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Nova era Trump acende alerta comercial no Brasil

Tarifaço já abala setores exportadores e exige resposta estratégica do governo Lula, apontam especialistas
Nova era Trump acende alerta comercial no Brasil
Foto: Imagem gerada por IA

A imposição de tarifa de 50% sobre produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos, que pode entrar em vigor a partir de 1º de agosto, acendeu o alerta vermelho entre empresas e analistas. Em meio à incerteza e à falta de articulação política, especialistas apontam que o Brasil enfrenta agora um cenário sem precedentes, no qual a política comercial norte-americana, sob o comando de Donald Trump, tem se tornado, cada vez mais, agressiva, imprevisível e generalizada.

Na prática, o republicano tem mostrado a que veio neste segundo mandato, radicalizando o lema “America First” para “America Only” ou até mesmo “America Alone”. Tudo isso, com o objetivo maior de recuperar a produção e o emprego dos Estados Unidos e combater seu atual maior rival comercial: a China – atingindo também aliados comerciais, como o Brasil.

Mais do que estar promovendo uma mudança de paradigma nas relações internacionais, o movimento liderado por Donald Trump também expõe o Brasil à necessidade urgente de rever sua atuação diplomática, sua inserção produtiva e sua capacidade de escolha em um mundo, cada vez mais, polarizado.

Por isso, há quem pondere a necessidade de os representantes brasileiros sentarem para negociar com o republicano e quem argumente que não se trata de uma exclusividade verde amarela e que Trump seguirá com suas sanções custe o que custar. No meio do caminho, também existem aqueles que não descartam um novo cálculo de rota por parte da Casa Branca, uma vez que os argumentos apresentados pelo líder norte-americano na carta pública publicada em sua rede social podem ser um emaranhado de “desculpas” que levam a um objetivo só: a retomada da soberania econômica internacional da terra do Tio Sam.

Seja por um motivo ou por outro, a verdade é que as barreiras comerciais que o presidente dos Estados Unidos vem anunciando desde abril, estão recalculando a rota do comércio exterior de todo o mundo, obrigando parceiros tradicionais a buscarem novos mercados. E não será diferente com o Brasil – mesmo que isso custe mais caro a alguns mercados pontuais.

Para o professor da Fundação Dom Cabral (FDC), Paulo Vicente, a medida imposta por Donald Trump não pode ser vista apenas como uma questão econômica. “Trump usa sistematicamente um tema para conseguir outra coisa. Com o México, era a guerra às drogas. Com o Brasil, ele pode estar mirando os Brics, a Rússia ou mesmo o apoio a Bolsonaro. Só descobriremos o real motivo sentando à mesa para negociar”, afirma.

Por isso, segundo ele, o Brasil deveria adotar uma postura mais firme, sem abrir mão da negociação: “Se fosse a minha decisão, eu diria: vamos retaliar; ‘olho por olho, dente por dente’, mas queremos negociar. Porque não negociar é péssimo. Vai tomar os 50% e vai ficar por isso mesmo. E, daqui a pouco, virão outras sanções de países da Otan. O governo precisa entender que política externa é estratégia, não retórica”, afirma. 

Assim, para o professor, o ideal seria “enviar um time de negociadores aos EUA” e reverter o enfraquecimento institucional das relações bilaterais, agravado, entre outros pontos, pela ausência de um embaixador brasileiro em Washington. “O governo Lula sequer mandou um embaixador para os Estados Unidos durante muito tempo. Ficou falando de moeda dos Brics, apoiando a Rússia abertamente e apostando em agendas que geram animosidade”, critica. “Você incomoda, cria ruído desnecessário e depois se surpreende com a retaliação”, lamenta. 

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