Sustentabilidade

COP30 quer tirar promessas do papel e discutir adaptação climática

Em evento na Cemig, especialista falou sobre expectativas e desafios que deverão estar em discussão na conferência da ONU
COP30 quer tirar promessas do papel e discutir adaptação climática
COO e cofundador da WayCarbon, Henrique Pereira, durante evento de encerramento da série 'Minas Rumo à COP30'. | Foto: Anderson Rocha/ Diário do Comércio

A Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), marcada para acontecer em novembro, no Pará, será diferente das anteriores. Se em Baku, capital do Azerbaijão, a COP29 terminou sem definição de financiamentos, a expectativa agora é implementar metas já acordadas para tentar manter o aquecimento global abaixo de 1,5°C.

A análise é do COO e cofundador da WayCarbon, Henrique Pereira, que participou do evento de encerramento da série ‘Minas Rumo à COP30’, realizada pela Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) e parceiros em Belo Horizonte, da qual a WayCarbon foi responsável pela consultoria técnica.

“A COP30 não é de negociação, é de implementação. Baku terminou com uma frustração sobre volumes de recursos financeiros muito grande. Era para ter sido a COP do financiamento, o que não se concretizou. Então, existe uma ambição do governo brasileiro de retomar essa agenda para tentar aumentar o volume de recursos prometidos durante a COP29”, afirmou o especialista.

Segundo ele, de 2024 para cá, a discussão sobre como os recursos serão viabilizados foi intensificada, já que o mundo vive um momento de desaceleração econômica. “Cabe só ao setor público ou existe um papel do setor privado na mobilização de recursos para gente reduzir emissões, para inovar, para se adaptar e se preparar para os impactos climáticos que já são esperados?”, questionou.

Outro desafio que chega à COP30, segundo Pereira, é a distância entre metas assumidas por países para limitar o aquecimento global e efetivamente as ações executivas, que estão muito aquém do necessário, na análise do cofundador da WayCarbon.

Brasil também buscará agenda sobre adaptação climática

Outra pauta priorizada pelo País na COP30 é a adaptação climática, ou seja, um conjunto de ações para “aprender a viver” com os impactos já considerados inevitáveis das mudanças do clima. Para Henrique Pereira, o assunto tem ficado à margem nas Conferências das Nações Unidas sobre mudanças climáticas

Entre as estratégias para essa adaptação, os cientistas têm elencado:

  • Reforço de estruturas como pontes e redes elétricas para que suportem eventos climáticos extremos;
  • Desenvolvimento de agriculturas resistentes à seca ou ao calor extremo;
  • Criação de planos de evacuação e de alerta para áreas de risco.
Encerramento da série 'Minas Rumo à COP30' foi na sede da Cemig, em Belo Horizonte. | Foto: Anderson Rocha/ Diário do Comércio
Encerramento da série ‘Minas Rumo à COP30’ foi na sede da Cemig, em Belo Horizonte. | Foto: Anderson Rocha/ Diário do Comércio

Regulação protecionista na Europa deve entrar em debate

O COO e cofundador da WayCarbon lembrou que a COP30 poderá ainda tratar sobre os reflexos da adoção de uma regulamentação da taxa de carbono na fronteira pela Europa.

“Entre os setores regulados pela Europa, a gente tem o minério e a siderurgia mais afetados em Minas. Então, a WayCarbon vem trabalhando com empresas do setor. A gente está em uma fase de comunicação da intensidade de carbono desses produtos. A lógica do instrumento é de proteção da competitividade da indústria europeia: se a minha indústria pagar por carbono em um mercado regulado, um produto importado, que não paga por carbono, terá que pagar aqui na fronteira para entrar”, contextualizou.

Conforme Pereira, esse debate tem caráter estratégico pois, embora haja uma percepção inicial de aumento de custos ao pagar pelo carbono, a análise deve considerar o custo relativo. Isso porque Minas possui um diferencial competitivo na economia de baixo carbono, já que tem matriz energética limpa.

“Nesse contexto, o Estado apresenta vantagens: o alumínio, o minério, o aço produzido em Minas, graças ao uso de carvão vegetal, têm intensidade de carbono mais baixa do que a de concorrentes internacionais”, declarou.

Nesse cenário, segundo ele, a indústria mineira, apesar de sujeita a custos maiores, pode ganhar competitividade em relação a produtos da China, Índia, Austrália, África do Sul, México e Estados Unidos. “Então é interessante entender essa regulação também no contexto de preço e custo relativos e não só de custo absoluto”, disse.

Por fim, Pereira alertou que, apesar das vantagens dos setores mais limpos na comparação com pares internacionais, Minas Gerais e o Brasil precisam investir mais em renováveis, ou seja, em pesquisa, construção de usinas e infraestrutura voltados para essas fontes. “Hoje o diferencial existe, mas o que a gente precisa é garantir que ele permaneça ao longo do tempo”, encerrou.

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