Medidas unilaterais da União sobre Samarco afetam negociações para acordo

Rio de Janeiro e Brasília – A União tem tomado medidas unilaterais contra a Samarco e suas sócias, Vale e BHP, que não contribuem com a evolução das negociações para o fechamento de um acordo de reparação pelo rompimento de barragem em Mariana, na região Central de Minas Gerais, disse à Reuters representante do Ministério Público mineiro.
A afirmação ocorre após a União e o estado do Espírito Santo rejeitarem na semana passada uma proposta de acordo feita pelas mineradoras sem antes se reunirem com todas as partes públicas interessadas para buscar um alinhamento, segundo o procurador-geral de Justiça adjunto institucional do Ministério Público mineiro, Carlos André Mariani Bittencourt.
Dias depois, destacou Bittencourt, a União também de forma unilateral pediu à Justiça Federal que as empresas fossem obrigadas a pagar R$ 79,6 bilhões em cumprimento provisório de sentença referente a uma ação movida pelo rompimento da barragem. Nesse caso, a Justiça indeferiu.
“Os últimos passos (da União) não são compatíveis com o bom desenvolvimento de um processo de mediação”, disse Bittencourt, pontuando que as medidas espelharam “posições unilaterais não discutidas adequadamente dentro do bloco público”.
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Bittencourt, que atua nas negociações que visam um acordo definitivo para reparar e compensar os danos pelo rompimento da barragem de Mariana, ressaltou que não está entrando no mérito se as decisões da União foram acertadas ou não.
“Sob a ótica do processo negocial, precisa haver diálogo. E sem haver esse alinhamento entre o poder público, não há como fazer acordo com o outro lado”, afirmou.
Procurado, o Adjunto do Advogado-Geral da União, Junior Divino Fideles, afirmou que a União está disposta a continuar as negociações com o objetivo de atingir um acordo final, mas que não deixará de buscar as compensações via judicial em paralelo, uma vez que o desastre aconteceu há mais de oito anos e até agora não se chegou a uma conclusão.
“A nossa atitude de rejeitar (o acordo) e continuar buscando de forma proativa a reparação no âmbito do Judiciário, ao contrário de atrapalhar e retardar a reparação, ela tem um condão de acelerar”, afirmou, adicionando que a União está à disposição e atenderá a todos os convites que forem feitos pra discutir possível solução conciliada.
Um acordo inicial chegou a ser assinado ainda em 2016, sem a participação dos ministérios públicos, criando uma base para implementar reparações, mas não fixou um volume de recursos global e deixou para frente diversas etapas a serem cumpridas, sendo alvo de críticas por diversas partes. Os envolvidos têm realizado negociações para um acordo final, mas sem sucesso até agora.
O rompimento de barragem da Samarco, joint venture da Vale com o grupo BHP, ocorreu em novembro de 2015, liberando uma onda gigante de lama que deixou 19 mortos, centenas de desabrigados, atingiu o rio Doce em toda a sua extensão até o mar do Espírito Santo, além de inúmeros outros impactos.
Após o anúncio da União que havia rejeitado o acordo, o Estado de Minas Gerais em conjunto com o Ministério Público Federal e Estadual e a Defensoria Pública do Estado apresentaram uma petição ao Tribunal Regional Federal da 6ª região pedindo que fosse marcada uma reunião integral do bloco público, para deliberar uma resposta coletiva, disse o procurador-geral.
Ainda na semana passada, a secretária de Estado de Planejamento e Gestão de Minas Gerais, Luísa Barreto, disse à Reuters que o Estado não considerava a proposta das mineradoras perfeita, mas gostaria de seguir negociando.
Barreto disse que o governo de Minas Gerais chegou a pedir uma audiência com o ministro da Casa Civil, Rui Costa, para discutir a proposta, mas que não foi atendido e que viu o movimento do governo como um sinal de que não está disposto a negociar. Procurada, a Casa Civil disse que Costa não recebeu qualquer pedido de audiência.
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