Indicação de Galípolo para a presidência do BC é aprovada por unanimidade por comissão do Senado

A Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) aprovou a indicação de Gabriel Galípolo para presidente do Banco Central por unanimidade, com 26 votos favoráveis e nenhum contrário.
Galípolo respondeu a uma sabatina da CAE, entre 10h a 14h30 desta terça-feira (8).
Atual diretor de Política Monetária do Banco Central, ele é o indicado da Presidência da República para comandar a instituição no lugar de Roberto Campos Neto, cujo mandato termina em 31 de dezembro deste ano.
A indicação segue agora o Plenário, em regime de urgência, e a análise deve ocorrer ainda nesta terça. Se aprovado pelo Senado, Galípolo deve comandar o Banco Central por quatro anos.
Assista à sabatina, que durou quase cinco horas:
Veja o que Galípolo disse na sabatina
Compromisso de seguir a meta
Em sua fala inicial, Galípolo reafirmou o compromisso do BC de levar a inflação em direção à meta e também disse que o país tem condições de se firmar como economia sustentável e de assegurar o crescimento da produtividade.
“Nós vamos estar sempre sujeitos a momentos mais desafiadores, mas a atuação do Banco Central tem sido inequívoca na perseguição da meta de inflação estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional”, disse.
O alvo perseguido pelo BC é de 3%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Isso significa que o objetivo é considerado cumprido se oscilar entre 1,5% (piso) e 4,5% (teto).
“Devo às senadoras e senadores a obrigação de reafirmar, um, meu compromisso com o mandato estabelecido pelo arcabouço institucional e legal para a autoridade monetária brasileira; dois: a consciência da honra e responsabilidade que envolvem a indicação à presidência do Banco Central e do papel da estabilidade financeira na construção da sociedade que desejamos”, afirmou Galípolo nesta terça-feira.
Liberdade para tomar decisões
Durante a sabatina, Gabriel Galípolo afirmou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) garantiu que ele terá liberdade para tomar decisões à frente do cargo, privilegiando o interesse do povo brasileiro.
“Toda vez que me foi concedida a oportunidade de encontrar o presidente Lula eu escutei de forma enfática e clara a garantia da liberdade na tomada de decisões, e que o desempenho da função deve ser orientado exclusivamente pelo compromisso com o povo brasileiro”, afirmou.
“Que cada ação e decisão deve unicamente ao interesse do bem-estar de cada brasileiro”, acrescentou.
Autonomia do BC
Questionado sobre a autonomia do BC, Galípolo disse que o tema gera um “debate acalorado” e que é preciso ressignificar a questão.
“As metas e os objetivos estabelecidos ao Banco Central são estabelecidos pelo poder democraticamente eleito. […] Cabe ao Banco Central e à sua diretoria perseguir esta meta”, afirmou. “E de maneira nenhuma a ideia de autonomia deve passar uma ideia de que o Banco Central vai se insular e virar as costas ao poder democraticamente eleito, não se trata disso.”
Para ele, o processo de autonomia tem se dado de maneira “bastante estável”, em parte porque o BC não ultrapassa o limite de suas atribuições. Sob esse argumento, evitou tecer comentários sobre a atuação da Receita Federal e da Petrobras, por exemplo.
Impacto das bets na atividade econômica
Gabriel Galípolo admitiu desconfiança inicial com os dados obtidos em estudo técnico da instituição sobre o mercado de bets no Brasil e disse que a regulação do setor não é papel da autoridade monetária.
Segundo ele, os números alarmantes se confirmaram e cabe ao BC analisar o impacto das apostas esportivas sobre a atividade econômica e a inflação.
“Eu confesso aqui que, nas primeiras reuniões, quando os números me foram apresentados, eu tive uma grande desconfiança. A cada reunião, aqueles números iam se confirmando até chegar no montante que ficou público no estudo que o Banco Central fez”, afirmou Galípolo durante sabatina no Senado.
A nota divulgada pela autoridade monetária mostrou que beneficiários do Bolsa Família transferiram R$ 3 bilhões via Pix em agosto para empresas de apostas esportivas.
“Mas, sempre reforçando aqui, o Banco Central não tem qualquer atribuição sobre a regulação de jogos e apostas, a nossa função é muito mais tentar entender qual é o impacto disso em consumo, endividamento das famílias, como a gente consegue explicar a relação entre atividade econômica, despesas e o impacto na inflação”, acrescentou.
Relação com Campos Neto
Galípolo enfatizou aos senadores ter um bom relacionamento com Campos Neto e fez um “mea culpa” por não ter colaborado mais para que a relação do atual presidente do BC com o Executivo fosse melhor. Campos Neto foi alvo recorrente de críticas de Lula.
“Eu sinto que gerei, talvez, uma grande frustração na expectativa que existia de que, ao entrar no BC, fosse começar um grande reality show, com grandes disputas e brigas ali dentro. Infelizmente, tenho uma informação chata para dar para todos: a minha relação com o presidente é a melhor possível, com o presidente Lula e com o presidente Roberto”, disse.
“Até me ressinto, faço uma mea culpa aqui, gostaria de ter colaborado para que essa relação entre o Banco Central e o próprio governo Executivo fosse melhor ainda do que ela tem sido. [Do ponto de vista] institucional tem sido perfeita, acho que não tem tido nada, nenhum tipo de influência”, completou.
Quem é Gabriel Galípolo, indicado de Lula para chefiar Banco Central
Galípolo, indicado para assumir a presidência do Banco Central para o mandato de 2025 a 2028, foi secretário-executivo da Fazenda e atuou como braço-direito do ministro Fernando Haddad até junho do ano passado, quando foi indicado ao posto de diretor de política monetária do Banco Central.

O paulistano de 42 anos foi presidente do banco de investimentos Fator de 2017 a 2021 e se notabilizou como um dos conselheiros econômicos de Lula quando participou da campanha presidencial do petista.
Antes de cair nas graças de Lula, Galípolo teve como sócio e mentor o economista e ex-presidente do Palmeiras Luiz Gonzaga Belluzzo, amigo de Lula desde os anos 1970 e seu conselheiro econômico histórico.
Para além da paixão pelo Palmeiras, Galípolo tem Belluzzo como referência e um grande amigo. Juntos, eles escreveram três livros: “Manda Quem Pode, Obedece Quem Tem Prejuízo”, “A Escassez na Abundância Capitalista” e “Dinheiro: o Poder da Abstração Real”.
Galípolo costuma usar seu repertório de outras áreas, como filosofia, física quântica, literatura e futebol, para construir metáforas econômicas. Ele é leitor de Machado de Assis e Dostoiévski. Seu personagem favorito na ficção é o retirante idealista, vítima da Grande Depressão, Tom Joad, protagonista de “As Vinhas da Ira”, do americano John Steinbeck.
Ele graduou-se em 2004 em economia pela PUC-SP, onde também obteve o título de mestre em economia política, em 2008. Entre 2006 e 2012 ele ainda lecionou na mesma instituição, como professor de disciplinas da graduação de economia, como economia brasileira contemporânea, macroeconomia, economia para relações internacionais, introdução à ciência política, história do pensamento econômico, economia política, entre outras.
Deu aulas no MBA da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo e na London School of Economics and Political Science.
Sua primeira passagem pela administração pública foi entre 2007 e 2008, no Governo de São Paulo, durante a gestão de José Serra (PSDB), na secretaria de Economia e Planejamento e na dos Transportes Metropolitanos.
Com informações da Agência Senado. Reportagem distribuída pela Folhapress.
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