discutem caminhos para integrar setores e impulsionar a nova economia em Minas | Foto: Diário do Comércio / Anderson Rocha e Natália Gonçalves

O 1º Fórum de Lideranças, realizado pelo projeto Parceiros do Futuro, iniciativa do Diário do Comércio em parceria com a consultoria Spine, no fim do mês passado, foi marcado não apenas pela discussão em prol do desenvolvimento sustentável de Minas Gerais, mas também por ações e estratégias já praticadas por empresas e entidades representadas no encontro. Com o objetivo maior de avançar rumo a uma economia mais diversificada, inovadora e inclusiva, por meio da articulação e integração dos diferentes membros e setores da sociedade, a intenção é que muitas delas sejam adotadas e replicadas por outros negócios.

Para isso, lideranças da iniciativa privada, do poder público e da academia apresentaram desafios, propostas e cases dentro dos temas já abordados pelo projeto Parceiros do Futuro ao longo de 2025, por meio dos cenários propostos e conteúdos produzidos. São eles:

  • Diversificação econômica, superação da dependência do extrativismo e agregação de valor de produtos, serviços e cadeias produtivas;
  • Tecnologia verde e regeneração, com linhas de crédito especiais e produtos de alto valor agregado;
  • Geração de riquezas de forma equilibrada, com o fomento à integração entre academia, setor produtivo, governo e sociedade civil.

Falta de continuidade ainda é obstáculo ao planejamento de longo prazo

Uma das dificuldades levantadas pelos presentes, no que se refere ao planejamento de longo prazo, foi justamente a descontinuidade de iniciativas e projetos em função da forte dependência de representantes públicos nas diferentes esferas de governo – federais, estaduais ou municipais – dos Poderes Executivo, Legislativo ou Judiciário.

“Só deixaremos de ter a descontinuidade de iniciativas importantes quando a sociedade civil organizada tomar as rédeas desse projeto de futuro. Para isso, mais do que conhecer nossas vocações, precisamos ter claro o que almejamos. Qual é a nossa ambição? A nova economia, a produção linear e circular, a sustentabilidade dos negócios precisam ser articuladas. São grandes os desafios, mas também as oportunidades”, provocou a presidente e diretora editorial do Diário do Comércio, Adriana Muls.

O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH) e do Sebrae Minas, Marcelo de Sousa e Silva, chamou atenção para a importância de diminuir a dependência do governo nessa construção. Por outro lado, a CEO da Tom Comunicação, Adriana Machado, destacou a dificuldade de dissociá-lo, uma vez que a educação é pilar essencial para o desenvolvimento. Já a reitora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Sandra Goulart, apontou um caminho:

“Nosso desafio é interagir melhor, entender melhor o que acontece no Estado, divulgar o que é feito e articular os diferentes agentes. Ailton Krenak disse: ‘O futuro não é lá na frente, o futuro é aqui’. Por isso, começamos a planejar o futuro agora, no presente”, defendeu.

UFMG apresenta experiências que podem inspirar outros setores

A professora também apresentou cases do que já ocorre na UFMG e que pode ser replicado em outras áreas ou em parceria com diferentes setores. Ela lembrou que Minas é o Estado com o maior número de universidades públicas no País, enfatizando a vocação para o conhecimento e, adicionalmente, para a inovação.

“Somos líderes em depósito de patentes e temos investido em estruturas de pesquisa transdisciplinares, pois, hoje, uma única disciplina não dá conta do conhecimento necessário para resolver muitos dos problemas pelos quais passam o Brasil e o mundo. Além disso, temos procurado trazer as empresas para conhecer nossa estrutura e nossos laboratórios, já que a nova legislação permite que qualquer empresa use os laboratórios da instituição, desde que assine um acordo de cooperação”, ressaltou.

Fapemig reforça que ciência deve sair do campo da exceção

O presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), Carlos Alberto Arruda de Oliveira, defendeu, no 1º Fórum de Lideranças, que o futuro passa pela ciência, mas admitiu que ela ainda é uma exceção. Ele citou que, enquanto a entidade conta com um orçamento de R$ 560 milhões para 2025, os projetos recebidos já ultrapassam R$ 3 bilhões.

“O potencial existe, mas não pode se limitar à academia; precisa também do setor empresarial. Inovação é risco, desenvolvimento de ciência e tecnologia é incerteza e precisamos criar essa cultura na nossa sociedade. E isso passa também pela continuidade. Porque não adianta, por exemplo, dobrar nosso orçamento e, daqui a três ou cinco anos, alguém zerar tudo”, alertou.

O assessor da presidência da Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais (Codemge), Leonardo Cunha, defendeu a criação de uma Secretaria de Estado dedicada à Ciência e Tecnologia para coordenar áreas e projetos, informando que a proposta já foi levada ao vice-governador do Estado, Mateus Simões (PSD).

BDMG aposta em crédito verde para transformar o setor produtivo e CEO da BH Airport alerta que negócios devem crescer com propósito

No quesito tecnologia verde, que envolve temas como transição energética e descarbonização, o anfitrião do encontro e presidente do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), Gabriel Viégas Neto, ressaltou que esta é uma pauta prioritária para a instituição de fomento, especialmente por meio do chamado crédito verde. Mas ponderou que apenas o crédito não é suficiente. Segundo ele, o lema institucional é fazer “uma pequena revolução no setor produtivo mineiro”.

“Entendemos que, hoje, os principais desafios futuros de Minas Gerais são inovação, sustentabilidade e infraestrutura. Seguramente, Minas tem a maior densidade científica do País, tanto em quantidade quanto em qualidade. Mas é importante transformar isso em valor econômico, o que exige recurso – recurso de longo prazo e condições adequadas para que o nosso setor produtivo tenha efetivamente o funding necessário para fazer a transformação que é necessária. E o BDMG atua como catalisador de recursos em todo esse processo”, disse.

O CEO da BH Airport, Daniel Miranda, também deu sua contribuição, chamando atenção para o propósito de cada negócio e seus respectivos projetos e ações. “No campo da transição energética, precisamos pensar na mobilidade sustentável e para onde ela caminha; isso inclui o crescimento com propósito por parte das empresas do setor. Quando falamos em diversificar a economia do Estado e agregar valor, também é preciso considerar o propósito. Há muitos negócios que, às vezes, fazem mais mal do que bem – projetos com altos investimentos, mas que não agregam valor e geram impactos ambientais relevantes para a região”, opinou.

Segundo Miranda, o aeroporto está investindo na substituição de veículos a combustão por veículos elétricos. Além disso, citou que a matriz energética do terminal é 100% limpa, fornecida pela Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), o que tem ajudado a concessionária a reduzir sua pegada de carbono e conscientizar os stakeholders em relação ao tema. Ele afirmou que a aviação está muito engajada para que esse movimento avance e lembrou o desafio dos combustíveis sustentáveis de aviação (SAFs) e a necessidade de apoio governamental para viabilizá-los.

Segurança pública: modelo mineiro de ressocialização é referência nacional

Por fim, o presidente da Associação Comercial e Empresarial de Minas (ACMinas), Cledorvino Belini, destacou a importância de se discutir a segurança pública quando se almeja um cenário de prosperidade real. Conforme o dirigente, que também é presidente do projeto Minas pela Paz, o Estado já tem se destacado nacionalmente pela ressocialização de detentos, por meio das Associações de Proteção e Assistência ao Condenado (Apacs).

“Hoje, temos 5 mil dos 5,5 mil recuperandos do Brasil, que estão em pequenas unidades prisionais comandadas pela sociedade civil, sob o controle da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp)”, citou.

Ao fim da reunião, os empresários apontaram os pilares do projeto com os quais seus negócios, setores ou entidades poderão colaborar e se comprometeram a engajar outros participantes para o ciclo de 2026, a fim de expandir o movimento e definir os responsáveis por liderar os caminhos de desenvolvimento dentro do projeto Parceiros do Futuro.

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