Política

Economia é incógnita no próximo governo

Para especialistas, falta transparência nas propostas dos candidatos
Economia é incógnita no próximo governo
Os planos de governo de Lula e Bolsonaro são os que trazem menos propostas econômicas desde a redemocratização | Crédito: REUTERS/Mariana Greif

A disputa acirrada no 2º turno das eleições presidenciais, que acontece no próximo dia 30, entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL), tem sido marcada pela polarização, embates e questionamentos entre os eleitores.

Isso porque os adversários têm pensamentos distintos em relação à condução do País e, principalmente, apresentaram planos de governo para o cenário econômico que trazem dúvidas com relação ao futuro financeiro do Brasil.

Especialistas e representantes de entidades ligadas à economia são unânimes ao questionar a falta de transparência no aprofundamento das propostas em prol do cenário financeiro e econômico do Brasil. O que deveria, segundo eles, ser um dos principais projetos apresentados por Lula e Bolsonaro.

Os dois candidatos ao Palácio do Planalto, por exemplo, se esquivam de afirmar qual será o nome do futuro ministro da Economia na gestão o 2023-2026. Quanto às estratégias, ambos afirmam que pretendem executar uma nova reforma tributária e, ainda, que vão manter o Auxilio Brasil de R$ 600. No entanto, nenhum planejamento de Orçamento para custear esse benefício foi apresentado à população.

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Para o professor de economia do Ibmec Gilberto Braga, essa eleição é a com menos propostas econômicas desde que tivemos a redemocratização. “É uma disputa que possui mais bandeiras do que planos de governo. Com isso, as questões de economia ficaram em segundo plano. Entretanto, alguns focos importantes, como o Auxílio Brasil e Imposto de Renda, foram comentados pelos candidatos, mas ainda de forma branda. Costumamos dizer que a economia ainda não subiu no palanque no sentido de ser um fator de decisão”, enfatiza.

O economista Wesley Cantelmo, do Sindicato dos Economistas de Minas Gerais (Sindecon-MG) avalia o perfil de cada candidato a partir do que já vem sendo desenvolvido nos últimos anos. “Com relação ao Bolsonaro, seu plano de governo é bastante inconsistente, não existem propostas muito claras e os dados são imprecisos e até mesmo falsos. O que a gente avalia em termos de proposta para uma possível continuidade da gestão é a sequência do que tem sido feito. Sob um ponto de vista mais estrutural, favorece medidas para tentativa de redução da média salarial, ou dos custos do trabalho para a atividade empresarial, para beneficiar, principalmente, os setores mais voltados para exportação ou atividades de varejo. Mas também existe contradição para esses segmentos, porque temos observado uma diminuição da demanda efetiva, o que resulta no desaquecimento da economia e na queda do consumo das famílias”, explica o especialista.

“Já na estratégia de Lula, no que podemos avaliar em cima das diretrizes apresentadas, há uma tendência de tentar destravar a capacidade de realização estatal, principalmente, com a proposta de tentativa de revogação do teto de gastos, com previsão da substituição por uma outra regra fiscal. Há também uma perspectiva de retomada de investimentos de curto prazo em infraestrutura, que geraria efeitos multiplicadores potentes de uma maneira razoavelmente rápida e provocaria um reaquecimento do mercado de trabalho com valorização da renda média; e ainda uma proposta de retomada de investimento para o estímulo a setores mais complexos dentro de uma perspectiva de industrialização”, avalia Cantelmo.

Conflitos externos

Segundo o professor da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Ivan Beck Ckagnazaroff, além das dificuldades que o candidato eleito irá enfrentar para planejar as propostas apresentadas, há ainda desafios externos que afetam diretamente a economia nacional, como a guerra entre a Rússia e a Ucrânia.

“A situação econômica do País ainda está bastante fragilizada. E ainda há outros fatores que estão fora de controle, como a guerra. Isso influencia diretamente em nossos tributos, por conta de exportação, por exemplo, o que pode fazer com que 2023 ainda tenha uma recuperação bem lenta, independente de qual partido assumir a presidência”, conclui.

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