Inovação é chave para novo modelo de desenvolvimento mineiro

Em um cenário em que Minas Gerais se torna menos dependente do setor extrativista, diversifica sua economia e agrega valor às atividades que hoje norteiam o desenvolvimento do Estado, a capacidade de inovar é vista como fundamental para superar desafios e alcançar um crescimento sustentável e de longo prazo. Seja ela tecnológica, social, institucional ou de modelos de negócios, a inovação é primordial para que Minas se desvincule da dependência de commodities e construa um futuro mais próspero, justo e sustentável.
Minas já possui elevada capacidade de inovação e criatividade, com exemplos como o São Pedro Valley, o BH-Tec e o Vale da Eletrônica, em Santa Rita do Sapucaí, no Sul do Estado. Além disso, há empresas que possuem elevado investimento em Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) para a criação de soluções aplicadas. Há também grande potencial em termos de capital humano e instituições, mas a articulação entre esses elementos em um projeto de longo prazo que beneficie toda a sociedade ainda se apresenta como desafio.
O economista, professor e CEO do Parque Tecnológico de Belo Horizonte (BH-Tec), Marco Crocco, defende que Minas Gerais reúne todas as condições para se tornar referência em inovação e desenvolvimento industrial. Mas, segundo ele, falta coordenação, liderança política e uma estratégia clara que una universidades, setor produtivo e governo em torno de um projeto comum.
Para Crocco, o Estado convive com uma contradição histórica. De um lado, possui uma das redes mais capilarizadas de universidades, institutos federais e centros de pesquisa do País, responsáveis por formar mão de obra altamente qualificada e gerar inovação científica. De outro, sua base industrial ainda está ancorada em estruturas do século passado, sem conseguir dialogar com essa riqueza de conhecimento.
“Na última vez em que contabilizei, havia cerca de 300 locais de formação de mão de obra ou pesquisa em Minas. Mas a indústria que temos é antiga, sem conexão com esse potencial científico.” Segundo ele, a falta de uma política clara, contínua e articulada entre produção de conhecimento, setor produtivo e Estado é o principal entrave ao desenvolvimento mineiro no que tange à inovação.

O perfil do empresariado local também ajuda a explicar por que Minas não conseguiu avançar de forma consistente em sua trajetória de industrialização. Historicamente, diz, o capital local não se estruturou para transformar, mas para extrair e exportar. “Mesmo tendo pesquisa de qualidade, não há um empresariado com volume ou tradição de aproveitar esse conhecimento. Isso sempre foi feito com capital externo ao Estado”, explica.
O resultado é um ciclo de dependência em torno da mineração, que se repete mesmo diante de novas oportunidades. O caso do lítio é exemplar. Embora o mineral seja considerado estratégico para a transição energética global, a lógica que se desenha é a mesma de décadas anteriores: extrair e vender matéria-prima. “Não tenho nada contra a extração, mas precisamos pensar além. O Vale do Silício não se tornou referência porque tinha sílica, e sim porque produziu microchips. Minas tinha que estar preocupada em processar o lítio, fabricar baterias, criar indústrias em torno do mineral”, defende.
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