Mineração: avanços e desafios rumo à sustentabilidade

A sustentabilidade já não é mais um ideal, mas uma exigência para a longevidade de empresas da indústria da mineração. Não apenas a sociedade civil, como o próprio mercado, demandam ao setor uma atuação mais responsável, que promova o uso eficiente dos recursos naturais e minimize os impactos socioambientais associados à atividade.
Cientes disso, as mineradoras estabeleceram metas alinhadas à Agenda 2030, da Organização das Nações Unidas (ONU), que completa uma década neste ano. A lista de compromissos inclui: ampliar o uso de fontes renováveis de energia, reduzir as emissões de carbono, recuperar e proteger florestas e contribuir para o desenvolvimento socioeconômico das regiões onde atuam, por meio de programas de educação, saúde e infraestrutura.
“A mineração nunca será 100% sustentável”, avalia a professora titular do Departamento de Engenharia de Minas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Sônia Denise Ferreira Rocha. “A atividade gera muitos impactos, mas é possível fazê-la com responsabilidade, que é o que várias empresas têm buscado”, pondera.
Conforme explica a docente, a sustentabilidade no setor mineral está relacionada ao controle das emissões atmosféricas e líquidas, ou seja, o objetivo é não causar um distúrbio maior do que o meio ambiente é capaz de recuperar. Esta relacionada também ao uso de matérias-primas, da melhor forma possível, o que significa gerar menos resíduos, e também à adoção de ações em prol da comunidade. “Se a mineradora não tiver condições de fazer isso, perde a viabilidade”, reitera.
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Sônia Rocha enfatiza que o local minerado jamais voltará a ser como antes. Contudo, com uma atuação responsável, a área degradada pode ser recuperada. Nesse sentido, ela sinaliza que algumas empresas possuem viveiro de mudas e banco de sementes para que, ao final da vida útil da mina, seja feito o plantio de espécies nativas da região.
Pauta evolui, mas em ritmo lento
O professor do Departamento de Engenharia de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), Hernani Lima, afirma que, de um modo geral, as grandes mineradoras estão investindo pesado em ações voltadas à descarbonização, na descaracterização de barragens a montante, em tecnologias de filtragem de rejeitos e no empilhamento a seco. No entanto, é preciso avançar mais, já que a pauta sustentável não tem englobado todo o setor.
“Tem uma ou outra empresa sendo mais atuante. A maioria, não”, avalia. De acordo com o docente, é necessário aprimorar, por exemplo, a relação com a comunidade. “A gente não vê isso nas pequenas e médias empresas”, sublinha. Ele afirma que o município de Ouro Preto, na região Central do Estado, enfrenta uma série de problemas referentes à abertura de mini minas, que não se relacionam com o entorno e não respeitam as regras ambientais.
Lima explica que as mini minas, geralmente, são vinculadas às grandes mineradoras. Segundo o professor, não é interessante para essas empresas abrirem uma mina em determinados locais, porque serão gerados problemas ambientais e conflitos com a população. Assim, elas optam por arrendar o direito minerário para mineradoras menores explorá-lo e, posteriormente, vender ou fornecer o minério extraído para a arrendatária.
O docente reitera os impactos desses empreendimentos. Segundo ele, cada mini mina aberta em Ouro Preto precisa de vários caminhões para escoar a produção, contribuindo para aumentar o tempo de deslocamento da população e o número de acidentes rodoviários.
Estado é um dos responsáveis pelo tímido avanço
Para o professor da Ufop, o Estado como agente regulador é um dos responsáveis pelo “ainda tímido avanço da sustentabilidade” no setor mineral. “No meu ponto de vista, o papel do Estado federativo na contribuição dessa agenda é questionável”, afirma.
Na avaliação de Lima, existe um empenho por parte de algumas mineradoras para, de fato, cumprirem a agenda sustentável. Entretanto, por outro lado, o Estado facilita o licenciamento dos empreendimentos em prol de uma agenda econômica, favorecendo o incremento de impactos ambientais e sociais e gerando revolta ou maior aversão da comunidade à atividade de mineração. “É um antagonismo, infelizmente.”
Obstáculos para a mineração sustentável
A mineração é essencial para os padrões de vida contemporâneos. A atividade fornece insumos para a produção de itens indispensáveis ao cotidiano da população e é estratégica para a economia global, com impacto significativo na criação de riquezas e empregos. Diante disso, é fundamental que as empresas atinjam as metas de sustentabilidade e continuem investindo em ações sustentáveis para que o setor siga atuando.
Conforme ressaltado pelos especialistas, grande parte das mineradoras está realmente se esforçando para diminuir os impactos socioambientais negativos e ampliar os efeitos positivos. Porém, ainda há desafios pelo caminho que precisam ser enfrentados, sendo um deles, o volume de rejeitos gerados por certos segmentos e a destinação dos materiais.
Sônia Rocha diz que, para cada tipo de minério, é preciso ter uma ação diferente das empresas. A professora da UFMG exemplifica citando que o minério de ferro não tem altos níveis de toxicidade como outros minérios – exemplo, os minérios sulfetados de zinco. Mas o processamento gera uma grande quantidade de rejeitos, que precisam ser estudados e devidamente destinados.
Nesse sentido, a docente destaca que existem vários grupos de pesquisadores desenvolvendo junto às mineradoras novas formas de destinação dos rejeitos. E ressalta que é necessário que o poder público amplie o trabalho dos profissionais.
Uma das alternativas já utilizadas por parte da indústria da mineração para dar um destino apropriado aos rejeitos é transformá-los em coprodutos para a construção civil, por exemplo. No entanto, isso ainda não acontece de modo expressivo. A professora pontua que é um desafio para as empresas entender qual será o coproduto gerado pela operação e se o material terá valor no mercado, uma vez que ele representa custos para o negócio.
Entre os vários obstáculos a serem superados para que a mineração seja, de fato, sustentável, Sônia Rocha menciona também a necessidade de maior fiscalização do poder público sobre a atividade para evitar desastres e outros impactos. Ela afirma que a disponibilização de sistemas com dados abertos de fácil acesso devem ser divulgados para alcance facilitado da sociedade.
De acordo com a docente, o que se preconiza para que a agenda sustentável avance é a pressão da sociedade, a atuação do poder público e o reconhecimento das mineradoras de que é preciso investir em iniciativas sustentáveis. “Temos que caminhar juntos”, enfatiza.
Os esforços da mineração rumo à sustentabilidade se alinham ao Movimento Minas 2032 – pela transformação global (MM 2032). Liderado pelo Diário do Comércio, o MM2032 propõe uma discussão sobre um modelo de produção duradouro e inclusivo, capaz de ser sustentável, e o estabelecimento de um padrão de consumo igualmente responsável, com base nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da ONU.
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