Lula lamenta morte de Delfim Netto; veja repercussão

Brasília – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se manifestou, por meio de nota, sobre a morte do ex-ministro da Fazenda, Delfim Netto, que morreu nesta segunda-feira (12), aos 96 anos.
“Durante 30 anos eu fiz críticas a Delfim Netto. Na minha campanha em 2006, pedi desculpas publicamente, porque ele foi um dos maiores defensores do que fizemos em políticas de desenvolvimento e inclusão social que implementei nos meus dois primeiros mandatos”, disse Lula.
Quando ministro, Delfim foi um dos responsáveis por assinar, em 1968, o AI-5, o ato que inaugurou os Anos de Chumbo no país. Já como deputado federal, chancelou a Constituição de 1988, considerada uma das mais democráticas do planeta. Durante os dois primeiros mandatos de Lula, o economista contribuiu com as políticas sociais da gestão e tornou-se um dos principais interlocutores do governo na época.
“Delfim participou muito da elaboração das políticas econômicas daquele período. Quando o adversário político é inteligente, nos faz trabalhar para sermos mais inteligentes e competentes”, afirmou o presidente.
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Na nota, o governo também menciona a perda de Maria Conceição Tavares, economista de vertente divergente à de Delfim Netto, que morreu em junho deste ano.
“Em um curto espaço de tempo, o Brasil perdeu duas referências do debate econômico no país: Delfim Netto e Maria da Conceição Tavares. Fica o legado do trabalho e pensamento dos dois, divergentes, mas ambos de grande inteligência e erudição, para ser de batido pelas futuras gerações de economistas e homens públicos. Meus sentimentos aos familiares, amigos e alunos de Delfim Netto.”
O Ministério da Fazenda também se manifestou sobre a morte de Delfim Netto. A pasta afirmou que o ex-ministro foi um “referencial em diferentes fases da história do país”.
“Por décadas, [Delfim] fomentou debates essenciais sobre a condução da política econômica brasileira. Neste momento de luto, os servidores do ministério da Fazenda manifestam respeito e solidariedade aos familiares e amigos de Delfim Netto”, disse a Fazenda.
A morte de Delfim também foi lamentada pelo presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, que foi deputado federal no mesmo período do economista. Em nota, Mercadante também mencionou as diferenças políticas entre eles, mas enfatizou o apoio de Delfim Netto ao governo Lula.
“Recebo com tristeza a informação sobre a morte do economista Delfim Netto. Fomos deputados no mesmo período histórico e estivemos na Comissão de Economia, espaço público em que havia um debate qualificado sobre as políticas de desenvolvimento nacional”, diz a nota.
“Apesar das divergências políticas e no próprio debate econômico, que tivemos ao longo da vida, Delfim Netto sempre teve compromisso com a produção e com o crescimento da economia. Mesmo tendo sido um ministro destacado do regime militar – liderou o chamado ‘milagre brasileiro’ -, Delfim apoiou o governo Lula em momentos importantes e desafiadores”, completa.
Delfim também foi professor de economia na USP, onde Mercadante se graduou.
Ele deixa filha e neto. Não haverá velório aberto ao público e o enterro será restrito à família.
Por meio de nota Rodrigo Pacheco, Presidente do Senado também lamenta o ocorrido.
“Presto minhas condolências aos familiares e amigos do ex-deputado federal e ex-ministro da Fazenda Antonio Delfim Netto, que morreu na madrugada desta segunda-feira (12), em São Paulo, aos 96 anos. Profundo conhecedor das ciências econômicas, ocupou papel altivo na história do Brasil desde 1967, quando se tornou, aos 38 anos, o mais jovem ministro do país”, diz Pacheco.
Economistas e políticos lamentam morte de Antonio Delfim Netto
A atuação multifacetada e pragmática é ponto comum entre definições de economistas brasileiros para o ex-ministro Antonio Delfim Netto, que morreu nesta segunda-feira (12).
Para o ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega, o economista foi “um dos mais importantes formuladores e executores de política econômica do país”.
“Ele tinha plena consciência de seu valor na economia brasileira e formou muitos economistas sabendo de seu papel”, afirma Nóbrega.
Leia, abaixo, reações de economistas brasileiros à morte de Delfim Netto
Marcos Lisboa – Sócio da Gibraltar Consulting:
“Delfim era extremamente inteligente e erudito. Foi o primeiro de uma geração impressionante do Departamento de Economia da USP dos anos de 1950. Sua tese de livre docência sobre o café até hoje é uma obra de referência. Ele se preocupou com a dependência que o Brasil tinha nas exportações de uns poucos produtos com o café. Trabalhou para ampliar a pauta exportadora, motivando uma série de pesquisas sobre o tema. Inspirou estudos acadêmicos, e grupos de trabalho foram montados quando ele era ministro. Ali se entendeu que havia um problema de tecnologia e de solo. A opção foi enfrentar esse tema com a criação da Embrapa, o que levou o Brasil a ser essa potência que vemos hoje. Delfim teve papel fundamental nessa revolução”.
Felipe Salto – Economista-chefe da Warren Investimentos:
“O Professor Delfim Netto foi uma liderança inspiradora para gerações de economistas. Generoso, lia tudo que publicávamos pela IFI [Instituição Fiscal Independente] e me recebia em seu escritório no Pacaembu para conversar e falar de política e economia. Quando fui convidado para ser secretário da Fazenda de São Paulo, telefonei paraa ele e ouvi a seguinte frase: ‘vá, Felipe, porque você mudará de patamar’. Delfim era um amigo leal e um monstro sagrado da economia. O melhor economista que o país teve, entre tantos gigantes, sem dúvida. Tinha espírito público e é um dos construtores do Brasil moderno”.
Maílson da Nóbrega – Ex-ministro da Fazenda
“Delfim foi um dos mais importantes formuladores e executores de política econômica do país, e o líder de equipe econômica que mais exerceu cargos no governo federal. Ele tinha plena consciência de seu valor na economia brasileira e formou muitos economistas sabendo de seu papel. Certamente ficará como um homens públicos mais importantes do Brasil”.
Arminio Fraga – Sócio-fundador da Gávea Investimentos:
“Figura brilhante e multifacetada da cena nacional, deixa abundante material para os historiadores”
Samuel Kinoshita – Secretário da Fazenda e Planejamento Samuel Kinoshita:
“Delfim Netto foi um economista, professor, secretário e ministro da Fazenda verdadeiramente definidor na nossa história econômica. Sua inteligência, sagacidade, curiosidade intelectual e amor pelo trabalho eram simplesmente ímpares. Pessoalmente, sofro a perda de um mentor e de um amigo genuíno a quem muito devo”.
Reportagem distribuída pela Folhapress
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