Sustentabilidade

Custo dos alimentos restringe consumo de dietas saudáveis pelos brasileiros

Tese defende que alimentação que faz bem à saúde tem custo elevado
Custo dos alimentos restringe consumo de dietas saudáveis pelos brasileiros
Foto: Arquivo da Faculdade de Medicina da UFMG

Os custos dos alimentos saudáveis tem se tornado um entrave para que a população de menor renda possa aderir a este tipo de dieta, especialmente no caso de pessoas mais vulneráveis. Diversos fatores como as mudanças climáticas, podem afetar os preços e diminuir o consumo desses alimentos, segundo a autora de uma tese recém-defendida no Programa de Pós-graduação em Saúde Pública da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a pesquisadora Thaís Cristina Marquezine Caldeira.

“A seca ou até chuva em excesso causam problemas na produção, afetam a distribuição e os alimentos não chegam ao consumidor, ou chegam com preços muito mais altos”, destaca a pesquisadora da UFMG, que usou dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2017/18, conduzida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A POF é uma pesquisa periódica e transversal que avalia o consumo, os gastos e a renda das famílias, fornecendo informações sobre as condições de vida da população brasileira.

De acordo com informações da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), os preços globais dos alimentos aumentaram 11% em 2022, tornando uma dieta saudável inacessível para 2,83 bilhões de pessoas. 

Thaís Cristina Marquezine Caldeira ressalta que o aumento dos preços dos alimentos frescos e minimamente processados dificulta o consumo, o que evidencia a interseção entre a insegurança alimentar global e as disparidades socioeconômicas locais.

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Portanto, o custo da dieta está diretamente relacionado à sua composição. Diante disso, dietas de menor custo tendem a incluir menos carnes, laticínios, hortaliças e frutas, e os preços mais altos tornam esses itens inacessíveis para grupos de baixa renda. Com isso, eleva-se, então, o consumo de carne vermelha, açúcar e alimentos ultraprocessados.

Thaís Caldeira: consumo de alimentos de origem vegetal previne doenças Foto: Arquivo Pessoal

Entretanto, a pesquisadora destaca que, uma avaliação das possíveis conexões entre saúde, sustentabilidade e economia, pode contribuir para o debate contínuo sobre a construção de sistemas alimentares mais responsáveis e resilientes.

Foram analisadas dietas baseadas no consumo atual da população de acordo com as recomendações do Guia Alimentar para a população brasileira (GAPB) e dietas baseadas nas recomendações do EAT-Lancet. Segundo a análise, grãos e vegetais ricos em amido (25,4%), alimentos ultraprocessados (22,5%), alimentos proteicos – como aves, frutos do mar, ovos, leguminosas e oleaginosas (13,8%) – e carne vermelha (10,5%) representam aproximadamente 70% das calorias na dieta atual do brasileiro.

Alimentos saudáveis e renda

A pesquisa identificou que o custo médio da dieta foi de R$ 0,65/100 kcal para a população total, com variações observadas entre os níveis de renda, regiões geográficas e áreas domiciliares. Um custo menor foi observado no território de menor renda (R$ 0,60/100 kcal) em comparação com o território de maior renda (R$ 0,70/100 kcal).

Um dos estudos mencionados na tese mostra que famílias de baixa renda, especialmente em áreas rurais e em regiões menos desenvolvidas do País, enfrentam barreiras financeiras significativas para adotar dietas mais saudáveis, como as recomendadas pela Comissão EAT-Lancet. Esses desafios são agravados pelo aumento do custo dos alimentos minimamente processados e frescos utilizados em uma dieta, pela crescente dependência de produtos ultraprocessados e pela distribuição desigual de recursos entre as regiões.

Na comparação por regiões, o Nordeste apresentou o menor custo (R$ 0,58/100 kcal) em comparação com o Sudeste (R$ 0,71/100 kcal), e nas áreas rurais o custo foi mais baixo (R$0,53/100 kcal) do que nas áreas urbanas (R$ 0,69/100 kcal). 

Thaís Caldeira defende a implementação de políticas públicas que incentivem a saúde e a sustentabilidade da alimentação no Brasil. Uma política essencial já em vigor é a obrigatória rotulagem de advertência em alimentos processados. Esforços adicionais, como a oferta de incentivos fiscais para alimentos saudáveis simultaneamente à taxação de produtos não saudáveis, poderiam promover uma dieta mais saudável, sustentável e justa para a população brasileira, propõe. 

“Acho que parte, principalmente, do poder público e da política promoverem uma mudança nesse cenário do preço dos alimentos para que todos possam ter acesso a eles. Hoje é muito difícil consumir frutas e hortaliças, que pesam muito no bolso da população”, conclui a pesquisadora da UFMG. 

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