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Minas Gerais planejou o futuro, mas não superou o passado extrativista

Com a visão de Juscelino Kubitschek e o poder de instituições estratégicas, Estado transformou-se em um polo industrial, superando o crescimento do Brasil na década de 70
Minas Gerais planejou o futuro, mas não superou o passado extrativista
O mais conhecido representante da tradição de pensar e planejar o futuro em Minas Gerais foi Juscelino Kubitschek, que passou pelo governo do Estado e chegou à Presidência com o Plano de Metas e a construção de Brasília | Crédito: Reprodução Adobe Stock

O Estado de Minas Gerais possui uma tradição centenária de pensar o futuro e planejar. O mais conhecido representante dessa tradição foi Juscelino Kubitschek, que planejou o conjunto arquitetônico da Pampulha, depois passou pelo governo do Estado e chegou à Presidência com o Plano de Metas e a construção de Brasília.

Em Minas essa capacidade de planejamento não esteve restrita a Juscelino, contando com diversas instituições, acadêmicos e congressos e planos que pensaram o futuro de um Estado que levava o extrativismo no próprio nome. Segundo Dulci (2000), “a experiência mineira de desenvolvimento foi única no Brasil e apresenta relevância comparativa até mesmo em escala internacional, dada a precocidade com que se procurou enfrentar o problema do atraso econômico regional”.

O documento mais citado como exemplo da capacidade de planejar o desenvolvimento do Estado foi o Diagnóstico da Economia Mineira, publicado em 1968 pelo Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG). No entanto, conforme ressaltam diversos autores, as premissas fundamentais para pensar o desenvolvimento já estavam presentes, dentre elas “a consciência do atraso relativo, a matriz desenvolvimentista, o lugar do Estado, a importância do planejamento e o subdesenvolvimento como problema a ser superado por meio de intervenção política”.

Essas premissas remontam ao Congresso Agrícola, Industrial e Comercial de 1903, ao parecer da Sociedade Mineira de Engenheiros de 1938 sobre a siderurgia e exportação de minério de ferro, ao Plano de Recuperação Econômica e Fomento da Produção de 1947 e ao Plano de Eletrificação de Minas de 1950, documentos que ao longo de mais de um século moldaram o chamado desenvolvimentismo mineiro.

Minas era percebido como essencialmente extrativista: primeiro na mineração de ouro e pedras preciosas, depois no minério de ferro e em produtos primários para os centros industriais como Rio de Janeiro e São Paulo. E, por fim, na exportação de insumos industrializados como aço e cimento, além de energia elétrica para a industrialização de São Paulo. Até aquele momento, nas décadas de 50 e 60, como bem descrito e evidenciado por Diniz (1978), o capital estrangeiro só se tinha se interessado por atividades ligadas a recursos naturais em Minas.

Para modificar essa realidade, houve a criação de diversas instituições importantes para pensar o Estado de Minas Gerais. O ponto de partida foi a criação do BDMG em 1962, seguido pelo Conselho Estadual do Desenvolvimento em 1966, Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar) em 1967 ligado à Face/UFMG, Instituto de Desenvolvimento Industrial (Indi) em 1968 e, posteriormente, a criação da Fundação João Pinheiro (FJP), por meio da Lei Estadual 5.399/1969, autorizando a fundação atuar em pesquisa aplicada nos campos da economia, da administração e da tecnologia básica e social.

E foi exatamente a presença desse aparato institucional capaz de planejar o desenvolvimento do Estado, com investimento estatal e da atração de capital estrangeiro, que levou ao processo de industrialização e de desenvolvimento de Minas Gerais. A partir dessa combinação, houve um avanço da industrialização na década de 70 em Minas Gerais e diversificação produtiva. A mineração, a indústria metalúrgica e de cimentos, junto da disponibilidade de mão de obra e energia e, sobretudo, de uma política de incentivos fiscais, favoreceram a atração de novas indústrias para o Estado, sobretudo no Norte e Sul de Minas.

O foco no planejamento teve efeitos concretos: houve crescimento médio do PIB de Minas Gerais de 11,6% na década de 70, enquanto o PIB do Brasil cresceu a uma média de 8,5%.

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