Política

Cúpula da Petrobras vê crise fabricada para minar confiança de Lula em Prates

Prates vai se encontrar com Lula para debater seu futuro em reunião ainda não agendada
Cúpula da Petrobras vê crise fabricada para minar confiança de Lula em Prates
Foto: Divulgação Petrobras


Rio de Janeiro – A cúpula da Petrobras vê hoje uma crise fabricada por ala do governo para minar a confiança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no presidente da estatal, Jean Paul Prates, em uma disputa de controle sobre a maior empresa brasileira.

A reportagem apurou que Prates não está disposto a entregar o cargo e, em sua defesa, assessores destacam mudanças promovidas pelo executivo na política de preços dos combustíveis e na política de dividendos, que atenderam a anseios do governo sem grandes impactos nas ações.

A fritura de Prates ganhou força esta semana após entrevista do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, à Folha de S.Paulo, com críticas à abstenção do presidente da Petrobras na proposta de retenção dos dividendos extraordinários sobre o lucro de 2023.

Nesta quinta-feira (4), começaram a circular em Brasília rumores sobre troca no comando da estatal, com a substituição de Prates pelo presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante.

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A avaliação na Petrobras é que o recuo na retenção dos dividendos em meio à queda das ações após rumores da saída de Prates comprova a tese da fabricação deliberada de uma crise.

Segundo essa tese, ao defender a retenção do dinheiro, em março, os ministérios de Minas e Energia e da Casa Civil ofuscaram a divulgação do balanço de 2023 da Petrobras, no qual a empresa registrou o segundo maior lucro da sua história.

Agora, argumentam as fontes, o recuo suaviza os impactos no mercado da crise de imagem provocada pelas discussões sobre a troca no comando.

Prates vai se encontrar com Lula para debater seu futuro em reunião ainda não agendada. Ele negou a interlocutores que tenha dado um ultimato ao presidente da República, mas reclamou das frequentes críticas públicas de Silveira.

Assessores defendem que o saldo de sua gestão, até agora, é positivo, já que a empresa não enfrentou grandes percalços quando decidiu “abrasileirar” os preços dos combustíveis nem quando cortou os dividendos pagos a acionistas, duas promessas de campanha de Lula.

Mas há também questionamentos sobre a velocidade das obras da empresa, que ainda não conseguiu deslanchar programa de apoio à indústria naval e não deve entregar grandes projetos de refino ainda no primeiro mandato da nova gestão petista.

Ainda assim, a cúpula da Petrobras vê nas frequentes crises uma disputa pelo comando da companhia. Os atritos entre Prates e Silveira vêm desde o início da gestão, quando o ministro venceu a primeira batalha ao nomear três aliados ao conselho de administração.

Passaram por críticas públicas de Silveira a dificuldades para ampliar a oferta de gás natural, que depende da conclusão de novo gasoduto do pré-sal, e divergências em relação ao volume de investimentos direcionado à nova área de energias renováveis da empresa.

Ganharam tração no início do ano, com esforço de Prates para retirar da presidência do conselho o secretário de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis do MME, Pietro Mendes -a quem a cúpula da empresa acusa de segurar pautas relevantes.

Mais uma vez, o presidente da Petrobras perdeu a batalha: a lista de indicados do governo para renovação do conselho, que será avaliada em assembleia no fim do mês, traz Mendes como candidato à presidência.

Os frequentes conflitos vêm atropelando a governança da empresa, ao criar “grave ruído” na sua comunicação com o mercado, nas palavras do presidente da (Associação de Investidores no Mercado de Capitais Amec), Fabio Coelho.

Nesta quinta, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) abriu um processo administrativo para investigar a comunicação da companhia, diante dos vazamentos de informações relevantes por Brasília, e não em comunicados ao mercado, como exige a legislação. (Por Nicola Pamplona)

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