Política

Zema quer mudança em proposta de Haddad para dívidas de MG

Haddad propôs que dívidas tivessem redução nos juros mediante aumento na oferta de vagas para cursos técnicos
Atualizado em 8 de abril de 2024 • 15:55
Zema quer mudança em proposta de Haddad para dívidas de MG
Crédito: Reprodução / Youtube do governo federal

São Paulo – O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), quer que a proposta do governo federal de renegociação das dívidas dos estados considere os avanços na educação de cada unidade federativa e não só o número de vagas criadas a partir da data em que a solução for firmada.

A dívida de MG com a União hoje é de R$ 165 bilhões. A proposta apresentada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, no final de março, atrela a diminuição dos juros cobrados a investimentos em ensino médio técnico.

De acordo com documento divulgado pelo governo federal, a redução se daria entre 2025 e 2030 na taxa de juros reais e, em caso de atingimento das metas de expansão de matrículas em cursos técnicos até 2030, a taxa de juros seria reduzida permanentemente.

“Essa questão do ensino profissionalizante eu falei: ‘Ótimo, aceitamos sim’, só que não pode ser um a mais, tem que ser o que já temos feito aqui. Porque Minas Gerais é o estado que mais avançou, senão daqui a pouco nós vamos ter de dar aulas para alunos que não existem mais”, afirmou em entrevista à rádio Onda Oeste, de Piumhi (MG), na última sexta-feira (5).

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Segundo ele, MG tem 140 mil alunos em cursos técnicos, sendo que nos últimos cinco anos o estado teria tido “um avanço extraordinário” nessa área.

Hoje, no pagamento das dívidas com a União, os governos estaduais arcam com um encargo equivalente ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) mais uma taxa real de 4% ao ano.

Pelo programa, a taxa real pode cair a 3% ao ano, desde que o estado aplique ao menos 50% da economia do não pagamento integral da dívida na ampliação das vagas de ensino médio técnico.

Se o ente federado se comprometer a destinar um percentual maior do ganho (75%), o juro real cairia a 2,5% ao ano. Caso haja disposição em direcionar 100% da economia observada para o ensino médio técnico, a taxa real seria ainda menor, de 2% ao ano.

A Folha pediu à Secretaria de Educação de MG o número de alunos técnicos em Minas desde 2014, mas não teve retorno. A gestão de Zema criou em 2021 o programa Trilhas de Futuro, que visa o aumento do número de alunos de ensino profissionalizante dentro do ensino médio.

Representantes dos professores do estado, porém, reclamam que grande parte dos alunos largam o curso antes do término, devido à falta de recursos financeiros. Segundo o governo mineiro, mais de 40 mil estudantes se formaram no programa.

A classe política mineira é a principal interessada nas discussões de renegociação da dívida com a União.

A dívida do estado gira em torno de R$ 165 bilhões e é hoje considerada impagável por políticos mineiros, incluindo Zema e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, que tem liderado as discussões com o governo federal.

“O que queremos é que o governo federal considere o avanço extraordinário que nós tivemos nesses últimos 4, 5 anos para poder usá-lo como critério para reduzir os juros da dívida”, diz Zema.

A proposta do governo federal também permite amortização de 10% a 20% da dívida dos estados em troca de ativos, incluindo participações em empresas públicas e sociedades de economia mista – como é o caso de Cemig, Copasa (saneamento) e Codemig (mineração de nióbio), estatais as quais Pacheco defende a federalização.

Caso haja amortização de 10% do saldo devedor, a redução no juro seria de 0,5 ponto percentual. Se o abatimento alcançar 20% do estoque, o desconto seria de 1 ponto porcentual.

Esse último ponto, não agradou Pacheco e seus aliados em Minas. Isso porque a proposta de Haddad não prevê a possibilidade de a amortização ser superior aos 20%, o que na visão de alguns políticos mineiros inibiria a vendas das três empresas mineiras para a União, já que juntas elas somariam cerca de 30% da dívida.

Pacheco já sinalizou que a proposta de Haddad trata apenas do início das discussões e após a apresentação do ministro disse que atrelar o pagamento das dívidas a investimentos em educação é uma “ideia paralela ao que é o cerne do problema”. (Pedro Lovisi)

Diálogo entre os poderes

Questionada sobre os avanços na negociação da dívida do Estado, a deputada Beatriz Cerqueira (PT) destacou a importância do diálogo entre os poderes na busca por uma solução. E ressaltou que o Regime de Recuperação Fiscal (RRF) não era o único caminho.

“É possível sentar governo federal, governo do Estado e Assembleia – Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) – e construir uma alternativa. Porque o governo só falava que ‘precisa do Regime de Recuperação Fiscal’. E não precisa. O RRF não só não resolveria o problema da dívida, como prioraria, causando precariedade na prestação de serviço à sociedade”, afirmou.

Especificamente sobre a política de redução dos juros a partir dos investimentos em educação, ela ressaltou a preocupação de que isso não ocorra por meio do que chamou de “mecanismos de privatização da educação”.

“Porque o (projeto) Trilhas do Futuro é isso. Uma grande onda de compra de vagas da iniciativa privada e não necessariamente tem a ver com os interesses dos estudantes. Precisamos fortalecer a educação pública e seria maravilhoso Minas Gerais ter uma rede própria de ensino profissionalizante”. (Com informações de Daniela Maciel)

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