Tarifaço de Trump e guerra comercial trazem desafios e oportunidades para o Brasil

No início de abril, o presidente dos Estados Unidos Donald Trump anunciou tarifas comerciais para 185 países como parte de um plano para remodelar a economia norte-americana. A escalada teve início com um índice padrão de 10% sobre todas as importações, incluindo o Brasil, e culminou com uma guerra comercial com a China, impondo taxas de até 245% nas exportações do gigante asiático.
No entanto, após dias de incertezas, especulações e respostas por parte de alguns países, o republicano começou a dar sinais de que pode rever algumas das tarifas em um movimento de negociações bilaterais, inclusive com a própria China. Ele falou em “tarifas justas” unilaterais, como estratégia de proteção econômica, mencionou a chance de um “acordo especial” com Pequim e admitiu a tarifa de 145% contra o mercado chinês como “muito alta”.
Fato é que em meio todo esse turbilhão, o Brasil acabou ficando com uma das menores alíquotas: 10%. E diante toda a reorganização geopolítica que se impõe sobre o mundo, o País – e Minas Gerais – se vê diante de um cenário com muitos desafios, mas, sobretudo, com oportunidades.
Desafios porque os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, tanto em importações quanto em exportações. Oportunidades porque as barreiras comerciais impostas a outras nações poderão beneficiar diferentes setores produtivos brasileiros, com o surgimento de novos mercados potenciais.
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Mas, antes de qualquer definição otimista sobre o cenário externo, especialistas alertam para a necessidade de o País olhar para dentro e fazer a lição de casa. Melhorar o ambiente de negócios e enfrentar gargalos estruturais, por exemplo, são passos essenciais para que o Brasil aproveite as oportunidades que possam surgir.
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A relação comercial entre Estados Unidos, Brasil e Minas Gerais
Os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial do Brasil. Em 2024, o país americano teve uma participação de 12% nas exportações brasileiras e de 15,5% nas importações feitas pelo Brasil. Foram cerca de US$ 40,3 bilhões em exportações e US$ 40,6 bilhões em importações dos Estados Unidos no ano passado, segundo dados do governo brasileiro.
O país norte-americano fica atrás apenas da China – principal parceiro do Brasil, de onde foram importados US$ 94,4 bilhões em 2024. Já o Brasil aparece em 18º lugar dentre os exportadores para os Estados Unidos. O País foi o nono maior importador de produtos americanos em 2024, conforme dados do governo americano. Entre os exportadores, o Brasil cai para 18º lugar, atrás de países como Singapura, Malásia, Vietnã e Tailândia.
Tratando-se de Minas Gerais, o cenário não é muito diferente. Em 2024, os Estados Unidos tiveram uma participação de cerca de 11% nas exportações mineiras e de 11,7% nas importações. Foram cerca de US$ 4,6 bilhões em embarques e US$ 2 bilhões em importações no exercício anterior.
Com isso, a economia norte-americana figurou em segundo lugar como parceiro comercial de Minas, com a China ocupando a primeira posição, com valores de US$ 15,4 bilhões em embarques e US$ 4,3 bilhões em compras internacionais de um total de US$ 42 bilhões em vendas e US$ 17 bilhões em compras de outros países.
Os efeitos em cascata já começam a aparecer no mundo e no Brasil. A China, por exemplo, já iniciou a substituição das compras de produtos como soja e carne norte-amercianas pelas brasileiras. No caso da soja e seus derivados, o diretor de Economia e Assuntos Regulatórios da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), Daniel Furlan Amaral, explica que colabora para os embarques também uma safra recorde de quase 170 milhões de toneladas no maior produtor e exportador do grão, com colheita já praticamente concluída.
“O Brasil, com essa safra que tem e produções crescentes, aparece como um fornecedor confiável. Possivelmente vai exportar um pouco mais de soja para a China, mas esperamos também que o Brasil exporte mais farelo de soja para os nossos principais mercados, principalmente Europa, Oriente Médio e Sudeste Asiático, que hoje já ocupa a principal posição em destinos”, diz.
Sobre a carne, no caso da bovina, o Brasil já responde por mais de 30% do comércio global, já tem a China como principal comprador e, junto da Austrália, está apto a aumentar as vendas para o gigante asiático depois que Pequim não renovou o registro de centenas de instalações de carne dos Estados Unidos. (Com informações da Reuters)
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