Diferença no índice de arborização urbana entre cidades de Minas é de mais de 90%, aponta IBGE

Minas Gerais ficou abaixo da média nacional em proporção de moradores que vivem em quadras com arborização urbana, segundo a Pesquisa Urbanística do Entorno dos Domicílios, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) com dados do Censo 2022. No Estado, 64,3% da população residente nos setores analisados vivia em quarteirões com pelo menos uma árvore. A média brasileira foi de 66%.
A situação em Minas Gerais é marcada por forte desigualdade entre os municípios. No topo da lista estão:
- Cachoeira Dourada (98,8%)
- Morro do Pilar (98,7%)
- Ipiaçu (98,1%)
Na outra ponta, os municípios que registraram os menores percentuais de arborização urbana foram:
- Ressaquinha (2,8%)
- Alto Caparaó (3,8%)
- Lamim (7,4%)
Entre os 853 municípios de Minas, apenas 143 apresentaram mais de 80% da população vivendo em quadras arborizadas. Já em 53 municípios, menos de 20% da população tinha essa infraestrutura no entorno dos domicílios.
Para o arquiteto e urbanista Guilherme Graciano, a arborização urbana em Minas Gerais está diretamente ligada ao porte dos municípios e à efetividade da gestão pública local. “Temos cidades pequenas com arborização considerável, como Ipiaçu. Mas também entra em jogo a legislação urbana e a fiscalização para garantir que ela seja cumprida”, explica.
Segundo Graciano, a ausência de planos diretores voltados à arborização urbana e à mobilidade ativa contribui para a disparidade nos índices das cidades em Minas Gerais. “São poucos os municípios que têm plano de arborização urbana, um plano de mobilidade, que leva em consideração o transporte ativo. Até para os municípios onde existe uma legislação, a execução desses planos ainda se mostra muito tímida para atender a um transporte ativo que leva em consideração o uso de bicicletas, o uso de área caminhável, acessível e confortável com arborização para pequenas e médias distâncias”, avalia.
Minas Gerais ocupa a 14ª posição entre as unidades da federação no indicador de arborização. Mato Grosso do Sul, com 92,4%, lidera o ranking nacional, e Sergipe aparece com o menor percentual, com apenas 38,6% da população vivendo em quadras arborizadas.
Confira os indicadores de arborização urbana dos estados brasileiros
- Mato Grosso do Sul 92,44%
- Distrito Federal 84,19%
- Paraná 82,58%
- Goiás 81,85%
- Mato Grosso 80,85%
- Tocantins 79,14%
- Rondônia 78,34%
- Rio Grande do Sul 76,61%
- São Paulo 74,36%
- Ceará 68,86%
- Piauí 66,67%
- Rio Grande do Norte 66,09%
- Paraíba 64,70%
- Minas Gerais 64,31%
- Rio de Janeiro 61,95%
- Amapá 60,06%
- Espírito Santo 55,85%
- Maranhão 52,85%
- Pará 52,07%
- Roraima 50,96%
- Pernambuco 49,12%
- Bahia 48,91%
- Alagoas 45,45%
- Amazonas 44,60%
- Acre 42,10%
- Santa Catarina 41,04%
- Sergipe 38,55%
Belo Horizonte é a 7ª capital em arborização

Conhecida historicamente como “cidade jardim”, Belo Horizonte ficou em 7º lugar entre as capitais brasileiras. Na comparação dentro de Minas Gerais, BH ocupa a 194ª posição no ranking. Já entre os municípios da Região Metropolitana (RMBH), a capital aparece em 5º lugar, com 73,3% da população vivendo em quadras com ao menos uma árvore.
Entre os destaques positivos da RMBH estão Baldim (86,3%), Igarapé (82,8%) e Sarzedo (81,3%). Já entre os municípios com piores índices na região metropolitana aparecem Itaguara (30,8%), Taquaraçu de Minas (28,7%) e Caeté (28,6%).
Graciano destaca que a disparidade vista entre os municípios de Minas Gerais também é considerável dentro das grandes cidades. Belo Horizonte é mais arborizada na região Centro-Sul, enquanto na periferia a arborização diminui.
“Se a gente pega uma imagem de satélite de Belo Horizonte, por exemplo, os bairros dentro da avenida do Contorno têm muito mais arborização do que os bairros fora, comparativamente”, observa.
No último levantamento do IBGE, em 2010, Belo Horizonte apareceu como a 3ª capital mais arborizada do País. Com a mudança de metodologia da pesquisa, não é possível afirmar que a capital mineira tenha caído no ranking de arborização urbana.
O levantamento do IBGE leva em consideração a existência de pelo menos uma árvore na calçada observada ou no canteiro central da via. Em 2010, o escopo da pesquisa era mais abrangente, incluindo também árvores nas calçadas opostas à observada. Com a mudança metodológica, os dados de 2022 não são comparáveis diretamente com os da edição anterior — o que pode, em parte, explicar a aparente redução em alguns municípios.
Procurada pela reportagem do Diário do Comércio, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) informou que, atualmente, a Capital tem um índice de áreas verdes protegidas de 25,98 metros quadrados (m²) por habitante, mais do que o dobro da recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS), que é de 12 m² por habitante. “Isso mostra que nosso trabalho é técnico, planejado e tem dado resultado”, destaca o secretário municipal de Meio Ambiente, Gelson Leite.
Para o secretário, BH está no caminho certo, mas ainda há espaço para aumentar a arborização urbana. “Para avançarmos no ranking, estamos intensificando três frentes principais: planejamento técnico baseado em dados, participação popular e investimentos em soluções baseadas na natureza. Hoje, qualquer cidadão pode sugerir pontos de plantio pelo Portal de Serviços da Prefeitura, o que amplia a rede de cuidado e engajamento. E, claro, seguimos focados na qualidade da arborização, utilizando espécies nativas e adequadas, com manutenção constante”, afirma.
Importância de melhorar a arborização
A ausência de arborização impacta diretamente o conforto térmico, a qualidade do ar e a mobilidade urbana. Segundo especialistas, além do papel estético e ambiental, as árvores contribuem para a acessibilidade e o incentivo ao deslocamento a pé ou por bicicleta — pilares fundamentais para uma cidade mais humana e sustentável.
Para Graciano, os municípios precisam rever prioridades e ampliar o foco da mobilidade urbana. “Ainda vemos uma tendência de priorização do transporte individual, um reflexo do rodoviarismo do século 20 e que ainda persiste no início do século 21. Isso precisa mudar se quisermos cidades mais verdes e inclusivas”, conclui.
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