PF realiza operação contra aliados de Bolsonaro
Brasília e São Paulo – A Polícia Federal cumpriu ontem mandados de busca e apreensão contra aliados e apoiadores do presidente Jair Bolsonaro no âmbito do inquérito que apura ataques e notícias falsas contra ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), e entre os alvos da operação estão o ex-deputado federal e presidente do PTB, Roberto Jefferson, e o empresário Luciano Hang, dono das Lojas Havan.
Entre os 29 alvos de mandados de busca e apreensão no Distrito Federal, Rio de Janeiro, São Paulo, Mato Grosso, Paraná e Santa Catarina estão outros alvos próximos do presidente Jair Bolsonaro e seus filhos, como os blogueiros Allan dos Santos e Bernardo Kuster.
Estão na lista ainda a ativista Sara Winter, organizadora do grupo de inspiração paramilitar 300 pelo Brasil, e empresários como Edgard Gomes Corona, dono da rede de academias Smart Fit, e Otávio Oscar Kafhoury, dono do site bolsonarista Crítica Nacional.
As diligências foram determinadas pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo, que preside o inquérito, aberto pelo presidente da corte, Dias Toffoli, em março do ano passado para apurar notícias falsas e ameaças contra ministros do tribunal. A abertura do inquérito por iniciativa de Toffoli foi alvo de críticas, já que o comum é que inquéritos sejam abertos pelo Judiciário atendendo a pedidos de outros órgãos.
Em seu pedido de diligências, Moraes apontou indícios de uma “associação criminosa” entre empresários e influenciadores digitais para criar uma rede de financiamento e transmissão de notícias falsas.
“As provas colhidas e os laudos periciais apresentados nestes autos apontam para a real possibilidade de existência de uma associação criminosa, denominada nos depoimentos dos parlamentares como ‘Gabinete do Ódio›, dedicada a disseminação de notícias falsas, ataques ofensivos a diversas pessoas, às autoridades e às Instituições, dentre elas o Supremo Tribunal Federal, com flagrante conteúdo de ódio, subversão da ordem e incentivo à quebra da normalidade institucional e democrática”, disse o ministro.
Além das 16 pessoas alvos de mandados de busca e a apreensão, Moraes determinou ainda que seis deputados federais do PSL da ala bolsonarista – Bia Kicis (DF), Carla Zambelli (SP), Daniel Silveira (RJ), Filipe Barros (PR), Junio Amaral (MG) e Luiz Philippe de Orleans e Bragança (SP) – e dois deputados estaduais paulistas, Douglas Garcia e Gil Diniz, também bolsonaristas sejam ouvidos pela PF em até dez dias.
Algumas horas depois da operação ser deflagrada, o procurador-geral da República, Augusto Aras, pediu a suspensão do inquérito até o julgamento de uma ação pelo Supremo Tribunal Federal que questiona o seu trâmite.
Aras alegou que a PGR foi “surpreendida” com a operação “sem a participação, supervisão ou anuência prévia” da PGR, que é o órgão a que se destinariam ao final as provas recolhidas na fase de investigação.
Ao longo o dia, os envolvidos na operação reagiram nas redes sociais sobre seu envolvimento no inquérito.
Em transmissão ao vivo no Facebook, Hang disse que foi alvo de mandados em sua casa e em seu escritório e que seu telefone celular e seu computador pessoal foram apreendidos pelos agentes. O empresário disse ainda que a investigação vai provar que ele não produziu notícias falsas contra ministros do STF. “Jamais atentei ou fiz fake news contra o STF”, disse.
No Twitter, Roberto Jefferson comparou a operação desta quarta a uma ação do “Tribunal do Reich”, em referência ao regime nazista alemão comandado por Adolf Hitler.
“Com um mandado de busca e apreensão, expedido contra mim por Alexandre de Moraes, STF, para aprender meus computadores e minhas armas. Atitude soez, covarde, canalha e intimidatória, determinada pelo mais desqualificado ministro da corte. Não calarei. CENSURA”, escreveu na publicação, acompanhada da foto do mandado expedido por Moraes.
O blogueiro Allan dos Santos, do site Terça Livre afirmou a jornalistas na porta de sua casa que as investigações contra ele irão desmoralizar o Supremo.
O deputado estadual Douglas Garcia, que teve dois assessores alvos da operação e buscas no seu gabinete, disse que a operação desta quarta apequena a PF.
Reação – Ao sair do Palácio da Alvorada nesta manhã, Bolsonaro disse, sem comentar os mandados de busca e apreensão determinados por Moraes, que mais operações ocorrerão enquanto ele for presidente. À tarde, o presidente convocou uma reunião extraordinária com ministros do governo, segundo a Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom).
Em nota, o ministro da Justiça e Segurança Pública, André Mendonça, afirmou que é garantido direito de criticar representantes e instituições de quaisquer Poderes e que parlamentares têm ampla imunidade por suas palavras, considerando um “atentado à própria democracia” intimidar ou tentar cercear esses direitos. (Reuters)
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